quarta-feira, 2 de maio de 2012

Venha tomar café com... Marcelo Rebelo de Sousa

Hoje o tema da minha crónica versa sobre a temática dos jovens e o futuro que podemos esperar em Portugal para os mais novos. No dia 30/04, decorreu o primeiro debate da iniciativa 'Venha tomar café com...', organizada conjuntamente com a Paróquia e a Junta de Freguesia de Pêro Pinheiro. O primeiro convidado foi o nosso bem conhecido Professor Marcelo Rebelo de Sousa, que conseguiu captar a atenção e o interesse da sala, com mais de 150 pessoas, durante três horas e meia de intenso debate.
Vou tentar elucidar de forma breve os pontos - chave do debate, que decorreu em estreita relação entre o nosso convidado e o público presente.

 {Debate com o Professor Marcelo Rebelo de Sousa}

0. Início - 21h15

1. Apresentação da iniciativa 'Venha tomar café com...' e do convidado, Professor Marcelo Rebelo de Sousa
- Esta iniciativa surgiu através de uma conversa informal com o Padre Avelino, pároco da freguesia de Pêro Pinheiro, pela altura da Festa de São Pedro, em Junho de 2011. Porque não criar um grupo de jovens, que debatesse os problemas da sociedade directamente com personalidades bem conhecidas do nosso dia - a - dia? A ideia central é avançar nesse sentido, sendo que este foi o primeiro debate.

2. Introdução/Enquadramento
- O Professor fez uso da sua palavra e optou por fazer um enquadramento geral da História de Portugal. O nosso país está efectivamente em crise desde a sua criação, senão vejamos: D. Afonso Henriques bateu na mãe e criou Portugal, existiu a crise de sucessão no período 1383-1385 (dinastia de Avis), fomos governados por Espanhóis (dinastia Filipina), houve um terramoto em 1755, os franceses invadiram-nos no início do século XIX, o rei fugiu para o Brasil, houve uma guerra civil entre irmãos, o Rei D. Carlos foi assassinado, a monarquia acabou dando lugar a um governo republicano em 1910, explodiu a 1ª Guerra Mundial, começou o Estado Novo, surgiu a 2ª Guerra Mundial, a Guerra Colonial, o 25 de Abril e sofremos as intervenções do FMI... e com a presença da Catarina Furtado, Bárbara Guimarães, Júlia Pinheiro, Fátima Lopes e Cristina Ferreira na televisão, sendo este último ponto o mais preocupante (ironia...). Mas como podemos observar, Portugal andou sempre em crise e parece que assim vai continuar até ao fim do Mundo. O que difere é a intensidade e a profundidade dos problemas gerados por uma crise económica e financeira, mas também de valores.

3. Público (Bruno Carvalho, professor)
- Nesta intervenção, falou-se das oportunidades que os jovens podem esperar em Portugal, do futuro da família e dos desafios no ensino. Este último ponto foi bastante discutido, pois o 'modus operandi' do ensino que era praticado em 1970 é completamente diferente daquele que temos hoje, em 2012. Os professores já têm alguma dificuldade em acompanhar as dúvidas dos alunos, pois estes têm um acesso tremendo à informação, sobretudo através da internet. Falou-se das alterações de raciocínio, pois há 40 anos, os alunos acompanhavam mais facilmente um raciocínio abstracto, sendo que hoje estamos num patamar mais objectivo e imediato, porque temos acesso a inúmeras imagens, tendo o nosso raciocínio se tornado mais visual. A substituição dos 'Qs' pelos 'Ks', uma nova forma de comunicar com o mundo.
Discutiu-se também a temática da meritocracia, do trabalho árduo e evolutivo que um aluno deve fazer.

4. Público (Directora/Assistente no IPO)
- Uma intervenção bastante pertinente, onde se discutiu a valorização do trabalho na juventude. Esta mãe colocou o seu filho de 13 anos a trabalhar nas férias da Páscoa. Falou-se abertamente dos benefícios desta prática, pois permite aos mais jovens adquirir conhecimentos sobre o mercado de trabalho, bem como da responsabilização e dedicação que devemos aplicar em cada emprego que possuímos ao longo da vida. A minha primeira experiência deste tipo foi aos 17 anos e sinto-me bastante grato, pois aprendi imenso e acima de tudo, aprendi a comunicar com os outros de uma forma mais ampla e aberta. Aprender a comunicar, saber estar e ter uma cultura de responsabilização são as ideias fundamentais que ficaram retidas neste ponto do debate.

5. Público (deputado pelo MPT na CMS)
- Foi abordada a questão do elitismo e das figuras de referência para a juventude, nos dias que correm. Como sabemos, os jovens são influenciados pelos 'opinion makers', nomeadamente cantores, actores, desportistas e até políticos. Falou-se na capacidade da igreja em criar condições para reunir os jovens e traçar um rumo para as suas vidas, ponto de vista defendido pelo Professor. Este deputado do MPT defendeu ainda o regresso à vida rural (neo-ruralidade, fantástico conceito!), como uma forma de obter uma maior qualidade de vida. O Professor concordou com o que se disse, e ficámos a saber que também ele tem uma forte ligação à terra, pois é presidente da Fundação Casa de Bragança, que possui vários terrenos para plantação e para animais.
De facto, estar ligado à terra confere-nos uma sensação de paz interior e de aproveitamento do tempo, pois na agricultura as coisas têm um ciclo definido, desde semear, tratar e colher os frutos e vegetais que a terra nos dá. Será por este facto que o meu Pai não se cansa de plantar cebolas, alfaces, couves, feijão verde, abóboras...!

6. Público (Luís Corredoura, arquitecto e como podem ver pelo nome, meu irmão)
- Porque não reabilitar os prédios devolutos na cidade de Lisboa, se existem centenas de arquitectos no desemprego? Porque não retirar os ministérios do Terreiro do Paço e colocar universidades no seu lugar, com a capacidade de auto-regenerar a Baixa lisboeta? Foram estas as questões levantadas ao Professor, no âmbito da reabilitação do património edificado. Na realidade, concordo com o sentido destas perguntas, pois o mercado imobiliário e o sector da construção necessitam de sérias reformas, com uma aposta urgente na reabilitação de imóveis nas grandes cidades e no fomento do arrendamento, sobretudo para os mais jovens.
A maior parte dos imóveis devolutos em Lisboa pertence à Santa Casa da Misericórdia de freguesias ou de concelhos pequenos e sem recursos para recuperar as infraestruturas. É urgente que se faça algo neste campo, para evitar situações menos agradáveis, como desabamentos e fogos neste tipo de edifícios.

7. Público (mais um jovem arquitecto)
- Fez-se referência ao Miguel Gonçalves, aquele jovem empreendedor que ficou conhecido no programa Prós & Contras da RTP1 (aconselho a verem os vídeos no Youtube). Colocou-se a questão do risco em avançar com um negócio próprio e das consequências para os jovens que sigam esse caminho. O Professor fez questão de lembrar que não existem empregos para a vida, no contexto actual. Até à idade da reforma, vamos ter várias actividades, nos mais variados sectores da economia e devemos estar consciencializados desse facto. Saber sair da zona de conforto é essencial para atingir o sucesso, mais isso não basta. Temos que ser flexíveis, dinâmicos e pro-activos, não ficando à espera que as coisas caiam do céu, como chuva para terra seca. 
O português é alérgico a mudanças e sair do quente do cobertor é algo que lhe mete confusão. Ou porque está a chover, ou porque faz vento, ou porque está frio, ou porque joga o Benfica. Como não existem almoços grátis, temos que fazer pela vida e trabalhar é a solução. Desligar a televisão, arregaçar as mangas com audácia e sermos bons naquilo que fazemos. Achar uma vocação não é fácil, mas só a vamos descobrir se sairmos debaixo do cobertor.

8. Público (Carlos Portela, mais um arquitecto. Já só vejo arquitectos à minha frente)
- Mais um arquitecto, desta vez a colocar a questão da internacionalização das PME's, no seu caso específico para os PALOP. É complicado proceder à internacionalização das nossas empresas para países com graves carências técnicas e humanas, como a Guiné-Bissau ou Angola. As embaixadas portuguesas parecem não saber como agir nestas situações, deixando os nossos empresários ao sabor do vento... e dos subornos, que são o pão nosso de cada dia por aquelas paragens. Para se proceder à internacionalização, bem como à emigração, devemos ter o máximo de informação sobre o destino em causa, para não sermos surpreendidos por situações menos bonitas. Oportunidades de emprego, a cultura do país, alojamento e condições contratuais são fundamentais na hora de negociar, e convém sempre ter um olho no burro e outro no cigano para não sermos enganados ou até mesmo expulsos do país em causa.

9. Público (Jurista, ex-aluna do Professor)
- A questão colocada prendeu-se sobretudo com o tema central deste debate, o futuro dos jovens. O Professor fez menção a pequenos pormenores referidos ao longo do debate, como a flexibilidade laboral, formação, o papel da comunicação e a maturidade na tomada de decisão.

10.  Oração
- No final, rezámos todos um Avé Maria, mas eu não consegui abrir a boca, porque não sei rezar e nunca fui tentado para tal. Mas respeito quem professa uma religião e acredito que existe algo superior que olha por nós.

Como podem constatar, o meu texto já conta com umas dezenas de linhas, reflexo das 3h30 de debate! Algumas pessoas não resistiram, mas a maioria permaneceu na sala de forma compenetrada, a ouvir as ideias do Professor. Os moderadores pouco conseguiram falar, fruto do discurso fluído do Professor, que não deixava margem para grandes interpelações. Algo a ter em conta nos próximos debates.
Revi-me muito nas suas palavras e cheguei mesmo a pensar que o Professor me estava a ler os pensamentos. O facto dos jovens não falarem abertamente com os pais sobre vários temas despertou-me a atenção. E até deu o exemplo de uma aluna sua que guardava em silêncio uma doença grave, sem os pais saberem. Temos medo, somos egoístas e não queremos saber dos outros. Vivemos na nossa bolha e temos palas na cabeça que não nos permitem olhar mais além.

Outro ponto ponto essencial do debate, e que para mim foi o mais importante, passou pela ideia de nos sabermos localizar no tempo e no espaço, e perceber que tudo na vida é feito de ciclos. É importante saber parar, reflectir e decidir o caminho que devemos tomar. Nos próximos dias vou anunciar aqui no blogue uma decisão importante que tomei na minha vida, porque achei que era tempo de parar e de seguir um outro rumo. E as palavras que ouvi da boca do Professor Marcelo Rebelo de Sousa só vieram dar ênfase à minha decisão. Estejam atentos!

Para terminar, porque já devem estar enfadados e com dor nos dedos de tanto rodar o cursor do rato, deixo um apelo a todos os jovens, que tal como eu, lutam pelo seu futuro. Temos que ser audazes, dinâmicos, flexíveis, comunicativos, empreendedores, e acima de tudo, ambiciosos. Mas não devemos pisar e passar por cima das pessoas, pois cada uma tem a sua dignidade. Sozinhos nunca iremos a lado algum, porque o orgulhoso prefere perder-se em vez de perguntar qual é o caminho. E talvez a criação de um grupo de jovens onde se possa debater os problemas da sociedade possa ser um pequeno passo, mas decisivo, para mudar mentalidades e lutarmos por um amanhã menos nebuloso.

Porque a mudança faz-se de pequenas mudanças. {Marcelo Rebelo de Sousa}

Boas leituras,
GC

1 comentário:

  1. Nice!

    Bora lá com o grupo de jovens :)


    (no tópico 10 fiz pandan contigo lol)

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