segunda-feira, 4 de junho de 2012

Questões de Perspectiva

{Não será tudo uma questão de perspectiva?}


Chegámos ao mês de Junho. Verão, sol, calor, praia, jantares, amigos, diversão... e o começo da Silly Season. É aquela altura do ano em que as revistas se enchem de pessoas sociais altamente bronzeadas, em que as televisões fazem programas no exterior e onde o povo parece esquecer todos os males que o assola. Ou quase, porque para mim, Portugal está em Silly Season durante o ano inteiro.

Entristece-me a qualidade do nosso jornalismo. Não quero de forma alguma denegrir esta nobre profissão, e da qual tenho pessoas conhecidas a tirar o referido curso. Mas há algo que está azedo, e não é a sopa. Passo a explicar. As pessoas são inundadas todos os dias com notícias deprimentes, atrozes e sem o mínimo de interesse. Somos constantemente bombardeados com a taxa de desemprego, com as casas que são devolvidas aos bancos, com as famílias que pedem ajuda ao Banco Alimentar, com os assassinatos de irmãos por causa de heranças... Chega. Basta. É por isso que oiço cada vez mais rádio, pois não há a mensagem interpretativa que uma imagem nos pode passar. Não sei se isto é bom ou mau, mas prefiro sinceramente seguir as notícias pela rádio e internet.
A meu ver, já não tenho pachorra para o tempo de antena dedicado à selecção nacional, devido à participação no Euro2012. Chegámos ao cúmulo de ter o roupeiro da selecção (não é, mas podia ser) a fazer entrevistas a todos os jogadores. Falo do Daniel Oliveira, aquele gajo da Sic que faz a pergunta fatal: 'o que dizem os teus olhos?'. Os meus olhos dizem-me para desligar a televisão e ir fazer qualquer coisa de útil para a Humanidade e para Portugal.

O que é que me interessa saber se o Hugo Viana veste cuecas cor de rosa, se o Raul Meireles tem 134 tatuagens e uma cama que sai do tecto do quarto, se o Paulo Bento tem traumas de infância com penteados, se o Cristiano Ronaldo pinta as unhas ou se o Ricardo Quaresma vai para a feira da Malveira vender meias? Pior ainda, o que é que me interessa saber o que fazem as mães e as mulheres dos jogadores da selecção nacional? A resposta óbvia: vive tudo à mama.
É claro que fico chateado, como diz o outro. O povo, o Zé Povinho português, aquele mesmo povo que deu novos Mundos ao Mundo, que conseguiu instaurar uma República em 1910 e que fez uma revolução com cravos nas espingardas, assiste a esta dormência impávido e sereno. Caro leitor, o que é que me interessa ver a descolagem do avião da selecção para a Polónia, em directo na RTP? O que é me interessa saber se um casal de funcionários públicos já não vai passar férias ao Algarve este ano, por ter os salários congelados? Meus caros, o real drama pode estar na porta do lado, nos vossos vizinhos, que perderam o emprego, que têm contas para pagar e filhos para sustentar. Mas chega de fatalismos. É por isso que desliguei a televisão, estou farto de novelas e de apresentadores aos berros.

Existem mil e uma razões para acreditar que Portugal é um país com tremendo potencial. Ele está cá, mas nós é que ainda não sabemos. Porque não se fala dos atletas paraolímpicos que ganham medalhas lá fora? Porque não se fala das modalidades que trazem honras ao país, como o judo ou o remo? Porque não se fala das empresas exportadoras, que tentam todos os dias credibilizar o nome de Portugal pelo Mundo? Porque não se fala das IPSS e do tremendo esforço que fazem para levantar o ânimo de quem mais precisa? Porque não se fala dos empreendimentos de sucesso na área do turismo? Estão a perceber a coisa? Não, só o Judas Moutinho e o amor do Pepe por Portugal é que interessam.
A taxa de desemprego jovem assusta-me. Mas o que me assusta ainda mais é a inércia das pessoas. Deixam-se andar só porque sim, na expectativa que o dia de amanhã traga alguma coisa de melhor. Mas há que perceber que o Mundo é um lugar extremamente competitivo, onde esperar que chova num deserto é meia sentença de morte. Para de te queixar e faz alguma coisa. Valoriza-te. Erra, volta a tentar e segue em frente. A essência está aqui.

Por mais palavras que escreva, o nevoeiro que paira sobre as nossas cabeças nunca irá desvanecer. Somos os poetas fatalistas da Europa, cortadores de pulsos por excelência, os senhores e senhoras de frases feitas. Eu acredito no lado positivo das coisas, pois a vida é uma estrada imensa que nos permite escolher as saídas e entradas que pretendemos. Não me venham com os 'ses' e os 'mas'... a vida é mesmo para ser vivida. E eu prefiro acrescentar-lhe valor aproveitando os pequenos prazeres. E desligando a televisão.
Compete às pessoas saírem deste marasmo, desta pequenez que é feita por nós mesmos, do 'coitadinho' e do 'deixar para amanhã o que se pode fazer hoje'.

Sinto-me inconformado, e inconformado sentir-me-ei para sempre. Mas esta boca e estes dedos não se refugiam na escuridão. Talvez alguém se reveja nestas palavras e essa é a minha principal vitória. Fazer ver a vida com outros olhos, nem que seja por 14 segundos.

E não se esqueçam: mexam-se, sintam-se vivos, errem, sigam em frente e façam melhor. Como diz a música dos Silence4... 'I guess i'll try again tomorrow'.

Boas leituras,
GC

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