segunda-feira, 29 de julho de 2013

Um Verão Lusitano

{Alentejo}

Após mais uma pausa na escrita, imposta pelo ritmo frenético do trabalho ou simplesmente alimentada por uma preguiça patológica, regresso com algumas palavras. Umas mais bonitas do que outras, mas não se pode agradar nem a gregos nem a troianos. Além do mais, o título desta crónica bem que podia ser o nome dum filme pornográfico dos anos 80, mas acabou por se traduzir nos parágrafos que se seguem.

Chegou o Verão. Aliás, começou a Silly Season. Nesta altura do ano, reabrem as melhores discotecas e bares do Algarve, o país ruma todo a Sul, esquecendo por momentos as tragédias e desgraças que assolam o dia-a-dia lusitano.
As redes sociais ficam inundadas de músicas românticas, de fotografias com pezinhos entrelaçados na areia (alguns pés são mesmo feios, diga-se de passagem), fotografias de passeios por esse Mundo fora, fotografias de festas, fotografias de tudo e de nada.
É também nesta altura do ano que se assiste a um grande volume de relações conjugais terminadas. O calor chama muitas melgas, o Sol faz mal à cabeça e as noites quentes convidam a facadas nas costas. 
Os meios de comunicação social incendeiam ainda mais a enorme fogueira que é o Verão português, com programas totalmente ridículos, manchetes de faca e alguidar e notícias que afinal não são notícias. Já para não falar dos incêndios e das microalgas.

O Verão português é um assunto bastante sério, pois há famílias que programam as suas férias com afinco e como recompensa do seu esforço ao longo do ano. É certo que nem todas as pessoas podem usufruir de férias fora da sua área de residência, pois a economia ainda se encontra de rastos. Mas aos poucos, vamos constatando que o português alterou o seu comportamento. Tornou-se mais racional. Vemos parques de campismo cheios, o turismo rural está a ganhar quota de mercado, as praias fluviais ganharam um novo protagonismo. O Zé Tuga, com o seu bigode farfalhudo, prefere sair da sua zona de residência, gastando menos do que no passado. Nem que isso implique almoçar e jantar massada de atum, cavala enlatada, salsichas com ovos e salada russa. E para acompanhar, uma garrafa de Mundus ou Porta da Ravessa.

A crise económica, a meu ver, veio redimensionar as expectativas e as ambições dos portugueses. Não podemos gastar mais do que aquilo que ganhamos. E isso implicar passar as férias em casa, tudo bem. Vai-se à praia a Magoito, à Ericeira, podemos dar um saltinho à linha de Cascais. Vamos ao cinema. Podemos comer uns scones estupendos em Sintra e aproveitar para visitar a Regaleira, Mouros e a Pena. E mais, trazer uma caixa de travesseiros e de queijadas para casa. 
A verdadeira essência do Verão Lusitano está na expansão da alma, da visão e dos sentidos. Portugal não é apenas o Algarve.
Vamos a Viana do Castelo ver os festejos da Nossa Senhora da Agonia, com aquele cortejo carregado de meninas bonitas cheias de ouro. E podemos ir comer um arroz de cabidela a Santa Marta de Portuzelo.
Vamos ao Porto, comer uma francesinha e beber uns finos. Passear junto ao cais de Gaia e conhecer as Caves dos vinhos. Visitar Serralves e o Parque da Cidade. E pelo meio, podemos ir às praias da Póvoa e de Vila do Conde. Já para não falar da vida nocturna...
Vamos a Óbidos, enfardar ginjas e petiscos medievais como se não houvesse amanhã. 
Vamos ao Alentejo, visitar as suas barragens e paisagens indescritíveis. Comer doces conventuais, gaspachos, ensopados, migas. Beber os vinhos de Reguengos, Estremoz e Borba. Acordar de ressaca, mas feliz da vida.
Vamos à Arrábida e a Tróia dar um mergulho.
Vamos ao Nordeste de Portugal. Vamos à Guarda, a Almeida, a Figueira de Castelo Rodrigo, onde somos sempre bem recebidos pelas suas gentes e onde podemos sentir o Portugal mais profundo que pode existir.
Vamos à Madeira e aos Açores, conhecer as suas gentes e as maravilhas naturais.

No fundo, deixemo-nos ir. Podemos apanhar o comboio, ir de autocarro, convidar amigos e dividir as despesas... sempre com a vontade de conhecer um pouco mais do nosso país.
O meu Verão passa pelas terras quentes do Algarve, um pouco de calor alentejano, mais um pouco de nevoeiro e vento nas praias de Sintra e Mafra (chapéus de sol na água e areia em todos os orifícios). E como se não bastasse, tenho um enorme prazer de ir às festinhas regionais, juntando os meus amigos nessas aventuras. As noites longas, com jantares intermináveis, geralmente são regadas com muita cerveja e vinho. As manhãs são dolorosas, as tardes são para hidratação e as noites são o culminar das frustrações acumuladas ao longo do ano.
Temos que aproveitar o melhor que este pequeno país tem para nos oferecer. Quem quiser, pode escolher outros destinos no estrangeiro. Mas o turismo interno tem vindo a ganhar um novo fôlego, pois tivemos que ajustar os nossos hábitos.

Sejam acima de tudo felizes nestas férias de Verão. Não se vitimizem, não se fechem em casa a ver programas de televisão deprimentes, não cortem os pulsos. O Sol ainda é grátis, bem como a praia. O resto vem por acréscimo, nomeadamente aqueles amigos que nos invadem a casa e que destroem o nosso frigorífico sem piedade.
Agarrem naquele livro que andam para ler há séculos e deixem-se levar pela história. A história de mais um Verão neste nosso Portugal. Com protector solar, se faz favor.

"Eu gosto desta terra. Nós somos feios, pequenos, estúpidos, mas eu gosto disto." {António Lobo Antunes}

Boas leituras,
GC


quarta-feira, 1 de maio de 2013

As Encruzilhadas da Vida


Interrompo o meu longo silêncio porque me deu este bichinho para voltar a escrever algumas palavras. O tempo não tem sido muito meu amigo nos últimos meses, mas hoje a vontade de me expressar falou mais alto.

Apesar de não saber bem o que escrever, lanço-me ao sabor do vento. Pode ser que as palavras surjam mais facilmente.
Os últimos meses não têm sido fáceis. Nada fáceis. Muito trabalho, poucas horas de descanso, stress atrás de stress, pouca paciência e vontade de mandar tudo pelos ares. Mesmo assim, posso dizer que no último ano cresci como pessoa. A entrada no mercado de trabalho foi e está a ser um teste de fogo, sobretudo numa área bastante desgastante e absorvente. Já sabia para onde ia e foi uma escolha ponderada, sem medos. O fundamental nesta fase da nossa vida passa por adquirir conhecimentos, fazer contactos e tentar juntar uns trocos. 
Reparamos que estamos mais independentes, pois temos o nosso dinheiro e respondemos perante as nossas responsabilidades e acções. Cada dia é uma prova diferente, com vários obstáculos e quebra-cabeças constantes.

Construir o nosso futuro não é uma tarefa que se faça de um dia para o outro. Sobretudo nesta fase crítica que Portugal atravessa. Ligamos a televisão ou a rádio e as notícias são desmotivantes, fazendo-nos pensar se vale mesmo a pena continuar a perseguir os nossos sonhos. Eu acredito que vale a pena. Há muito tempo que digo que o caminho a seguir passa por mais educação, mais valorização do capital humano, mais justiça social, pensar mais nos deveres no que nos direitos. Se calhar o mal é esse mesmo: pensar demasiado nos direitos, esquecendo que todos nós temos deveres por cumprir. Votar, pagar impostos, contribuir para o desenvolvimento económico e social do país. Podem-me chamar de fascista, de falar com a barriga cheia, de não conhecer a realidade do país. Pois bem, se calhar se deixássemos de pagar os Rendimentos Sociais de Inserção aos bêbedos, drogados, putas e ladrões para aumentarmos as pensões de quem realmente precisa, ou para incentivar a natalidade, talvez fossemos um país melhor. Isto também serve para os 'imigrantes' que andam por aí, sem trabalho, a pedir nas ruas e muitas vezes, a roubar o que é nosso. Pois bem, nada como metê-los num voo e enviá-los para as suas pátrias amadas, Roménias, Bulgárias, Moldávias, etc.
O que nos falta é 'tomates'. Não estou a falar daqueles demasiado maduros, que servem para fazer salada. Estou a falar dos outros.

Vivemos num Portugal com várias realidades diferentes. A realidade dos mais jovens não é fácil, face ao elevado desemprego, com poucas perspectivas de melhoria.
No meio disto tudo, vejo que sou uma pessoa com sorte. Mas a sorte trabalha-se. 
Sem dúvida que os últimos meses têm sido uma lição de humildade e de responsabilidade, mas só consigo avançar nesta encruzilhada que é a vida porque tenho os melhores ao meu lado. Chateio-me com facilidade, ando sob stress, pareço distante e muitas vezes volto à arrogância do antigamente. Mas depois vejo que o essencial é mesmo invisível aos olhos: o amor e o respeito que nos têm, o respeito e o amor que temos pelos outros. Isto parece demasiado sentimentalista. Se calhar é, mas é a minha verdade. Tenho uma família sem igual, que continua a crescer e que luta pelos seus objectivos. Tenho amigos que me chamam a atenção e que me criticam pelas minhas palavras e acções, porque na verdade se preocupam comigo. Tenho o respeito de muita gente. Não posso ter razões de queixa da minha vida.
Mas cá dentro tenho um pequeno aperto, que me faz questionar vezes sem conta se o rumo que levo será o mais correcto. Poderá ainda não ser, mais um dia será. Fazer aquilo que realmente me realiza: acrescentar valor aos outros e melhorar as suas perspectivas sobre a vida. 

Já sei a razão destas minhas palavras. A vida é uma estrada que é feita de altos e baixos, de pisos inconstantes, de jornadas longas e de momentos duros. Mas a essência da vida não está no ponto de chegada mas sim no caminho que fazemos até esse ponto. À medida que percorremos o nosso caminho, somos confrontados com muitas encruzilhadas. Somos forçados a escolher, a sofrer, a errar, a voltar a tentar e a seguir em frente. Levo comigo todos aqueles que estão ao meu lado, que só têm de mim aquilo que cativaram. Tudo o resto ficará para trás. Não podemos ter medo de assumir as nossas escolhas, porque o passado foi lá atrás e o presente está aqui e agora para ser vivido, sendo que esperamos sempre o amanhã.
A mudança é a coisa mais bonita da vida, mas continuamos a percorrer o caminho da escuridão e do descontentamento. É por estas e por outras que não passamos da cepa torta: sair da zona de conforto? Está quieto.
Mas a mim ensinaram-me uma coisa valiosa: a vida só se constrói com acção, sofrimento, coragem e dedicação. E sorte, mas esta é resultado das anteriores. E com tomates. 
Mãos à obra, que temos muitas encruzilhadas pela frente.

"Viver é a coisa mais rara do mundo - a maioria das pessoas apenas existe." {Oscar Wilde}

Boas leituras,
GC

 

segunda-feira, 11 de março de 2013

Pêro Pinheiro: 25 anos de Luta



Dois anos antes de eu nascer, a freguesia de Pêro Pinheiro já tinha sido constituída, fruto de uma grande ambição coletiva, que se traduziu numa luta suada, penosa, mas que no final teve o seu reconhecimento merecido.
Cresci nesta terra, onde fiz amigos para a vida, onde vivi grandes emoções e desilusões, onde sobretudo aprendi a respeitar os outros e a mim mesmo. No fundo, cresci com Pêro Pinheiro a meu lado e o meu sangue a esta terra pertence.

Naturalmente, a nossa freguesia sofreu grandes alterações nos 25 anos que se passaram entretanto desde a sua criação. Houve um grande investimento em infraestruturas básicas para a população, no sentido de garantir a utilidade pública e o apoio necessário às atividades económicas, sociais e culturais. Mas a nossa História não se resume a estes factos.
Pêro Pinheiro é a Capital do Mármore, sendo esta a sua principal marca de referência. A nossa identidade está espalhada pelas ruas de Lisboa, nos conventos e palácios de séculos passados, em lugares tão distantes como os Estados Unidos ou a Alemanha. Em cada bloco de pedra há uma história para contar, mas são as nossas pessoas que têm o dom de criar algo tão diferente e valorizado pelo país e mundo fora. O grande património da nossa freguesia não são esses blocos retirados das entranhas da terra nem as infraestruturas construídas: são as pessoas.

Como todos sabemos, Portugal atravessa uma grave situação económico-financeira, que gerou um impacto profundo na indústria da transformação dos mármores e granitos. Cada empresa que fecha representa uma farpa no coração de todos nós. O flagelo do desemprego e da discriminação social cresceu de forma galopante no nosso país, e a freguesia de Pêro Pinheiro não é exceção. Mas temos que ver para além dos problemas. A verdadeira solução para reverter as carências originadas pela crise está na união entre as pessoas e as coletividades da freguesia. Quer seja através do desporto, da música, da igreja, da solidariedade social, basta dar o primeiro passo para que muitos possam impulsionar as suas vidas.

O grande problema dos nossos fregueses ainda reside na inércia e na incapacidade de saírem da sua zona de conforto. Temos que pensar ‘out of the box’ (fora da caixinha), sair da nossa bolha e fazer algo de útil pela comunidade. Não devemos perguntar ‘o que Pêro Pinheiro pode fazer por nós’, mas sim, ‘o que nós podemos fazer por Pêro Pinheiro’. Nos meus 22 anos de vida, já representei duas coletividades da freguesia e participei noutras iniciativas locais. E ainda espero fazer mais e melhor. Posso dizer que acrescentei um grande valor à minha vida, pois conheci novas realidades dentro da minha própria freguesia, mas o mais importante foi ouvir as pessoas e as suas histórias. Aprendi sobretudo a respeitar os mais velhos e a valorizar o esforço individual de cada um.

Os jovens como eu devem perceber que há todo um mundo cá fora para ser descoberto, a começar pela nossa freguesia. A iniciativa não deve ser exclusivamente tomada pelos mais novos, mas também pelos pais ou encarregados de educação. As coletividades podem e devem captar este capital humano, para que a nossa Freguesia e vila se possa revitalizar. Só desta forma é que podemos criar relações sólidas e benéficas entre todos os intervenientes.

Ser jovem em Pêro Pinheiro é uma pequena batalha diária. As incertezas em relação ao futuro são muitas, sobretudo se estivermos a falar em perspetivas de emprego. Face à instabilidade sentida, a nossa Junta de Freguesia deve assumir um papel proactivo e tentar ajudar os mais novos a encontrarem um caminho certo, aproximando-os um pouco mais das suas expectativas e ambições. A chave para garantirmos a sustentabilidade económica e social da nossa freguesia está na formação (escolar, entenda-se) e na vontade de investir no nosso tecido empresarial. Aliando o capital humano à vontade e à irreverência, penso que os jovens de Pêro Pinheiro poderão fazer algo de significativo pela nossa Vila. Mas os jovens também não se podem esquecer que são parte integrante da solução, pelo que devem exercer de forma plena o seu direito de voto quando são chamados às urnas. O apelo à mudança deve ser feito com uma caneta e um boletim de voto e não com uma pedra de calçada na mão.

Hoje em dia, sinto um enorme orgulho por ser parte integrante da nossa Freguesia, pois levo comigo todas as pessoas e todos os lugares de Pêro Pinheiro. Quando me perguntam ‘de onde és?’, nunca respondo ‘Lisboa’ ou ‘Sintra’. Digo simplesmente ‘Pêro Pinheiro’. Não devemos sentir vergonha de o dizer, pois há 25 anos atrás houve um conjunto de pessoas que lutaram incessantemente para que a sua localidade aparecesse no Bilhete de Identidade, na carta de condução, nas certidões de nascimento dos seus filhos e netos, simplesmente como ‘Pêro Pinheiro’. A essas pessoas, devemos todo o legado que existe na nossa Freguesia. E como jovem, sinto o dever de respeitar esse legado e tenho a ambição de fazê-lo crescer.

Se valeu a pena termos chegado aqui? 'Tudo vale a pena quando a alma não é pequena'... e é nesta alma das pessoas de Pêro Pinheiro que está o segredo para a preservação do património edificado e imaterial. A nossa alma é também a força motriz para a construção de um futuro sustentável para todos os jovens e fregueses. Ainda há um longo caminho a percorrer, mas juntos seremos mais fortes. Que venham mais 25!

GC