quinta-feira, 12 de julho de 2012

Teoria da Negatividade



Depois dos recentes resultados dos exames nacionais do 12º ano, muita coisa se passou pela minha cabeça. Afinal de contas, de quem é a culpa da habitual chacina nas notas? Por quanto mais tempo teremos este sistema educacional pouco produtivo e com falhas assinaláveis na formação e na preparação dos alunos para a vida activa? Perguntas como estas serão dissecadas nas próximas linhas, sem dó nem piedade.

Ministério da Educação
Na minha humilde opinião, os exames nacionais são feitos por pessoas que nunca saíram das suas secretárias, ou se saíram, era na altura em que pesavam menos 30kgs, de certeza. É preciso estar contextualizado com as problemáticas que o processo educativo apresenta, desde os planos curriculares às condicionantes de cada agrupamento escolar. Penso que os actuais planos curriculares são demasiado extensos e pouco interactivos, fazendo com que os professores debitem, debitem e debitem matéria. Muitos pontos da matéria nem interessam ao menino Jesus e só servem para encher o belo do chouriço. Sou apologista de planos mais curtos e objectivos, que dotem os alunos de ferramentas necessárias para o seu futuro. Por exemplo, porque raio precisava eu saber de primitivas e integrais numa área de finanças e de contabilidade? Depois vinham-me com aquela desculpa 'ahh, ajuda no raciocínio'. Para isso vou fazer Sudoku ou jogar xadrez.
Os planos curriculares deveriam estar articulados desde o 10º ano até ao final do ensino superior, coisa que não acontece. Os alunos são obrigados a aprender matérias que nunca serão necessárias nas suas actividades profissionais. Com isto, não estou a dizer que se deve deixar de leccionar Filosofia ou História. Antes pelo contrário,os nossos alunos devem ser dotados de conhecimento geral e de capacidades técnicas para resolver problemáticas relacionadas com a sua área de especialização. Os americanos têm uma cultura geral fraquíssima, mas por outro lado são muito bons nas questões de nível técnico, porque não perdem tempo com floreados. Reforço então esta minha ideia da revisão dos planos curriculares, tornando os conteúdos menos massivos e mais apelativos para os alunos, em todas as áreas disciplinas e áreas de especialização.

Pais
Os encarregados de educação não se podem eximir de responsabilidades no processo educativo dos seus filhos. Dá-me ideia que os filhos vão para a escola à deriva, pois os pais não se interessam a fundo pelas questões educativas, e delegam muitas vezes nos professores a função de educar e de ensinar os filhos. Está errado. Em casa educam-se os filhos e na escola ensinam-se conteúdos programáticos. Ao fim ao cabo, a profissão dum jovem dos 6 aos 22/23 anos é ser estudante e os pais devem alertar os seus filhos para este facto. Quando se fica aquém dos resultados, é fazer ver que existem consequências. E quando se é bom naquilo que se faz, é recompensar o esforço e a dedicação. A cultura de meritocracia que várias vezes apregoei em crónicas anteriores é fundamental para o sucesso escolar de todos nós. No meu caso pessoal, soube ver esse lado e tirei o melhor partido possível. Os meus pais sempre exigiram o máximo, e quando se está na faculdade, temos que perceber que o dinheiro das propinas não é nosso e que está ali muito suor pelo meio. Os pais não podem ficar à espera que os filhos façam as coisas sozinhos, por isso devem acompanhar de forma aberta e frontal o percurso lectivo dos filhos, exigindo resultados e responsabilidades. Basta de sensacionalismos e de clichés. Mãos à obra.

Alunos
Ora aqui está. Com que então Fernando Pessoa estava com Vasco da Gama quando este descobriu o caminho marítimo para a Índia? E que combatemos os espanhóis em Alves Barrota? Ou que Salazar foi o primeiro Rei de Portugal? Somos sim os reis nas respostas mais imaginativas. Existe uma evidente falta de preparação dos alunos para os testes, provas e exames que são sujeitos ao longo do seu percurso educativo. A falta de vocabulário é a principal culpada desta trapalhada, pois a interpretação dos enunciados é fundamental para se construir uma resposta decente. Os mais jovens têm aversão aos livros, jornais e revistas. Passam o tempo todos agarrados ao computador, a escrever koisas com 'k' sem mto sentido, tão a ver? Os pais, desde cedo, devem fomentar a leitura junto da pequenada, pois este processo ajuda ao desenvolvimento do raciocínio e da interpretação frásica. Sim, eu li os livros todos d'Uma Aventura'. Sim, eu li os Maias até ao fim. Sim, eu estou a ler o livro de 1000 páginas de um dos meus irmãos. A relação com os números e com a Matemática também deve ser privilegiada, com uma prática intensiva ao longo dos anos lectivos. 
Outro ponto interessante prende-se com a falta de cultura de responsabilidade. Os alunos têm tremendas dificuldades em organizar o seu estudo. Ser estudante e não saber estudar é como dar um tiro no pé ou levar um pontapé nas partes baixas. A organização do tempo e das tarefas deve ser complementada com actividades extra-curriculares, tais como o desporto, música, voluntariado, etc. Ajuda a crescer, criam-se laços interpessoais e é uma forma de descarregar o stress do dia a dia. Desta forma, os computadores e telemóveis agradecem o menor desgasto.
Há que assinalar casos positivos, de alunos que se interessam desde cedo pelas letras e pelos números, que estudam e obtêm resultados. Não se pode estar sempre a criticar e a mandar abaixo os mais jovens, pois a generalização acarreta muitos dissabores. Acredito que no futuro, os mais jovens se preocupem a fundo com estas questões aqui abordadas, pois a educação é um bem fundamental para o desenvolvimento do bem estar económico e social da nação.

Uma última palavra sobre os professores
É normal que existam inúmeros professores desempregados... não há lugar para todos! O que vamos fazer? Colocar quatro professores por sala? Se Portugal é um dos países da OCDE com a maior taxa de abandono escolar, é normal que existam menos alunos, logo a necessidade de professores é menor. Querem um desenho? Quando não encontramos trabalho na nossa área de formação, só há um caminho a seguir: partir para outra. E esta realidade dói a muitos. 
Há professores horríveis, maus, assim-assim, bons, muito bons e excepcionais. Tive o privilégio de ter conhecido docentes com tremendas qualidades ao longo destes anos, com uma alma inteiramente dedicada ao ensino, pois nos seus rostos estava presente uma sensação de satisfação e de dever cumprido. Basicamente, estavam a fazer aquilo que mais gostavam. Temos que saber respeitar os professores, pois a transmissão de conhecimentos é uma tarefa só ao alcance de alguns. E pelo meio, temos a sorte de encontrar professores que transmitem muito mais do que está estipulado no programa. Acabam por se tornar nossos amigos e a sua grande recompensa está nisso mesmo.

A música dos Pink Floyd paira na minha cabeça. Não me vou alongar mais, pois este tema causa varizes e prisão de ventre. Acredito num futuro melhor para a Educação em Portugal, mas isto sou eu, um gajo que sonha alto. E que não gosta de greves.

'Para aprender não basta só ouvir por fora, é necessário entender por dentro.' {Padre António Vieira}

Boas leituras,
GC

quinta-feira, 5 de julho de 2012

O Bom Orgulho


Desde já, peço desculpa aos mais fiéis seguidores do meu blogue por estes dias de interregno. Estive empenhado em desfrutar as minhas férias, mas ao mesmo tempo mergulhei de pés e cabeça num projecto que me cativou bastante. Este ano, decidi fazer parte da Comissão de Festas de São Pedro, em Pêro Pinheiro (através da Paróquia), e trabalho foi coisa que não faltou.

Fui contactado no início de Junho pelo Grande Ricardo Antunes, no sentido de reunirmos um conjunto de pessoas com vontade e com amor pela terra, para se realizar uma festa diferente das habituais. O que é certo é que fomos construindo algo sólido ao longo do mês e as ideias tornaram-se mais claras e evidentes.
Posso dizer que foi uma grande aventura, porque este projecto envolvia pessoas com quem nunca tinha contactado anteriormente. E este foi o aliciante para me agarrar ao projecto. Temos que saber comunicar, conhecer novas formas de pensar e de encarar a vida. Sair da zona de conforto é o elemento chave desta equação. Conheci pessoas interessantes e dei-me a conhecer.

Desde da montagem do palco, do restaurante/bar da comissão, da afixação de cartazes pela madrugada fora... do carinho das pessoas durante a festa e do olhar orgulhoso dos nossos familiares. Houve um esforço incansável da nossa parte para que tudo estivesse ao mais alto nível, pois apesar de alguns serem jovens, sentem a camisola e o seu peso como poucos. As figuras pitorescas do Padre, do Presidente deposto e do actual Presidente da Junta, do Ricardo Antunes ou até mesmo do rapaz do grelhador... são estes cromos que precisamos para ter a caderneta da nossa vida preenchida.
O cansaço, as dores, o cheiro a grelhados, as poucas horas de sono, a muita paciência para atender os clientes especiais... tudo foi ultrapassado pelo excelente espírito de grupo e pelo objectivo de proporcionar uma grande festa às pessoas de Pêro Pinheiro e aos visitantes. 
Sinto-me orgulhoso por ter representado da melhor forma a minha terra e por ter ao meu lado alguns dos melhores amigos. Sem eles, nada disto faria sentido. De certa forma, penso que cumpri a minha missão perante Pêro Pinheiro, pois já representei duas colectividades da terra, sempre com o máximo de paixão e dedicação. Faltava-me deixar uma marca na Festa de São Pedro. Penso que já posso riscar a minha 'bucket list', com a sensação de dever cumprido. Acrescentaram muito valor à minha vida e fizeram-me ver que apesar de todos os obstáculos, podemos ser felizes a fazer aquilo que gostamos, com quem gostamos.

Uma agradecimento final para os meus pais, em especial para a minha Mãe, para o meu Padrinho e também Irmão Luís e para o David e Nuno. Só eu sei o que senti naquela missa, quando me foi lida a Bênção. Pela primeira vez na minha vida, vi estampado nas suas caras o orgulho que sentem por mim. Não sei rezar, nunca frequentei a Igreja, mas os que estão ao meu lado são a minha fé. E ninguém me pode retirar isso.

Boas leituras,
GC