sábado, 22 de dezembro de 2012

2012: A Mudança


Chegou a hora de fazer o balanço do ano de 2012. Esta crónica é um misto de desabafos, constatações e desejos para o futuro, que decidi expressar da forma mais sincera e frontal. Embarquem na brisa destas palavras e deixem-se levar.

No dia 31 de Dezembro de 2011, tinha a perfeita noção que 2012 ia ser o ano do 'tudo ou nada'. A minha vida podia alterar-se radicalmente ou ficar congelada pelo fracasso. Sabendo de antemão que o caminho não era fácil, não baixei a cabeça e calcei uns ténis para percorrer uma estrada feita de altos e baixos, com partes frias e nebulosas, mas também com momentos amenos e agradáveis.

O primeiro grande acontecimento de 2012 foi o meu abandono do futebol. E posso-vos dizer que foi a decisão mais difícil da minha vida. Quem me conhece verdadeiramente, sabe dos sacrifícios que fiz e do empenho que coloquei ao longo de 9 anos. Mas este ano foi particularmente complicado, não só por estar num plantel sénior, mas também por estar num clube completamente novo para mim. A sorte esteve do meu lado. Mas a sorte trabalha-se. Dediquei-me a fundo ao Alcainça AC e trouxe de lá grandes amigos, dentro e fora das quatro linhas e das paredes do clube. Porque as pessoas têm muito mais para contar do que histórias de golos no último minuto ou de vitórias suadas. As pessoas têm histórias de vida, e quando tu queres investir nem que seja 5 minutos nessa pessoa, tudo muda.
Sinto falta do balneário, do sabor das vitórias, do vento e da chuva a baterem-me na cara, do espírito de grupo, dos sacrifícios invisíveis que fazemos. Mas no fundo, estes 9 anos ao serviço do futebol foram uma grande escola de vida. Pelas derrotas, injustiças e momentos menos felizes, mas sobretudo pelas vitórias suadas. E levo comigo todos aqueles que me fizeram crescer. A eles, um profundo obrigado.

O segundo acontecimento marcante do ano foi a finalização da minha licenciatura em Finanças e Contabilidade, no ISCTE-IUL. Fiquei mais um ano na faculdade para terminar 3 cadeiras em atraso, todas da área da Matemática. Mudei o meu 'mind-set' e enfrentei o Touro de caras. Investi mais tempo no estudo, esforcei-me para perceber as matérias em questão e responsabilizei-me pelo pagamento das minhas propinas. E na altura, estava prestes a assinar um contrato de trabalho. Em Junho, veio o reconhecimento final. Porque as barreiras são feitas para serem ultrapassadas, por cima ou por baixo, e desta vez, quis passar bem por cima. Foram 4 anos marcantes na minha vida, onde conheci pessoas das mais variadas confissões, orientações políticas, com diferentes perspectivas sobre a vida... e aprendi a respeitar as suas opções e pensamentos. Porque hoje em dia, o respeito está em desuso, mas eu faço questão de o utilizar. Um grande obrigado a todos aqueles que conviveram comigo e que levaram consigo um pouco de mim. Eu também levei comigo algo que não é possível quantificar: a amizade.

Depois chegou o Verão. Tinha a perfeita noção de que muito provavelmente seriam as minhas últimas grandes férias. Decidi fazer parte da Comissão de Festas da Freguesia e Paróquia de Pêro Pinheiro, só naquela de 'vamos lá então saber como é a sensação de organizar uma festa... e de calar muita gentalha que por aí anda'. Vesti o fato de macaco, trabalhei durante 10 dias em prol da minha terra e não cobrei um centavo. Porque só assim fez sentido. A minha recompensa foram os momentos inacreditáveis que passei antes e durante a festa. Sobretudo porque arrastei comigo os meus melhores amigos. Queria lá saber das dores nas pernas, nas costas, do cansaço, do cheiro a sardinhas e a cerveja, das poucas horas de sono... no fundo, o que eu queria ver era a satisfação na cara das pessoas por Pêro Pinheiro ter tido uma festa a condizer com a sua reputação.
Também não me vou esquecer da missa que foi feita em honra dos recém-licenciados. Sobretudo pela minha Mãe e pelo meu padrinho (o meu irmão Luís). Pela primeira vez em 22 anos da minha vida, vi uma ponta de orgulho na minha família por algo que eu tivesse feito. Porque nesta altura da minha vida, eu já não sou o puto mais novo, inconsciente e com um ar semi-rebelde e ressabiado. Para alguns da 'família', continuo a ser esse menino. Mas eu não faço disso o meu cavalo de batalha. Segui em frente.
Obrigado Nuno e David, que estiveram ao meu lado naquele momento tão simbólico.

Os restantes meses de Verão foram passados nas festas e romarias regionais. Todas e mais algumas. Rever velhos amigos, por a conversa em dia e ver bons concertos. Obviamente que a parte das ginjas e da cerveja na mão não poderia ser esquecida...
Muitos dias de praia, no Algarve ou aqui na zona de Sintra/Mafra, descanso e lazer. Que mais pode um homem pedir?

Em Setembro, chegou talvez o momento mais importante da minha vida. A entrada no mercado de trabalho. Tudo o que fizeste lá atrás, esquece. Tens que mostrar serviço, empenho e vontade de aprender se quiseres ser recompensado. Passas a trabalhar com pessoas novas, com métodos de trabalho muito variados e com diferentes níveis de desempenho. Depois, tens dois tipos de pessoas com quem trabalhas: aquelas pessoas arrogantes e de nariz empinado, que não te explicam as coisas e que perdem tempo contigo. E tens as pessoas que investem tempo contigo, que se sentam ao teu lado e tiram as tuas dúvidas e que se preocupam com o teu trabalho.
Até ao momento, está a ser uma experiência exigente, mas tenho mais razões para acreditar no lado positivo do que no lado negativo.
Basta continuar a trabalhar e dar o melhor.

No fundo, 2012 foi um ano de grande aprendizagem e crescimento. Aprendi que não tenho tempo para dramas e para questões superficiais. Aprendi a preocupar-me mais comigo. Aprendi que crescer custa, e muito, mas vale a pena pela experiência. Aprendi a dar valor a quem me dá valor. Aprendi a responsabilizar-me pelas minhas palavras e actos. Aprendi que nos dias menos felizes, devemos sempre partir em busca do amanhã, porque esse será melhor. Aprendi a ouvir as pessoas.

Levo comigo tudo aquilo que me fez crescer, errar, sofrer e amar. 
2012 foi o ano da mudança. Porque a mudança é a coisa mais bonita da vida.
Felizmente, o Mundo não acabou. E a minha família continua a crescer, com mais e mais sobrinhos.

Um enorme obrigado também à pessoa que sempre esteve a meu lado, em todos os momentos. Não é fácil aturar este mau feitio... 

Feliz Natal e um Próspero 2013 para todos! Não será um ano fácil, mas vamos todos desligar a televisão e deixar de ler notícias sensacionalistas. Há que enfrentar a realidade e pensar nas soluções e não nos problemas. Pede-se coragem, tenacidade e saúde.

P.S: um agradecimento final para os leitores do Sweet Dreams. Este projecto arrancou em Fevereiro de 2012, num misto de incerteza e de ansiedade. Penso que o balanço é positivo, não só pelo feedback que me foi dado mas também pelo número de visitas ao blogue.
Continuem a acompanhar as publicações em 2013!

Boas leituras,
GC

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

A matéria prima para (Re)construir Portugal


A roda viva do trabalho deixa pouca margem para pensamentos mais profundos, mas mesmo assim, existe sempre aquela vontade de expressar o que vai na alma. Desta vez deixo-vos um texto da autoria de um escritor e ensaísta português falecido em 2007, onde todos nós somos retratados de uma forma audaz e sem pudor. Será normal se cada um de nós se identificar com algumas das palavras que se seguem. Afinal de contas, o estado de espírito de um português, é o mesmo de dois ou três.
Em breve, retomarei os textos da minha autoria mas por agora deixem-se levar na onda deste auto-retrato lusitano. 

"A crença geral anterior era de que Santana Lopes não servia, bem como Cavaco, Durão e Guterres.
Diziamos que Sócrates não servia. E o que vier depois de Passos Coelho também não servirá para nada.
Por isso começo a suspeitar que o problema não está no trapalhão que foi Santana Lopes, na farsa que é o Sócrates ou no silêncio de Cavaco. O problema está em nós. Nós como povo. Nós como matéria prima de um país.
 
Porque pertenço a um país onde a esperteza é a moeda sempre valorizada, tanto ou mais do que o euro.
Um país onde ficar rico da noite para o dia é uma virtude mais apreciada do que formar uma família baseada em valores e respeito aos demais.
Pertenço a um país onde, lamentavelmente, os jornais jamais poderão ser vendidos como noutros países, isto é, pondo umas caixas nos passeios onde se paga por um só jornal. E se tira um só jornal, deixando-se os demais onde estão.
Pertenço ao país onde as empresas privadas são fornecedoras particulares dos seus empregados pouco honestos, que levam para casa, como se fosse correcto, folhas de papel, lápis, canetas, clips e tudo o que possa ser útil para os trabalhos de escola dos filhos... e para eles mesmos.
Pertenço a um país onde as pessoas se sentem espertas porque conseguiram comprar um descodificador falso da TV Cabo, onde se frauda a declaração de IRS para não pagar ou pagar menos impostos.
 
Pertenço a um país:
- Onde a falta de pontualidade é um hábito
- Onde os directores das empresas não valorizam o capital humano
- Onde há pouco interesse pela ecologia, onde as pessoas atiram lixo nas ruas e, depois, reclamam do governo por não limpar os esgotos
- Onde não existe a cultura pela leitura (onde os nossos jovens dizem que é 'muito chato ter que ler' e não há consciência nem memória política, histórica nem económica)
- Onde os nossos políticos trabalham dois dias por semana para aprovar projectos e leis que só servem para caçar os pobres, arreliar a classe média e beneficiar alguns
Pertenço a um país onde as cartas de condução e as declarações médicas podem ser 'compradas', sem se fazer qualquer exame
- Um país onde uma pessoa de idade avançada, ou uma mulher com uma criança nos braços, ou um inválido, fica em pé no autocarro, enquanto a pessoa que está sentada finge que dorme para não lhe dar o lugar
- Um país no qual a prioridade de passagem é para o carro e não para o peão
- Um país onde fazemos muitas coisas erradas, mas estamos sempre a criticar os nossos governantes
 
Quanto mais analiso os defeitos de Santana Lopes e de Sócrates, melhor me sinto como pessoa, apesar de que ainda ontem corrompi um guarda de trânsito para não ser multado.
Quanto mais digo o quanto o Cavaco é culpado, melhor sou eu como português, apesar de que ainda hoje pela manhã explorei um cliente que confiava em mim, o que me ajudou a pagar algumas dívidas.
Não. Não. Não. Basta.
Como 'matéria prima' de um país, temos muitas coisas boas, mas falta muito para sermos os homens e as mulheres que o nosso país precisa.
Esses defeitos, essa 'chico-espertice' congénita, essa desonestidade em pequena escala, que depois cresce e evolui até se converter em casos escandalosos na política, essa falta de qualidade humana, mais do que Santana, Guterres, Cavaco ou Sócrates, é que é real e honestamente má, porque todos eles são portugueses como nós. Eleitos por nós. Nascidos aqui, não noutra parte...
 
Fico triste. Porque ainda que o Passos Coelho se fosse embora hoje, o próximo que o suceder terá que continuar a trabalhar com a mesma matéria prima defeituosa que, como povo, somos nós mesmos. E não poderá fazer nada...
Não tenho nenhuma garantia de que alguém possa fazer melhor, mas enquanto alguém não sinalizar um caminho destinado a erradicar primeiro os vícios que temos como povo, ninguém servirá.
Nem serviu Santana, nem serviu Guterres, não serviu Cavaco, nem serve Sócrates e nem servirá o que vier.
Qual é a alternativa ? Precisamos de mais um ditador, para que nos faça cumprir a lei com a força e por meio do terror?
Aqui faz falta outra coisa. E enquanto essa 'outra coisa' não comece a surgir de baixo para cima, ou de cima para baixo, ou do centro para os lados, ou como queiram, seguiremos igualmente condenados, igualmente estancados... igualmente abusados!
É muito bom ser português. Mas quando essa portugalidade autóctone começa a ser um empecilho às nossas possibilidades de desenvolvimento como nação, então tudo muda...
 
Não esperemos acender uma vela a todos os santos, a ver se nos mandam um messias.
Nós temos que mudar. Um novo governante com os mesmos portugueses nada poderá fazer. Está muito claro... Somos nós que temos que mudar. Sim, creio que isto encaixa muito bem em tudo o que anda a acontecer-nos: desculpamos a mediocridade de programas de televisão nefastos e, francamente, somos tolerantes com o fracasso. É a indústria da desculpa e da estupidez.
Agora, depois desta mensagem, francamente, decidi procurar o responsável, não para o castigar, mas para lhe exigir (sim, exigir) que melhore o seu comportamento e que não se faça de mouco, de desentendido.
Sim, decidi procurar o responsável e estou seguro de que o encontrarei quando me olhar no espelho."

{Adapt. Eduardo Prado Coelho, 29/03/1944 - 25/08/2007}

Boas leituras,
GC

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

A Força está na Vontade


De regresso para mais uma crónica, nem sempre é fácil escolher um tema para dissecar. Ou porque as ideias andam escassas ou porque não há muita disponibilidade para escrever. Mas felizmente consegui arranjar um tempo para expor as próximas ideias, que se debruçam sobre o nosso futuro. O pessoal e o profissional. Vamos lá então!

Pois é. Acabou-se a boa vida, aquela que tinha começado aos 6 anos de idade, quando entras para a escola primária, e que conhece um fim ao terminares a tua licenciatura ou mestrado. No meu caso, terminada a licenciatura, desfrutei ao máximo de três meses de férias, onde fiz um pouco de tudo. Fazer parte de uma comissão de festas, ir ao maior número possível de festas populares, passar dias a fio na praia, dormir como se não houvesse amanhã, jantares intermináveis com os amigos, desfrutar do Algarve... foram portanto 90 dias em alta rotação. Mas como todas as coisas boas têm um fim, está na hora de arregaçar as mangas e trabalhar.
A entrada para o mercado de trabalho marca o início de uma nova etapa nas nossas vidas, onde passamos a focar os nossos olhos noutros horizontes. Conhecemos novas pessoas, novas metodologias, novos conceitos, e sobretudo, a responsabilidade aumenta. A responsabilidade não é propriamente uma coisa má, antes pelo contrário, faz com que estejamos de olhos bem abertos, com o intuito de darmos o nosso melhor enquanto pessoa e colaborador de uma empresa.

Valorizo o facto de ter tirado uma licenciatura que me possibilitou arranjar emprego na respectiva área de formação, o que nos nossos dias, é algo cada vez mais difícil de encontrar. O mérito não é só de quem estuda, mas é também das faculdades e do seu reposicionamento no mercado universitário, com uma oferta de currículos mais vasta, que vai de encontro às necessidades das empresas. As empresas percepcionam esta mudança e focam o seu recrutamento para as universidades mais cotadas, no sentido de colmatar as lacunas de capital humano.
Aqui está outra perspectiva a ser analisada. Os Recursos Humanos deram lugar ao Human Capital, porque os colaboradores de uma empresa formam um capital essencial para o cumprimento de objectivos globais. Para além do capital financeiro e tecnológico, o capital humano deve ser a força motriz da economia, aliado a uma formação adequada, porque no fundo, quem possuí conhecimento tem na mão uma grande vantagem competitiva.
Depois deste devaneio teórico, passo a explicar. A formação académica e laboral são essenciais para o desenvolvimento social e económico de um país. Apesar do desemprego jovem ser elevado, sinto-me bastante contente por ver alguns dos meus amigos a ingressarem no mercado de trabalho, sinal de que o esforço financeiro e psicológico não foram em vão. Acredito sobretudo que é uma questão de atitude e de pró-actividade, porque as coisas não caem do céu. E mesmo aqueles amigos que ficaram para trás nos estudos, aperceberam-se que a aposta na formação é fundamental para melhorarem o seu nível de vida. Tudo para responder à pergunta: 'onde queres passar as tuas férias daqui a 20 anos?'. A resposta a esta pergunta está no empenho que colocamos no trabalho diário de cada um.

Tal como diz um senhor meio 'maluco', é preciso bater punho. Ficar fechado numa redoma não é definitivamente a solução. Talvez por isto, muitos jovens acabam por definhar à sombra da bananeira, porque os pais estendem demasiado a mão. Mas cada caso é um caso, e não convém generalizar.
Portugal está a atravessar um momento dificílimo na sua história e toda a gente protesta. Por tudo e por nada. Mas como pode um país estar bem de saúde, se o maior partido de todos é a abstenção? E porque razão as pessoas não exigem tanto dos políticos como exigem do Cristiano Ronaldo quando o rapaz falha um golo de baliza aberta? 
Por vezes, chamam-me 'extremista' e 'fundamentalista', mas na essência, é a minha maneira de ver o Mundo. Gosto demasiado de Portugal e prefiro ver o lado positivo das coisas. A questão aqui não é saber qual é o problema... mas sim a solução. E tipicamente, morremos afogados em problemas. 

O que mais me choca não é a greve dos autocarros, dos comboios, dos aviões ou dos barcos... mas sim a greve de espírito que se apoderou de todos nós. É por isso que desligo a televisão e passo a não ter paciência para os dramas psicadélicos de muita boa gente.
Depois destas palavras em jeito de desabafo, fica a ideia de que a formação é o maior investimento que se pode fazer... formação académica, profissional, mas também cívica. Porque a falta de civismo é muito feia e faz com que as pessoas andem de mau humor e deprimidas.

Nota final: caros leitores, como se devem ter apercebido, existe algum lapso temporal entre as minhas publicações. Esta nova etapa exige muita entrega e disponibilidade, mas sempre que me for possível, publicarei o que me vai na alma. Ficar quieto e calado é uma coisa que não me assiste, já dizia o outro rapazinho que se espalhou de skate.

'É erro vulgar confundir o desejar com o querer. O desejo mede os obstáculos... a vontade vence-os.' {Alexandre Herculano}

Boas leituras,
GC

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Não Há Almoços Grátis


Parece-me que Portugal abanou de vez. A notícia do aumento de impostos fez disparar uma onda de indignação pelas redes sociais e pelos meios de comunicação social, como tem vindo a ser apanágio. As pessoas na rua não falam de outra coisa e andamos todos com a cabeça no chão. Mas será que há alternativa, um outro caminho a percorrer que seja menos penoso para todos nós? Calcem uns ténis confortáveis e embarquem neste trilho sinuoso que vou explorar.

Como sabem, Portugal enfrenta uma grave crise económico-financeira. Os indicadores como o PIB, taxa de desemprego, inflação, bem como a falta de financiamento da economia são motivos sérios para as pessoas comprarem antidepressivos como se não houvesse amanhã. Mas será assim tudo tão linear? As contas do nosso país sofrem de problemas estruturais, ou seja, que já vêm de muito trás. A economia portuguesa baseou-se na transferência de postos de trabalho do sector secundário para o terciário (prestação de serviços), deixando um buraco tremendo na agricultura e na indústria. Deixámos de ser competitivos em termos salariais, porque os países da Europa de leste e asiáticos oferecem melhores condições para a redução de gastos associados à produção.
Os nossos irmãos, primos e amigos tiraram licenciaturas com a expectativa de virem a construir uma carreira sólida e com perspectivas de progressão, mas as exigências do mercado são cada vez mais. Desde 2008, que andamos mergulhados numa penumbra sem precedentes, com notícias quase diárias sobre empresas que são deslocalizadas ou que vão à falência, o drama das famílias para pagarem as contas ao final do mês, o flagelo do desemprego, os gastos exorbitantes dos políticos e os escândalos financeiros. No fundo, tudo isto é o nosso triste e ridículo Fado, pois somos nós mesmos que traçamos o nosso caminho.

Em vez de me indignar nas redes sociais, como é da moda, contra as touradas e contra mais austeridade, prefiro fazer as coisas de outra maneira. Já que não sou muito dado a discussões políticas nem futebolísticas (dois temas que recuso comentar em público, pois podem originar situações menos agradáveis), decido expor o meu ponto de vista escrevendo estas palavras.
Somos sem dúvida um país de memória curta. 
Milhões de euros e milhares de Km's depois, temos autoestradas onde circulam um número ridículo de carros por dia. Foram assinadas Parcerias Público Privadas (PPP's) para a construção de SCUT's e de outros empreendimentos, baseadas em taxas de retorno elevadíssimas, que afinal estavam todas marteladas. Se olharem para a vossa factura da electricidade, podem constatar que uma grande parte do valor despendido segue directamente para financiar os estrondosos investimentos em energias renováveis... já para não falar da Taxa Audiovisual, que serve para pagar os ordenados do José Carlos Malato, Jorge Gabriel e da Catarina Furtado. 
Os milhões de euros em fundos comunitários que foram desaproveitados, sobretudo na área da agricultura. Os gastos inexplicáveis na Parque Escolar, os estádios de futebol construídos para andarem às moscas. A lista é interminável, mas como podemos constatar, somos peritos a deitar dinheiro para o lixo. Baseámos o nosso crescimento económico no dinheiro do Estado, através de obras públicas e subsídios. Mas a fonte estatal secou. E os autotanques que trouxeram água vão exigir muitos sacrifícios.

Todos nós temos a quota parte de culpa nesta história. Um defeito inegável do português, gastar mais do que pode. A criação de emprego é sobretudo baseada no consumo. Se consumimos mais, há mais dinheiro a circular e existe a criação de postos de trabalho. Como gastávamos mais do que tínhamos, auxiliados com os créditos pessoais, o panorama permaneceu estável até 2008. Depois disso, deu-se a explosão mundial. Os bancos deixaram de emprestar dinheiro à economia e às pessoas, as empresas tiveram que despedir trabalhadores e obviamente, sem dinheiro disponível, a procura interna ressente-se. Menos consumo, menos postos de trabalho. Coloquem isto na vossa mente: o verdadeiro capitalista não é a entidade patronal, mas sim o consumidor, que tem a possibilidade de criar postos de trabalho. E a nossa economia, assente em pressupostos de consumo, ficou abalada. Hoje em dia, assistimos a um ajustamento sem precedentes nas contas públicas. Os erros do passado são como as lapas, agarram-se à rocha e muito dificilmente desaparecem. Só com muita perseverança, tenacidade e coragem é que podemos descolar as muitas lapas que nos foram deixadas.

Em 1977 e 1983, o FMI bateu à nossa porta. Desemprego, inflação elevada e a desvalorização do escudo foram sobretudo as razões da intervenção internacional. Estes problemas foram resolvidos da seguinte forma: redução de salários (privados e públicos), cortes nos subsídios e subida de impostos. Naquele tempo, podia-se desvalorizar o escudo para tornar as exportações portuguesas mais competitivas, mas hoje esse mecanismo é impossível, pois estamos numa zona de moeda única. Não se pode imprimir moeda porque isso iria originar uma inflação descontrolada. Logo, a receita actual segue quase os mesmos pergaminhos das duas anteriores visitas do FMI.
Estas medidas têm como finalidade a retracção do consumo, reestruturação do mercado de trabalho, equilíbrio das contas públicas e crescimento económico baseado nas exportações. Deixo de seguida, uma lista com sugestões pessoais, que a meu ver, poderiam ajudar na estabilização da nossa economia:

- privatização de empresas estatais (TAP, CP, ANA... com a manutenção de participação maioritária)
- descida do IVA na restauração e hotelaria para 13% ou taxa similar, pois são sectores estratégicos na economia nacional
- aposta nas exportações e internacionalização das empresas (vestuário, calçado, estaleiros navais, empresas de alta tecnologia, cortiças, vinhos...)
- extinção ou fusão de fundações e corte nos subsídios concedidos (Sr Mário Soares, se me estiver a ler, não se esqueça duma coisa, quando o FMI veio cá das duas vezes anteriores, sabe bem quem era o primeiro ministro na altura. Por isso, antes de apontar o dedo, certifique-se que tem a sua mãozinha limpinha)
- extinção de empresas públicas que possuam elevados prejuízos acumulados
- corte nos subsídios a actividades culturais e afins (não se admite que um filme patrocinado pela televisão pública tenha menos de 5000 espectadores no cinema. Façam-se à vida e arranjem mecenas privados)
- cortes nos vencimentos dos deputados e gestores públicos (por uma questão de moral e de princípio, ninguém na função pública deveria ganhar mais do que o Presidente da República)
- corte nos vencimentos das Forças Armadas (tema sensível, mas o que é certo é que existem altas patentes a mais, com elevadas regalias)
- estimular a produção nacional de alimentos, pois o nosso país importa mais do que exporta nesta área, criando um défice alimentar (regresso à agricultura, pecuária e afins)
- colocar os reclusos, pessoal do RSI e militares a limpar as matas estatais, pois os fogos florestais acarretam milhões de euros em prejuízos, por ano
- modernização das linhas ferroviárias, com a aposta no tráfego de mercadorias, criando ligações estratégicas (ligação do porto de Sines, Leixões e Lisboa ao resto da Europa)
- aumentar a eficácia da Justiça (aumentar os polícias, sim leram bem. Aplicação de regras mais duras para os casos de roubo, homicídios e crimes económicos. Cândida Almeida disse que os nossos políticos não eram corruptos. Gostava de saber qual foi o vinho que ela bebeu antes de dizer isto)
- impostos mais elevados para quem recebe mais (sobre património, capital e rendimentos)
- reformulação no SNS. O Estado devia pagar parte da formação de médicos e enfermeiros, mas estes teriam que trabalhar em exclusivo durante 6 a 8 anos para o SNS
- etc

Poderia continuar aqui o dia todo, mas não me apetece. 
Se me perguntarem se concordo com as novas medidas de austeridade anunciadas pelo Primeiro Ministro e pelo Ministro das Finanças, eu responderei: 'em tempos de excepção, medidas de excepção'. E ninguém pode negar que enfrentamos tempos de excepção, devido aos já referidos erros estruturais. 
É inevitável, a classe média suportará mais uma vez grande parte do ajustamento financeiro que foi exigido ao país. Temos que redefinir hábitos de vida. Ir jantar fora menos vezes, ir ao cinema menos vezes, sair de casa para fazer desporto (ginásio, bicicleta, jogging), deixar de fumar, tomar o pequeno almoço em casa, colocar lâmpadas de baixo consumo, reutilizar roupas, inovar nas refeições, desligar o standby dos electrodomésticos... e por aí em diante. Uma família com dois filhos em idade escolar, com um rendimento mensal na casa dos 1500€ mensais, com contas para pagar, neste momento pode-me mandar à merda. Um desempregado de longa duração também me pode mandar à merda. Mas nada se faz sem esforço.

O nosso Portugal está a transformar-se. Necessita de pessoas qualificadas e com vontade de vencer. Um curso superior bem escolhido, com uma taxa elevada de empregabilidade é meio caminho andado para o sucesso. Segundo a OCDE, quem tem um curso superior ganha mais 69% do que uma pessoa que só se ficou pelo ensino secundário. Já o defendi aqui e volto a defender, a reestruturação de um país deve começar pela educação. Profissões altamente especializadas, como as engenharias, finanças, medicina, ciências e por aí fora, são sempre mais valias. Se o mercado nacional está saturado, temos que apontar baterias noutro sentido. O português é conhecido por se desenrascar. Se descobrimos meio Mundo apenas com astrolábio e bússola, podemos bem triunfar noutros locais.

É hora de deixar os populismos e as manifestações de caracácá de lado. Acho piada às pessoas que dizem: 'isto só lá ia com um Salazar ou dois'. Agora que as medidas estão a ser tomadas, todos metem a cabeça na areia e criticam quem tem a responsabilidade do poder. PSD, PP, PS, todos eles têm quota parte de culpa, pois caímos num poço, onde por momentos deixámos de respirar. Temos que ser sérios, ver menos televisão, sermos menos influenciados por opiniões incendiárias, trabalhar mais e apostar na meritocracia. Se os nossos salários fossem indexados à produtividade, a maior parte do país recebia menos do que o salário mínimo. Ser produtivo significa acrescentar valor ao bem ou ao serviço, mas sobretudo à empresa. A nossa cultura empresarial tem que mudar, as chefias ainda usam muitas palas na cabeça, o que inviabiliza o crescimento económico.
Não há almoços grátis por isto mesmo. Tudo na vida tem um preço, e neste momento esse preço chama-se 'austeridade'.

Esqueci-me de uma coisa essencial. Das pessoas que tanto criticam as novas medidas de austeridade, quantas delas votaram nas últimas eleições? E nas anteriores? A isto chama-se 'memória curta'.
Mãos à obra, há muito que fazer.

'Em Portugal, as pessoas são imbecis ou por vocação, ou por coacção, ou por devoção.' {Miguel Torga}

Boas leituras,
GC

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Sensibilidade e Bom Senso


Recentemente, tenho notado que algumas das pessoas que me são mais próximas estão com problemas com os seus melhores amigos. Ou que supostamente deveriam ser os seus melhores amigos. O tema desta crónica versa sobre isso mesmo: amizades, desilusões, evolução, ambições pessoais e por aí fora. Quem é que nunca ficou desiludido com um amigo? Quem nunca criticou um amigo pelas costas? Vamos lá a saber.

No que toca às amizades, quando somos crianças tudo é muito bonito. Na escola primária e no básico fazemos promessas e juras eternas de amizade, que estaremos lá um para o outro quando o mal bater à porta e que iremos muitas vezes à praia ou beber um copo quando assim for necessário. Chega o secundário e aí dá-se um ligeiro impacto, com novos colegas e novas rotinas. No meu caso, fui para uma escola secundária diferente dos meus amigos, e hoje em dia não me arrependo nada, pois conheci excelentes pessoas que ainda hoje fazem parte do meu quotidiano. No secundário, ainda vivemos aquela ilusão da idade, das festas, das descobertas sexuais, das discussões com os pais e da tentativa de ganhar independência. Os amigos são inseparáveis, vão às tuas festas de anos e saem à noite como se não houvesse amanhã, empunhando os copos cheios, com brindes infindáveis.

Chega a faculdade, e aqui dá-se o grande choque das nossas vidas. Somos obrigados a fazer uma ruptura com a nossa zona de conforto, pois os nossos amigos tiveram médias diferentes, escolheram cursos diferentes e vão para faculdades diferentes. Ou vão trabalhar, inclusive. Perdemos o contacto com muitos deles ou só nos vemos naqueles jantares nostálgicos de turma. E aí reparamos que crescemos. Já não somos aquele rapaz que usava roupa larga ou sapatos de vela. Ou risco ao lado. As responsabilidades da vida fazem crescer uma pessoa. Já para não falar da imensa quantidade de pessoas que se conhece na faculdade, que mudam a nossa perspectiva perante o mundo. Muitas dessas pessoas acabam por se tornar nossos amigos, mesmo que tenham ideologias diferentes. Porque aos 21, 22 anos, procuras uma pessoas para ter uma boa conversa, debater ideias e beber um copo, sem teres que voltar às conversas revivalistas do género: 'ainda te lembras do básico, quando o X gostava da Y, mas o X acabou por comer a W, que era a melhor amiga da Y?'. 
Quando entras no mercado de trabalho, vais conhecer novas pessoas. Nesta selva competitiva, são poucos aqueles que estão do teu lado, mas mesmo assim, podes fazer bons amigos por lá, que acabam por se identificar contigo. Afinal de contas, não estamos todos sozinhos.

Isto tudo para dizer o quê? As pessoas são como os Pokemons: estão sempre a evoluir, para melhor e para pior. Aqueles amigos ou amigas que ainda ontem estavam a beber um copo contigo ou a ir à praia, a desabafar, são aquelas pessoas que encontras hoje numa festa e que desviam o olhar só para não terem que te cumprimentar. São aquelas pessoas que afinal já não assumem tanta importância na tua vida, pois começas a ter outras prioridades. Tens a agenda diária preenchida e chegas ao final da semana e pensas: 'vou estar com os meus amigos, com a minha namorada ou com ambos?'.
Notas que os teus amigos de outrora dão-se com pessoas que não vão de encontro à tua personalidade, e que muito provavelmente nunca mais os vais convidar para aquela festa ou para aquele café. Com o passar do tempo, cresces. Acabas o curso, vais para o mercado de trabalho e não tens paciências para os filmes e novelas que os teus amigos te fazem. Por vezes, eles pensam que és um esgoto e descarregam todas as frustrações em cima de ti, sem teres a mínima culpa. São injustos contigo porque usam os teus conhecimentos e capacidades técnicas sem respeito pelo teu esforço, como se fosses um mero saco de batatas. Começas a ver que os teus amigos de outros tempos são egoístas e oportunistas. Tradicionalmente, tu só sabes quem são os teus verdadeiros amigos nas horas de maior dor e aperto. Quando estás no poço e com a merda a chegar ao nariz, poucos te vão dar a mão. Nessa altura, perdes amigos, ganhas admiração por alguns e conformas-te com a atitude de outros.

Os amigos de outros tempos passaram para a categoria de conhecidos, pois tu já não partilhas com eles as grandes alegrias da tua vida, já não queres estar com eles a toda a hora e acima de tudo, não te enquadras com a sua personalidade. Percebes que à tua frente, eram panos quentes e sorrisos fáceis. Nas tuas costas, eram facas e línguas afiadas.
Estás a comer sopa de grelos com um amigo, e achas que ficaste com grelos nos dentes depois de terminada a sopa. Levantas-te e vais à casa de banho, e notas que tens os dentes cheios de grelos. A essência da coisa está aqui: o verdadeiro amigo é aquele que diz que tens grelos nos dentes, sem rodeios. O verdadeiro amigo é aquele que se preocupa com as tuas frustrações e que está contigo nas horas nebulosas. O verdadeiro amigo é também aquele gajo que está presente nos momentos mais importantes da tua vida, porque se ele é verdadeiro significa que te acrescentou valor e que queres partilhar algo mais com ele.
E é nesta fase que os amigos que foram despromovidos a conhecidos vão conhecer a dura realidade: a vida é feita de ciclos. Por muito que custe, o sol continuará a nascer e haverá sempre algo para fazer. Não vale de nada sermos orgulhosos, guardar para nós todo o rancor e raiva do passado. Cada um segue o seu caminho e desejo que as metas e ambições individuais sejam alcançadas. Também errei, pois é próprio do ser humano errar. E já fui injusto com alguns amigos. Mas no final, dei o braço a torcer, pois não consigo ficar muito tempo com alguma coisa atravessada na garganta. Faz parte de mim.

Não me custa saber se aqueles que eram meus amigos desviam o olhar ou baixam a cabeça para não me verem. Custa-me mais o facto de não terem a frontalidade e integridade de dizerem que tenho grelos nos dentes. E há-de chegar o santo dia em que vamos comer uma sopa, onde não vou deixar que a pessoa se levante para ir à casa de banho. A isto chama-se 'sensibilidade e bom senso'.

'A vida dá lições que só se dão uma vez'. {Winston Churchill}

Boas leituras,
GC




sexta-feira, 24 de agosto de 2012

O Estado do Desporto em Portugal

Forrest Gump Vs Usain Bolt

Andando ao sabor das ondas do Verão, o meu ritmo de publicações é deveras mais baixo do que noutras alturas do ano, como já devem ter reparado. Desde já peço desculpa, mas é mais forte do que eu! Hoje venho-vos falar de desporto, depois da euforia olímpica ter acalmado um pouco. A prestação dos nossos atletas em Londres, o estado do desporto em Portugal, a prática de modalidades... calcem uns ténis confortáveis, metam uns phones nos ouvidos e sigam comigo.

Segui com alguma atenção o desempenho dos nossos atletas nos Jogos Olímpicos que se realizaram em Londres. Obviamente que a maior desilusão veio da Telma Monteiro, porque havia ali uma certa expectativa gerada pelos sucessos mais recentes da atleta. Os dias iam passando e eu só via atletas portugueses a serem eliminados. Até que veio uma pequena alegria através do ténis de mesa, com uma excelente prestação dos nossos pupilos, e a alegria maior preconizou-se com a conquista da medalha de prata na canoagem, por Emanuel Silva e Fernando Pimenta. Uma medalha somente, em dezenas de atletas que foram até à capital inglesa.
Longe vão os tempos em que o atletismo nacional trazia grandes alegrias ao povo, que ficava colado ao ecrã, à espera que o Carlos Lopes, Rosa Mota ou a Fernanda Ribeiro cortassem a meta. De vez em quando, a nível europeu, lá fazemos umas graçolas, como a Jéssica Augusto ou a Dulce Félix. Hoje em dia, os índices de competitividade estão bastante elevados, o que nos faz correr atrás de países inimagináveis, tais como a Etiópia, Eritreia, Quénia, Qatar, etc. E eu pergunto: então não temos as condições de treino necessárias para alcançar o sucesso? Temos, sim senhor. Portugal tem excelentes instalações desportivas, nomeadamente centros de alto rendimento (Rio Maior, Caldas da Rainha, Sangalhos), parques desportivos, pavilhões e faculdades. Basicamente, temos os ingredientes todos, mas é como se estivéssemos a cozinhar de olhos vendados. 
Acredito nas capacidades do nosso capital humano, mas devido ao nosso fatalismo/sebastianismo faltará sempre algo. Aquela pontinha de sal ou de pimenta, ou seja, mais esforço, sacrifício e dedicação. É muito bonito quando se diz: 'ahhhhh, já é uma vitória estar aqui presente'. Exacto, os contribuintes irão dizer a mesma coisa, certamente, já que as bolsas do COP foram pagas com o dinheiro de todos nós.
Choca-me sobretudo o facto dos atletas paralímpicos obterem melhores resultados e não receberem o devido incentivo e reconhecimento. Supostamente deveria haver equidade, mas estamos num país onde é mais bonito enviar areia para os olhos...

Quando dizem que o Estado deveria apoiar mais os atletas, subsidiando as condições de treino e afins, digo-vos uma coisa tão simples como esta: no Brasil, grande parte dos atletas olímpicos são patrocinados por empresas privadas. E esta, hein? Porquê que a GALP, EDP, PT, Jerónimo Martins, SONAE e demais empresas cotadas não criam uma espécie de mecenato desportivo para apoiarem os nossos atletas? Os pilotos de rali, especialmente o Armindo Araújo e o Carlos Sousa, não andam agarrados à perna do Estado para ver se cai um subsídiozinho, por exemplo. O Tiago Pires anda à boleia da QuickSilver, mais um exemplo. Estão a ver onde quero chegar? Temos que ser mais ambiciosos e deixarmos de lado a pequenez que tanto nos caracteriza.
Penso que o estado do desporto em Portugal não é de todo saudável, sobretudo num país onde somos bombardeados com futebol 24 horas por dia, em todos os meios de comunicação social. Então e o basquetebol, voleibol, râguebi, hóquei em patins, atletismo, ciclismo, etc? Não é com o programa Desporto2, que passa na RTP2, que vamos resolver as disparidades do desporto nacional. Existe vida para além do futebol. E olhem que eu pratiquei esta modalidade durante 6 anos e estive mais 3 ligado às suas andanças. 
Felizmente, ainda há muitas pessoas que praticam desporto em Portugal, não tantas como o desejável, mas que mesmo assim são os representantes de muitas instituições e clubes. Somos bons na patinagem, ciclismo, canoagem, ténis de mesa, atletismo, orientação... e muito mais.

O Estado deveria apresentar uma maior ênfase no desporto escolar, pois é aqui que está o segredo para o sucesso em várias modalidades. Nos países de Leste, nórdicos e Estados Unidos, desde cedo que as crianças são motivadas para a prática desportiva. Não é por acaso que os EUA foram o país com mais medalhas conquistadas nos JO2012, a Rússia em 4º e a Alemanha em 6º. São obviamente países com uma escala de recrutamento infindável, pormenor esse que faz toda a diferença. Em Portugal, o que se fez? A Educação Física vai deixar de contar para a média escolar. Ao mesmo tempo, foi publicado um estudo onde se diz que as crianças e jovens que praticam desporto são aquelas que obtêm os melhores resultados escolares. Será preciso dizer mais alguma coisa? Depois não se venham queixar do número crescente de crianças obesas, presas no seu sedentarismo, que custam milhões de euros/ano ao Serviço Nacional de Saúde. Qual será a motivação dum aluno sabendo que aquela disciplina não irá contar para a média final? A pessoa que teve esta peregrina ideia nunca deve ter saído da sua secretária no Ministério da Educação.
A Educação Física deveria contar para a média, com uma maior carga horária semanal (para quê disciplinas como Formação Cívica e Estudo Acompanhado? Formação Cívica aprende-se em casa com os pais!) e com a exploração de mais modalidades. Obviamente que nem todas as escolas têm as condições estruturais e humanas para implementar esta medida, porque mexe-se com horários dos professores e disponibilidade dos espaços físicos. Mas se continuar tudo na mesma, continuaremos na mediocridade.

Nem tudo é mau, pois também existem situações positivas que se reflectem na sociedade. Vejo cada vez mais pessoas com hábitos saudáveis, sobretudo no âmbito desportivo. Na minha área de residência, é cada vez mais comum ver pessoas a fazer o seu jogging ou a mandar umas pedaladas na bicicleta. Há muitas crianças e jovens inscritos nos clubes de futebol da zona, o que é assinalável. No meu caso particular, prefiro fazer o meu jogging e dar uma voltas de BTT com os melhores amigos, porque não consigo ficar muito tempo sem praticar desporto. Vejo também na televisão o número crescente de pessoas que vão a maratonas ou ao BikeTour, nem que seja só pelo convívio. Ou que os ginásios estão cheios. É um sinal de que as pessoas querem redefinir os seus hábitos, em busca de satisfação e de bem estar físico e psicológico.

No fundo, a prática desportiva traz imensos benefícios, sobretudo se for fomentada desde tenra idade. Permite criar uma cultura de responsabilidade, de autonomia, de trabalho em equipa (no caso das modalidades colectivas), capacidade de superação e aprender a lidar com a vitória, mas sobretudo com a derrota. Estes aspectos são fundamentais para o desenvolvimento cognitivo e da personalidade de cada um. Como já referi anteriormente, é imperativo alterar a cultura desportiva em Portugal e descentralizar o foco que existe à volta de certas modalidades, em prol de tantas outras. O desporto escolar deve ser um veículo para a criação de atletas de excelência, que permitam alcançar o sucesso desportivo. Fazer uma carreira desportiva no nosso país pode parecer um suicídio, dadas as dificuldades. Mas são muitos aqueles que o fazem por gosto e que adoptam a filosofia de vida que o desporto oferece.

Pode ser que no Rio de Janeiro2016 as coisas sejam melhores, porque nós temos sempre aquela velha mania: amanhã é que vai ser! Agora que cortei a meta do meu texto, vou ver a etapa da Volta a Portugal, pois esta não é a minha vida! E boa sorte para os nossos atletas paralímpicos, em Londres.

'Necessitamos sempre de ambicionar alguma coisa que, alcançada, não nos torna sem ambição.' {Carlos Drummond de Andrade}

Boas leituras,
GC

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Tourada... tradição ou aberração?


E aqui estou eu de volta às lides do meu blogue, depois de um período de afastamento muito bem justificado. Andei por fora, a aproveitar o melhor que este país tem para oferecer (Sol, praia, as noites) e deixei o computador descansar por uns dias. Férias são férias e há que saber desfrutar todos os momentos! Nada mais explosivo do que o tema desta crónica, para regressar aos velhos tempos de discussão. CORRIDAS DE TOUROS. Tradição, violação dos direitos dos animais, festa ou aberração? Tudo isto e muito mais, já de seguida.

Compreendo perfeitamente a complexidade deste tema, que desperta ódios e paixões um pouco pelo nosso Portugal. Devido a esse facto, tentarei ser o mais realista possível nas minhas palavras. 
Sou a favor das corridas de touros. Desde criança que gosto assistir aos espectáculos e sempre me impressionou a destreza dos cavaleiros e dos forcados. Penso que o gostar ou não gostar de tourada depende muito da nossa educação e do contexto familiar/social em que estamos inseridos. Os meus pais e alguns irmãos gostam de touros, e desde cedo fui habituado a ver touradas na televisão. Também fui habituado a ver a minha mãe a matar galinhas e coelhos da nossa criação sem dó e piedade, o que talvez tenha contribuído para uma certa imunidade em relação ao sangue dos animais e a todas aquelas cenas rocambolescas (galinhas a caminhar sem cabeça, por exemplo).
A tourada é efectivamente uma tradição lusitana, que está presente na nossa cultura desde o século XVIII. Gosto do nosso Portugal de uma maneira bastante particular, como só os meus amigos mais chegados conhecem, e talvez por isso alinhe nesta tradição, respeitando as pessoas desse meio.
Foi assim a minha educação, aprender a gostar de Portugal, das suas tradições, dos seus lugares e das suas gentes. Mas uma pessoa que tenha nascido num contexto completamente diferente do meu, pode ter uma opinião divergente. As ideologias políticas, as convivências, a formação, aspectos familiares, entre outros, moldam a visão de cada um de nós. Felizmente, conheço pessoas com uma opinião contrária à minha, e que têm a capacidade de me confrontar com os seus argumentos. Digo 'felizmente' porque vivemos numa Democracia, onde devemos respeitar a visão de cada um.

Se as touradas não existissem, o touro bravo há muito que não estaria entre nós, porque a sua finalidade é essa mesma: ser toureado. É devido à dedicação dos ganadeiros e de todos os envolvidos na causa taurina que podemos apreciar a beleza e a destreza deste magnífico animal. O touro, na sua essência, vive feliz, porque desde que nasce até ao momento em que vai para a arena anda ao ar livre, em contacto com o campo e é tratado por pessoal qualificado e experiente (veterinários, campinos, tratadores...). O touro depois de ser lidado, é na maior parte dos casos, tratado para depois voltar aos campos. Sempre melhor do que as pobres galinhas, vacas e porcos, que estão confinados num espaço ínfimo para depois entrarem na cadeia de consumo. Também posso mencionar o impacto económico das touradas, que geram milhões de euros de retorno para todos os agentes económicos envolvidos. Basta ver o crescente número de espectadores que vai aos recintos, com um aumento significativo de jovens e de público feminino interessados pela tauromaquia.
Em Portugal, não existem touros de morte (legalmente), ao contrário de Espanha.
Por exemplo, sabiam que nas Filipinas, por altura da Páscoa, se realizam crucificações para recrear a caminhada de Cristo? E que em Espanha há pessoas que chicoteiam as costas em procissões? Eu também não acho muita piada, mas faz parte da Cultura do país, tal como a tourada em Portugal.

No que diz respeito aos grupos anti-tourada e dos direitos dos animais, respeito os seus pontos de vista e penso que desempenham um papel importante na nossa sociedade. Trabalham em prol de uma causa e é importante salientar esse facto. Conheço pessoas que o fazem e que admiro pela tenacidade e destreza que demonstram.
Admito que o touro possa sofrer no momento em que está a ser lidado, basta inclusivamente olhar profundamente nos seus olhos, ninguém o pode negar, nem mesmo os aficionados.
Compreendo perfeitamente que me queiram espetar uma faca no meu coração rude, mas para os mais distraídos: desde que me lembro, tenho animais. Cães, gatos, galinhas, coelhos, papagaios, patos periquitos, borregos... e sempre fui habituado a respeitá-los. Alguns animais ficaram na memória, pois deixaram uma marca inegável na minha vida. E repudio completamente aqueles que maltratam e abandonam os animais sob os mais estupidificantes argumentos. 
Deveria existir uma legislação mais consistente, que abordasse esta questão das corridas de touros, tal como o mau trato e abandono de animais, para que todos pudessem chegar a um consenso. Estas palavras podem parecer utópicas, mas representam a minha opinião.
Relativamente à transmissão de touradas na televisão, também sou a favor. Partindo do princípio que a tourada é uma tradição portuguesa, deve-se lhe dar a devida atenção, tal como se dá ao Fado, Canto Alentejano, Festas regionais, património edificado e imaterial, etc. Se não gostamos de tourada, pegamos no comando e mudamos para outro canal, que é o que eu faço quando está a dar novela na SIC e TVI.

Penso que este será sempre um tema nebuloso e capaz de gerar uma eterna controvérsia na sociedade portuguesa. Tentei expor os meus pontos de vista acerca das corridas de touros da forma mais correcta e simplista, para que ninguém me possa apontar o dedo por fanatismo e facciosismo.
Para mim, a tourada, a par do Fado, é o património cultural mais vincado das nossas raízes lusitanas. Patriota e defensor da nossa cultura, defendo o papel do touro e das gentes ligadas ao meio. Já o velho Eça descrevia as touradas e as vicissitudes inerentes, n'Os Maias.
Para tantos outros, a tourada não será mais do que uma mera atrocidade e afronta aos direitos dos animais, em pleno século XXI.

No fundo, tal como referi anteriormente, a opinião acerca da tourada é bastante influenciada pela educação, vivências e ideologias sociais/políticas que cada um de nós adopta ao longa da vida. Acima de tudo, há que saber respeitar os pontos de vista e discutir o tema dentro dos parâmetros normais. Há quem seja vegetariano, há quem seja a favor das drogas leves, do aborto e do casamento de homossexuais... e eu prefiro touradas, talvez por ser do signo Touro. Para escolher um lado, há que conhecer os dois.
Assim me despeço deste tema delicado, na expectativa que compreendam a minha posição, da mesma maneira que eu irei compreender a opinião de cada um.

Respeita-te e outros te respeitarão. {Confúcio}

Boas leituras,
GC

quinta-feira, 12 de julho de 2012

Teoria da Negatividade



Depois dos recentes resultados dos exames nacionais do 12º ano, muita coisa se passou pela minha cabeça. Afinal de contas, de quem é a culpa da habitual chacina nas notas? Por quanto mais tempo teremos este sistema educacional pouco produtivo e com falhas assinaláveis na formação e na preparação dos alunos para a vida activa? Perguntas como estas serão dissecadas nas próximas linhas, sem dó nem piedade.

Ministério da Educação
Na minha humilde opinião, os exames nacionais são feitos por pessoas que nunca saíram das suas secretárias, ou se saíram, era na altura em que pesavam menos 30kgs, de certeza. É preciso estar contextualizado com as problemáticas que o processo educativo apresenta, desde os planos curriculares às condicionantes de cada agrupamento escolar. Penso que os actuais planos curriculares são demasiado extensos e pouco interactivos, fazendo com que os professores debitem, debitem e debitem matéria. Muitos pontos da matéria nem interessam ao menino Jesus e só servem para encher o belo do chouriço. Sou apologista de planos mais curtos e objectivos, que dotem os alunos de ferramentas necessárias para o seu futuro. Por exemplo, porque raio precisava eu saber de primitivas e integrais numa área de finanças e de contabilidade? Depois vinham-me com aquela desculpa 'ahh, ajuda no raciocínio'. Para isso vou fazer Sudoku ou jogar xadrez.
Os planos curriculares deveriam estar articulados desde o 10º ano até ao final do ensino superior, coisa que não acontece. Os alunos são obrigados a aprender matérias que nunca serão necessárias nas suas actividades profissionais. Com isto, não estou a dizer que se deve deixar de leccionar Filosofia ou História. Antes pelo contrário,os nossos alunos devem ser dotados de conhecimento geral e de capacidades técnicas para resolver problemáticas relacionadas com a sua área de especialização. Os americanos têm uma cultura geral fraquíssima, mas por outro lado são muito bons nas questões de nível técnico, porque não perdem tempo com floreados. Reforço então esta minha ideia da revisão dos planos curriculares, tornando os conteúdos menos massivos e mais apelativos para os alunos, em todas as áreas disciplinas e áreas de especialização.

Pais
Os encarregados de educação não se podem eximir de responsabilidades no processo educativo dos seus filhos. Dá-me ideia que os filhos vão para a escola à deriva, pois os pais não se interessam a fundo pelas questões educativas, e delegam muitas vezes nos professores a função de educar e de ensinar os filhos. Está errado. Em casa educam-se os filhos e na escola ensinam-se conteúdos programáticos. Ao fim ao cabo, a profissão dum jovem dos 6 aos 22/23 anos é ser estudante e os pais devem alertar os seus filhos para este facto. Quando se fica aquém dos resultados, é fazer ver que existem consequências. E quando se é bom naquilo que se faz, é recompensar o esforço e a dedicação. A cultura de meritocracia que várias vezes apregoei em crónicas anteriores é fundamental para o sucesso escolar de todos nós. No meu caso pessoal, soube ver esse lado e tirei o melhor partido possível. Os meus pais sempre exigiram o máximo, e quando se está na faculdade, temos que perceber que o dinheiro das propinas não é nosso e que está ali muito suor pelo meio. Os pais não podem ficar à espera que os filhos façam as coisas sozinhos, por isso devem acompanhar de forma aberta e frontal o percurso lectivo dos filhos, exigindo resultados e responsabilidades. Basta de sensacionalismos e de clichés. Mãos à obra.

Alunos
Ora aqui está. Com que então Fernando Pessoa estava com Vasco da Gama quando este descobriu o caminho marítimo para a Índia? E que combatemos os espanhóis em Alves Barrota? Ou que Salazar foi o primeiro Rei de Portugal? Somos sim os reis nas respostas mais imaginativas. Existe uma evidente falta de preparação dos alunos para os testes, provas e exames que são sujeitos ao longo do seu percurso educativo. A falta de vocabulário é a principal culpada desta trapalhada, pois a interpretação dos enunciados é fundamental para se construir uma resposta decente. Os mais jovens têm aversão aos livros, jornais e revistas. Passam o tempo todos agarrados ao computador, a escrever koisas com 'k' sem mto sentido, tão a ver? Os pais, desde cedo, devem fomentar a leitura junto da pequenada, pois este processo ajuda ao desenvolvimento do raciocínio e da interpretação frásica. Sim, eu li os livros todos d'Uma Aventura'. Sim, eu li os Maias até ao fim. Sim, eu estou a ler o livro de 1000 páginas de um dos meus irmãos. A relação com os números e com a Matemática também deve ser privilegiada, com uma prática intensiva ao longo dos anos lectivos. 
Outro ponto interessante prende-se com a falta de cultura de responsabilidade. Os alunos têm tremendas dificuldades em organizar o seu estudo. Ser estudante e não saber estudar é como dar um tiro no pé ou levar um pontapé nas partes baixas. A organização do tempo e das tarefas deve ser complementada com actividades extra-curriculares, tais como o desporto, música, voluntariado, etc. Ajuda a crescer, criam-se laços interpessoais e é uma forma de descarregar o stress do dia a dia. Desta forma, os computadores e telemóveis agradecem o menor desgasto.
Há que assinalar casos positivos, de alunos que se interessam desde cedo pelas letras e pelos números, que estudam e obtêm resultados. Não se pode estar sempre a criticar e a mandar abaixo os mais jovens, pois a generalização acarreta muitos dissabores. Acredito que no futuro, os mais jovens se preocupem a fundo com estas questões aqui abordadas, pois a educação é um bem fundamental para o desenvolvimento do bem estar económico e social da nação.

Uma última palavra sobre os professores
É normal que existam inúmeros professores desempregados... não há lugar para todos! O que vamos fazer? Colocar quatro professores por sala? Se Portugal é um dos países da OCDE com a maior taxa de abandono escolar, é normal que existam menos alunos, logo a necessidade de professores é menor. Querem um desenho? Quando não encontramos trabalho na nossa área de formação, só há um caminho a seguir: partir para outra. E esta realidade dói a muitos. 
Há professores horríveis, maus, assim-assim, bons, muito bons e excepcionais. Tive o privilégio de ter conhecido docentes com tremendas qualidades ao longo destes anos, com uma alma inteiramente dedicada ao ensino, pois nos seus rostos estava presente uma sensação de satisfação e de dever cumprido. Basicamente, estavam a fazer aquilo que mais gostavam. Temos que saber respeitar os professores, pois a transmissão de conhecimentos é uma tarefa só ao alcance de alguns. E pelo meio, temos a sorte de encontrar professores que transmitem muito mais do que está estipulado no programa. Acabam por se tornar nossos amigos e a sua grande recompensa está nisso mesmo.

A música dos Pink Floyd paira na minha cabeça. Não me vou alongar mais, pois este tema causa varizes e prisão de ventre. Acredito num futuro melhor para a Educação em Portugal, mas isto sou eu, um gajo que sonha alto. E que não gosta de greves.

'Para aprender não basta só ouvir por fora, é necessário entender por dentro.' {Padre António Vieira}

Boas leituras,
GC

quinta-feira, 5 de julho de 2012

O Bom Orgulho


Desde já, peço desculpa aos mais fiéis seguidores do meu blogue por estes dias de interregno. Estive empenhado em desfrutar as minhas férias, mas ao mesmo tempo mergulhei de pés e cabeça num projecto que me cativou bastante. Este ano, decidi fazer parte da Comissão de Festas de São Pedro, em Pêro Pinheiro (através da Paróquia), e trabalho foi coisa que não faltou.

Fui contactado no início de Junho pelo Grande Ricardo Antunes, no sentido de reunirmos um conjunto de pessoas com vontade e com amor pela terra, para se realizar uma festa diferente das habituais. O que é certo é que fomos construindo algo sólido ao longo do mês e as ideias tornaram-se mais claras e evidentes.
Posso dizer que foi uma grande aventura, porque este projecto envolvia pessoas com quem nunca tinha contactado anteriormente. E este foi o aliciante para me agarrar ao projecto. Temos que saber comunicar, conhecer novas formas de pensar e de encarar a vida. Sair da zona de conforto é o elemento chave desta equação. Conheci pessoas interessantes e dei-me a conhecer.

Desde da montagem do palco, do restaurante/bar da comissão, da afixação de cartazes pela madrugada fora... do carinho das pessoas durante a festa e do olhar orgulhoso dos nossos familiares. Houve um esforço incansável da nossa parte para que tudo estivesse ao mais alto nível, pois apesar de alguns serem jovens, sentem a camisola e o seu peso como poucos. As figuras pitorescas do Padre, do Presidente deposto e do actual Presidente da Junta, do Ricardo Antunes ou até mesmo do rapaz do grelhador... são estes cromos que precisamos para ter a caderneta da nossa vida preenchida.
O cansaço, as dores, o cheiro a grelhados, as poucas horas de sono, a muita paciência para atender os clientes especiais... tudo foi ultrapassado pelo excelente espírito de grupo e pelo objectivo de proporcionar uma grande festa às pessoas de Pêro Pinheiro e aos visitantes. 
Sinto-me orgulhoso por ter representado da melhor forma a minha terra e por ter ao meu lado alguns dos melhores amigos. Sem eles, nada disto faria sentido. De certa forma, penso que cumpri a minha missão perante Pêro Pinheiro, pois já representei duas colectividades da terra, sempre com o máximo de paixão e dedicação. Faltava-me deixar uma marca na Festa de São Pedro. Penso que já posso riscar a minha 'bucket list', com a sensação de dever cumprido. Acrescentaram muito valor à minha vida e fizeram-me ver que apesar de todos os obstáculos, podemos ser felizes a fazer aquilo que gostamos, com quem gostamos.

Uma agradecimento final para os meus pais, em especial para a minha Mãe, para o meu Padrinho e também Irmão Luís e para o David e Nuno. Só eu sei o que senti naquela missa, quando me foi lida a Bênção. Pela primeira vez na minha vida, vi estampado nas suas caras o orgulho que sentem por mim. Não sei rezar, nunca frequentei a Igreja, mas os que estão ao meu lado são a minha fé. E ninguém me pode retirar isso.

Boas leituras,
GC

sexta-feira, 15 de junho de 2012

Os ciclos da Vida


E o foi o final de mais uma etapa na minha vida. Ao fim de 4 anos de muito trabalho, esforço e dedicação, consegui terminar a minha licenciatura em Finanças e Contabilidade, no ISCTE-IUL. Agora segue-se o mundo do trabalho, mas antes gostaria de enaltecer e de agradecer a um conjunto de pessoas e de instituições que estiveram ao meu lado durante o percurso académico. Porque a vida só faz sentido se for vivida de forma preenchida e intensa.

Aos meus pais. Sem eles nada disto teria sido possível. O imprescindível apoio financeiro, não só para materiais, mas para propinas, transportes, refeições... foram incansáveis e fico-lhes bastante grato. Conseguiram formar 6 filhos, e esta é talvez a sua maior vitória. Os meus irmãos também tiveram um papel importante, motivando-me e dando-me vários conselhos que tive em conta.

Aos colegas de curso. São vários e seria injusto mencionar os nomes um a um, no risco de faltar alguém. Mas eles sabem quem me marcou neste percurso académico. Eles foram o ponto-chave de todo o sucesso. Conheci pessoas extraordinárias, mais velhas, mais novas, com diferentes perspectivas de vida e maneiras de pensar. Foi este o maior choque na transição do ensino secundário para a faculdade, mas como dizia Pessoa, 'primeiro estranha-se... depois entranha-se'. Os trabalhos de grupo, as aulas, os almoços, os desabafos, as piadas, as noites em Lisboa, o companheirismo e a vontade de fazer o melhor possível para ajudar o colega. Nunca tive fato académico nem fiz bênção das fitas, porque não fui muito ligado à tradição académica. Fui praxado e nada mais. Respeito quem siga os ideais académicos, pese embora muitos estudantes abusem do estatuto que uma capa e um fato lhes confere. Mas como esse não é o tema desta publicação, passemos à frente. Preferi vestir o fato-macaco ao longo destes 4 anos e as minhas fitas são as memórias que ficaram de todos os colegas, pois essas ninguém me as pode tirar. Um imenso obrigado a todos eles.

Aos amigos e amigas do coração. Aqueles que conheço há mais de 10 anos para cima e alguns mais recentes. Foram eles que aguentaram as minhas neuras, os meus desabafos e as minhas angústias. Estiveram sempre disponíveis para me ouvir, aconselhando-me da melhor maneira possível. Fizemos jantares intermináveis, corremos tudo o que era festa popular, fomos às noites longas de Lisboa, agarrámos nas bicicletas e percorremos vários trilhos, vivemos carnavais e natais em casa uns dos outros... Sem eles, a vida minha seria a preto e branco. Não vou mencionar novamente nomes, por uma questão de respeito. Mas deixo um profundo obrigado.

Ao Clube Atlético de Pêro Pinheiro e ao Alcainça Atlético Clube. Estas duas instituições fizeram parte do meu percurso académico, tanto como jogador, tanto como elemento das equipas técnicas. Nem sempre foi fácil conciliar o futebol com a faculdade, pois havia dias em que o cansaço físico e psicológico era tremendo. Mas foi graças ao futebol e às pessoas que conheci nos dois clubes que aprendi a valorizar o sentido de responsabilidade, transparência e organização. Sempre fui uma pessoa que exigiu o máximo de si, que gosta de ter os seus dias preenchidos, e acima de tudo, tento acrescentar um pouco de valor à vida das pessoas. E foram essas mesmas pessoas, que na sua maioria, sempre me fizeram ver o lado positivo da vida, encarando as derrotas com vontade de fazer mais e as vitórias com seriedade. Nesta pausa que fiz do futebol, olho para trás e sinto orgulho naquilo que construí. Mas o mais valioso é a amizade que ficou. Um por todos e todos por um. Obrigado pela grande escola de vida que me proporcionaram.

À minha namorada. Não é fácil lidar com a minha personalidade e com as minhas inseguranças, mas a trave-mestra sempre esteve lá quando precisei dela. Mais do que ninguém, acompanhou o meu percurso desde o 12º ano até ao final da faculdade. Passámos por tempestades, batemos com a cabeça na parede e enfrentámos várias críticas. Mas sobrevivemos e estamos cá para dar a cara. O maior agradecimento vai para ti, que sempre me apoiaste, sobretudo nas derrotas. E viveste as minhas vitórias como se fossem tuas. Defendeste-me das críticas como ninguém e choraste por mim. Penso que não existem maiores provas de amor do que aquelas que me deste. Esta vitória é para ti!

Chego ao final com um nó na garganta, pois recordar tudo aquilo que passei ao longo destes 4 anos faz-me ver o quanto cresci. Penso que não fiz nenhum inimigo, pois esse não é o meu cavalo de batalha. Cometi muitos erros, estive de joelhos no chão e perdi a esperança por várias vezes. Mas o que nunca se pode perder é a auto-estima e a capacidade de superação. A vida é uma questão de perspectivas e muitos dos nossos problemas comparados com os de outras pessoas... não são nada. Sempre fiz questão de ser o mais transparente possível com as pessoas que estiveram ao meu lado, porque esta é a minha maneira de estar na vida. 
Para os que terminaram a licenciatura este ano, espero que se revejam nalgumas destas palavras. Para os que ainda estão na faculdade, nunca se esqueçam da determinação e da vontade de provar a vocês mesmos que conseguem ultrapassar todas as barreiras. E para os que vão entrar no ensino superior, nada de ter medo, pois a vida é feita de ciclos e temos que saber olhar para o nosso futuro.

Segue-se uma etapa ainda maior na minha vida: a entrada para o mundo do trabalho. Porque estamos sempre a aprender, é com a máxima ambição e dedicação que encaro este desafio.

'O único lugar onde sucesso vem antes do trabalho... é no dicionário.' {Albert Einstein}

Boas leituras,
GC



segunda-feira, 4 de junho de 2012

Questões de Perspectiva

{Não será tudo uma questão de perspectiva?}


Chegámos ao mês de Junho. Verão, sol, calor, praia, jantares, amigos, diversão... e o começo da Silly Season. É aquela altura do ano em que as revistas se enchem de pessoas sociais altamente bronzeadas, em que as televisões fazem programas no exterior e onde o povo parece esquecer todos os males que o assola. Ou quase, porque para mim, Portugal está em Silly Season durante o ano inteiro.

Entristece-me a qualidade do nosso jornalismo. Não quero de forma alguma denegrir esta nobre profissão, e da qual tenho pessoas conhecidas a tirar o referido curso. Mas há algo que está azedo, e não é a sopa. Passo a explicar. As pessoas são inundadas todos os dias com notícias deprimentes, atrozes e sem o mínimo de interesse. Somos constantemente bombardeados com a taxa de desemprego, com as casas que são devolvidas aos bancos, com as famílias que pedem ajuda ao Banco Alimentar, com os assassinatos de irmãos por causa de heranças... Chega. Basta. É por isso que oiço cada vez mais rádio, pois não há a mensagem interpretativa que uma imagem nos pode passar. Não sei se isto é bom ou mau, mas prefiro sinceramente seguir as notícias pela rádio e internet.
A meu ver, já não tenho pachorra para o tempo de antena dedicado à selecção nacional, devido à participação no Euro2012. Chegámos ao cúmulo de ter o roupeiro da selecção (não é, mas podia ser) a fazer entrevistas a todos os jogadores. Falo do Daniel Oliveira, aquele gajo da Sic que faz a pergunta fatal: 'o que dizem os teus olhos?'. Os meus olhos dizem-me para desligar a televisão e ir fazer qualquer coisa de útil para a Humanidade e para Portugal.

O que é que me interessa saber se o Hugo Viana veste cuecas cor de rosa, se o Raul Meireles tem 134 tatuagens e uma cama que sai do tecto do quarto, se o Paulo Bento tem traumas de infância com penteados, se o Cristiano Ronaldo pinta as unhas ou se o Ricardo Quaresma vai para a feira da Malveira vender meias? Pior ainda, o que é que me interessa saber o que fazem as mães e as mulheres dos jogadores da selecção nacional? A resposta óbvia: vive tudo à mama.
É claro que fico chateado, como diz o outro. O povo, o Zé Povinho português, aquele mesmo povo que deu novos Mundos ao Mundo, que conseguiu instaurar uma República em 1910 e que fez uma revolução com cravos nas espingardas, assiste a esta dormência impávido e sereno. Caro leitor, o que é que me interessa ver a descolagem do avião da selecção para a Polónia, em directo na RTP? O que é me interessa saber se um casal de funcionários públicos já não vai passar férias ao Algarve este ano, por ter os salários congelados? Meus caros, o real drama pode estar na porta do lado, nos vossos vizinhos, que perderam o emprego, que têm contas para pagar e filhos para sustentar. Mas chega de fatalismos. É por isso que desliguei a televisão, estou farto de novelas e de apresentadores aos berros.

Existem mil e uma razões para acreditar que Portugal é um país com tremendo potencial. Ele está cá, mas nós é que ainda não sabemos. Porque não se fala dos atletas paraolímpicos que ganham medalhas lá fora? Porque não se fala das modalidades que trazem honras ao país, como o judo ou o remo? Porque não se fala das empresas exportadoras, que tentam todos os dias credibilizar o nome de Portugal pelo Mundo? Porque não se fala das IPSS e do tremendo esforço que fazem para levantar o ânimo de quem mais precisa? Porque não se fala dos empreendimentos de sucesso na área do turismo? Estão a perceber a coisa? Não, só o Judas Moutinho e o amor do Pepe por Portugal é que interessam.
A taxa de desemprego jovem assusta-me. Mas o que me assusta ainda mais é a inércia das pessoas. Deixam-se andar só porque sim, na expectativa que o dia de amanhã traga alguma coisa de melhor. Mas há que perceber que o Mundo é um lugar extremamente competitivo, onde esperar que chova num deserto é meia sentença de morte. Para de te queixar e faz alguma coisa. Valoriza-te. Erra, volta a tentar e segue em frente. A essência está aqui.

Por mais palavras que escreva, o nevoeiro que paira sobre as nossas cabeças nunca irá desvanecer. Somos os poetas fatalistas da Europa, cortadores de pulsos por excelência, os senhores e senhoras de frases feitas. Eu acredito no lado positivo das coisas, pois a vida é uma estrada imensa que nos permite escolher as saídas e entradas que pretendemos. Não me venham com os 'ses' e os 'mas'... a vida é mesmo para ser vivida. E eu prefiro acrescentar-lhe valor aproveitando os pequenos prazeres. E desligando a televisão.
Compete às pessoas saírem deste marasmo, desta pequenez que é feita por nós mesmos, do 'coitadinho' e do 'deixar para amanhã o que se pode fazer hoje'.

Sinto-me inconformado, e inconformado sentir-me-ei para sempre. Mas esta boca e estes dedos não se refugiam na escuridão. Talvez alguém se reveja nestas palavras e essa é a minha principal vitória. Fazer ver a vida com outros olhos, nem que seja por 14 segundos.

E não se esqueçam: mexam-se, sintam-se vivos, errem, sigam em frente e façam melhor. Como diz a música dos Silence4... 'I guess i'll try again tomorrow'.

Boas leituras,
GC

quarta-feira, 30 de maio de 2012

Quanto tempo... tem o tempo?


Reconheço que tenho andado um bocado afastado destas lides, pois a minha concentração tem-se focado mais nos problemas matemáticos e estatísticos que assolam a minha alma neste momento. Ainda assim, arranjei um tempo para escrever sobre... o tempo. Não do tempo que vai fazer amanhã, mas do outro tempo, aquele que muitas vezes nos falta, que passa depressa ou que se torna penoso demais.

Se há coisa que dou bastante valor, é ao tempo que dispomos. Na minha óptica, ele é bastante valioso, capaz de curar bastantes males que por aí andam neste mundo, mas por vezes, peca por escasso ou simplesmente o seu uso não é o mais eficiente. Desde cedo fui habituado a ter várias tarefas durante o dia, o que me obrigou a ter sentido de organização e de responsabilidade. Sim, eu sou viciado em organização e sou um bocado chato nesse aspecto. Para mim, as 24 horas do dia chegam perfeitamente para fazermos as nossas actividades, é uma questão de método e de organização. Sobretudo as mulheres sofrem com este mal, começam logo a ter suores e a bufar, olhando impacientes para o relógio. Os homens também têm destas coisas, mas não fazem disso o seu cavalo de batalha.

Quando estive pessoalmente com o Professor Marcelo Rebelo de Sousa, pensei: 'este homem não dorme, não come, não faz necessidades, não respira...', mas se repararem, ele faz tudo e mais alguma coisa, porque na sua essência, gosta daquilo que faz. E o pequeno grande pormenor é este mesmo: muitos de nós, caros leitores, não fazemos as coisas que mais gostamos. Ou porque está a chover, ou porque a namorada não deixa, ou porque... não há tempo. Mas parece-me que esta última desculpa não funciona lá muito bem. A verdade é que nos acomodámos, somos o povo fatalista do 'assim-assim', do 'cá se vai andando', e quando olhamos para a janela fora, vemos que perdemos o mundo lá fora. Porquê? Porque em vez de acrescentar vida aos nossos dias, acrescentamos tempo inutilizado. É por isso que muitos homens e mulheres, quando se deparam com os seus 30 e 40 anos, se lançam desenfreadamente nas pistas de dança das discotecas, nos ginásios e nos engates. Olham para o passado e vêem que perderam os melhores tempos das suas vidas com coisas que não mereciam tanta atenção, ou com pessoas que eram autênticas prisões.
Temos medo, muito medo, de tudo e de mais alguma coisa. Mas o maior medo é este: o de sermos felizes. E vamos deixando o tempo percorrer este imenso rio que é a vida, e quando dermos por nós, estaremos a desaguar no mar sem um pingo de felicidade no rosto.

Aprendi a valorizar o tempo e a respeitar as suas virtudes e defeitos. Tudo na vida é feito de ciclos e as pessoas têm que perceber de uma vez por todas que nada é eterno, para o bem e para o mal. O tempo resolve problemas sentimentais, traz-nos aquele amigo que já não víamos há anos, ajuda a desenvolver as nossas capacidades físicas e cognitivas, torna-nos numa pessoa útil à sociedade. Esta é a vertente da utilização óptima do tempo. Mas há quem o use simplesmente para fazer... nada. Quem sou eu para condenar essas pessoas? Se elas são felizes assim, ainda bem. Mas tenho pena delas, porque a vida é para ser vivida fora do nosso quintal e fora do nosso sofazinho com a seriezinha norte americana que nos faz chorar como se não houvesse amanhã.
O tio do meu Pai tem 86 anos. E tem um terreno de 100mX10m, onde planta as suas coisas. Todos os anos se queixa das ervas que crescem por esta altura da Primavera e das suas dores de costas. Pois bem, apesar deste discurso, ele acaba por pegar na sua enxada e vai depenando todas as ervas do seu terreno. Demora 4 ou 5 dias a fazê-lo, mas fá-lo (se pensavam que ia dizer 'fázio', então é melhor saírem deste blogue). E cada vez que passo por ele, vejo a personificação do tempo. Que apesar de todos os obstáculos da vida, da idade e das dores, o seu tempo é vivido de forma plena e preenchida, respeitando cuidadosamente os seus ciclos. E uma vez, apanhei este senhor de 86 anos a andar de bicicleta aqui na minha Vila, fazendo-me recordar uma das cenas finais do filme 'Finding Forrester', com o Sean Connery, o qual aconselho a todos.

Dou mais valor às pequenas coisas da vida, pois um dia preenchido capta muito do nosso tempo. Quando me apanho com mais disponibilidade, meto me ao sol, vou beber um copo com os amigos, vou jantar com eles, estou com os meus sobrinhos, vou correr, vou andar de BTT e escrevo uma palavras por aqui. O sentido da vida está em viver o tempo de forma construtiva, apostando na nossa valorização ou ajudando a sociedade nalgum aspecto.
Muitos continuarão a viver com medo, e a esses, o tempo nunca será favorável. Aqueles que encaram o dia a dia com optimismo e com vontade de superar obstáculos, o tempo se encarregará de os premiar, porque nós somos aquilo que damos aos outros.
Vou então regressar para os meus devaneios estatísticos, porque o tempo nunca pára. E talvez seja esta a sua melhor virtude.

'O  tempo chega sempre, mas há casos em que não chega a  tempo.' {Camilo Castelo Branco}

terça-feira, 22 de maio de 2012

Não custa nada... e é barato

{Ocean's Eleven}

Festejar um aniversário causa-me dores de barriga e ansiedade. Fico com aquela sensação de vazio e chego a fazer vários balanços da minha vida, nesse dia. Mas este ano fui atingido por uma tranquilidade anormal... não sei se foi do estudo, das condições climatéricas ou do scone que comi bem acompanhado no café Maria Saudade, em Sintra. Sinto que algo está a mudar...

Gosto de fazer anos e de receber os Parabéns, pois este dia serve como uma escala, onde posso observar quem me dirige palavras longas, mais curtas, mais sentidas, menos sentidas... e também vejo quem perde uns segundos da sua vida para me endereçar uns simples desejos.

Os anos vão passando e sinto que muita coisa já se definiu, e muitas mais se vão definir. Mas os verdadeiros amigos estão cá sempre, e eles compreendem as minhas angústias, dores, frustrações, pontos de vista e atitudes. Quando têm que me chamar a atenção, chamam. Quando têm que criticar, criticam. Quando têm que elogiar, eu babo-me, choro e vou beber uma cerveja com eles. E acredito que as pessoas se revelam. Felizmente, reparo muito nessas coisas e retiro grandes lições das palavras, mas sobretudo das acções que cada um toma. A vida é feita destas coisas.

A minha maior prenda é o facto de poder contar com os verdadeiros amigos. Nada mais.
Um sincero e profundo obrigado por tudo, porque não custa nada agradecer.

Para aqueles que se esqueceram ou que simplesmente não quiseram saber... não faz mal, porque amanhã de manhã um novo dia vai nascer, os rios vão continuar a desaguar no mar e cada um sabe o que é melhor para si.

À medida que crescemos, nós não perdemos amigos. Apenas aprendemos quem são os verdadeiros.

Boas leituras,
GC