quarta-feira, 30 de maio de 2012

Quanto tempo... tem o tempo?


Reconheço que tenho andado um bocado afastado destas lides, pois a minha concentração tem-se focado mais nos problemas matemáticos e estatísticos que assolam a minha alma neste momento. Ainda assim, arranjei um tempo para escrever sobre... o tempo. Não do tempo que vai fazer amanhã, mas do outro tempo, aquele que muitas vezes nos falta, que passa depressa ou que se torna penoso demais.

Se há coisa que dou bastante valor, é ao tempo que dispomos. Na minha óptica, ele é bastante valioso, capaz de curar bastantes males que por aí andam neste mundo, mas por vezes, peca por escasso ou simplesmente o seu uso não é o mais eficiente. Desde cedo fui habituado a ter várias tarefas durante o dia, o que me obrigou a ter sentido de organização e de responsabilidade. Sim, eu sou viciado em organização e sou um bocado chato nesse aspecto. Para mim, as 24 horas do dia chegam perfeitamente para fazermos as nossas actividades, é uma questão de método e de organização. Sobretudo as mulheres sofrem com este mal, começam logo a ter suores e a bufar, olhando impacientes para o relógio. Os homens também têm destas coisas, mas não fazem disso o seu cavalo de batalha.

Quando estive pessoalmente com o Professor Marcelo Rebelo de Sousa, pensei: 'este homem não dorme, não come, não faz necessidades, não respira...', mas se repararem, ele faz tudo e mais alguma coisa, porque na sua essência, gosta daquilo que faz. E o pequeno grande pormenor é este mesmo: muitos de nós, caros leitores, não fazemos as coisas que mais gostamos. Ou porque está a chover, ou porque a namorada não deixa, ou porque... não há tempo. Mas parece-me que esta última desculpa não funciona lá muito bem. A verdade é que nos acomodámos, somos o povo fatalista do 'assim-assim', do 'cá se vai andando', e quando olhamos para a janela fora, vemos que perdemos o mundo lá fora. Porquê? Porque em vez de acrescentar vida aos nossos dias, acrescentamos tempo inutilizado. É por isso que muitos homens e mulheres, quando se deparam com os seus 30 e 40 anos, se lançam desenfreadamente nas pistas de dança das discotecas, nos ginásios e nos engates. Olham para o passado e vêem que perderam os melhores tempos das suas vidas com coisas que não mereciam tanta atenção, ou com pessoas que eram autênticas prisões.
Temos medo, muito medo, de tudo e de mais alguma coisa. Mas o maior medo é este: o de sermos felizes. E vamos deixando o tempo percorrer este imenso rio que é a vida, e quando dermos por nós, estaremos a desaguar no mar sem um pingo de felicidade no rosto.

Aprendi a valorizar o tempo e a respeitar as suas virtudes e defeitos. Tudo na vida é feito de ciclos e as pessoas têm que perceber de uma vez por todas que nada é eterno, para o bem e para o mal. O tempo resolve problemas sentimentais, traz-nos aquele amigo que já não víamos há anos, ajuda a desenvolver as nossas capacidades físicas e cognitivas, torna-nos numa pessoa útil à sociedade. Esta é a vertente da utilização óptima do tempo. Mas há quem o use simplesmente para fazer... nada. Quem sou eu para condenar essas pessoas? Se elas são felizes assim, ainda bem. Mas tenho pena delas, porque a vida é para ser vivida fora do nosso quintal e fora do nosso sofazinho com a seriezinha norte americana que nos faz chorar como se não houvesse amanhã.
O tio do meu Pai tem 86 anos. E tem um terreno de 100mX10m, onde planta as suas coisas. Todos os anos se queixa das ervas que crescem por esta altura da Primavera e das suas dores de costas. Pois bem, apesar deste discurso, ele acaba por pegar na sua enxada e vai depenando todas as ervas do seu terreno. Demora 4 ou 5 dias a fazê-lo, mas fá-lo (se pensavam que ia dizer 'fázio', então é melhor saírem deste blogue). E cada vez que passo por ele, vejo a personificação do tempo. Que apesar de todos os obstáculos da vida, da idade e das dores, o seu tempo é vivido de forma plena e preenchida, respeitando cuidadosamente os seus ciclos. E uma vez, apanhei este senhor de 86 anos a andar de bicicleta aqui na minha Vila, fazendo-me recordar uma das cenas finais do filme 'Finding Forrester', com o Sean Connery, o qual aconselho a todos.

Dou mais valor às pequenas coisas da vida, pois um dia preenchido capta muito do nosso tempo. Quando me apanho com mais disponibilidade, meto me ao sol, vou beber um copo com os amigos, vou jantar com eles, estou com os meus sobrinhos, vou correr, vou andar de BTT e escrevo uma palavras por aqui. O sentido da vida está em viver o tempo de forma construtiva, apostando na nossa valorização ou ajudando a sociedade nalgum aspecto.
Muitos continuarão a viver com medo, e a esses, o tempo nunca será favorável. Aqueles que encaram o dia a dia com optimismo e com vontade de superar obstáculos, o tempo se encarregará de os premiar, porque nós somos aquilo que damos aos outros.
Vou então regressar para os meus devaneios estatísticos, porque o tempo nunca pára. E talvez seja esta a sua melhor virtude.

'O  tempo chega sempre, mas há casos em que não chega a  tempo.' {Camilo Castelo Branco}

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