sexta-feira, 30 de março de 2012

A Educação dos nossos Jovens

{Cinema Paradiso, 1988}

Depois de um certo marasmo e de andar para aqui sem nada para fazer, já que iniciei hoje a minha pausa lectiva da Páscoa, decidi abordar um tema bastante em voga nos dias de hoje e que levanta os cabelos a muito boa gente: a Educação. Não me responsabilizo por palavras mais irónicas ou até incendiárias. Estava a brincar, é claro que assumo tudo o que escrevo neste espaço. Vamos a isso.

Os recentes acontecimentos em Lloret del Mar vieram despertar a atenção, mais uma vez, da imprensa, dos pais e dos psicólogos acerca da necessidade de enquadrar os nossos jovens numa educação mais rigorosa e disciplinada. A morte deste jovem em Espanha desencadeou uma série de alertas em relação às viagens de finalistas, mas principalmente, à educação que é incutida nos mais novos.
Pessoalmente, acho desnecessárias este tipo de viagens para o estrangeiro, já que em tempos de crise, os pais deveriam colocar a mão na sua consciência e serem racionais em termos dos gastos familiares. Portugal tem uma rede de pousadas da juventude, de hostels, de turismo de natureza, rural e até radical. Mas não. Vamos enviar os nossos filhos lá para fora, ao doce sabor do vento, para se embebedarem, fumarem charros, snifar cocaína e fornicar com 7, 9 ou até 12 raparigas/rapazes num espaço de uma semana.
Pessoalmente, só fui a uma viagem de finalistas na minha vida, no 9º ano. Lá fomos nós todos divertidos, para um campo de férias para os lados do Cadaval. E até foi porreiro. No 12º ano, estava mais preocupado em terminar o meu estágio curricular do que propriamente pensar em viagens e bebedeiras. E até hoje, continuo feliz com a minha vida.

Em relação à educação, eu tenho uma opinião bastante própria sobre este tema. Para mim, a educação dá se em casa e a formação nas escolas. Todos aqueles pais que pensam que os filhos devem ser educados pelos professores deveriam ser multados por estupidez e por falta de responsabilidade. Desde cedo, cá em casa, eu e os meus irmãos recebemos a educação adequada e necessária para enfrentar o mundo lá fora. Nunca precisámos de ir ao psicólogo nem a consultas de aconselhamento familiar, porque bastava cometer um erro, já tinha a minha mãe com a mão no ar para fazer uma suave e delicada aterragem na minha face. E só bastou apanhar da minha mãe uma vez, para perceber como me comportar. Também vi a minha mãe a aproximar a sua mão delicada junto da cara de um dos meus irmãos, e a partir daí, o respeito passou a fazer parte do menu diário.
O meu pai nunca me bateu, mas é bastante rígido e inflexível em certo tipo de situações, daí existir respeito e vontade de fazer bem.

Hoje em dia, as crianças e jovens manipulam os pais, fazem nos sofrer, chupam lhes o dinheiro, a paciência e capacidade de aplicar medidas correctivas. É por isso que a grande maioria dos jovens de hoje em dia é cobarde, ignorante presunçoso. Fazem com que os pais os vão buscar às discotecas, que lhes dêem dinheiro para álcool, tabaco e outros afins. Pedem Ipad's, Iphones e mais dinheiro ainda. E os pais, que não se estão para chatear, acedem a todos os pedidos dos meninos.
Eu nunca recebi prendas por passar de ano, pois os meus pais diziam, e ainda dizem, que ser estudante é o meu emprego e que eu tenho a obrigação de ser bom naquilo que faço. E assim foi. 
A responsabilização dos actos e das atitudes dos nossos filhos e a autonomia que lhes é conferida são valores que devem ser ensinados desde tenra idade. Sempre tive liberdade nas minhas acções, escolhas, nas minhas saídas à noite e nas minhas palavras, mas já sabia que toda a responsabilidade estaria do meu lado. E ainda está. E quando se falha, é preciso ser repreendido e assumir a nossa culpa, coisa que os meninos e meninas de hoje não sabem o que é.

A formação é tarefa das escolas, através dos planos curriculares, e representa uma peça - chave no desenvolvimento psicológico, emocional e até físico dos nossos jovens. Os professores devem estimular a aprendizagem e acompanhar os seus alunos ao longo do percurso lectivo, incutindo métodos de trabalho e de estudo rigorosos, eficientes e eficazes. Este factor aliado à educação que se recebe em casa são elementos preciosos para garantir a sustentabilidade do futuro dos nossos jovens. 
Os jovens devem perceber que as coisas não caem do céu, e que é preciso valorizar o muito esforço que alguns pais fazem para garantir que nada falta aos seus filhos. Mas também devem perceber que podem contribuir para uma sociedade melhor, revendo os seus comportamentos, aumentando a sua formação e participando no processo democrático, vulgo, eleições.

Acredito que estas últimas notícias tenham reaberto um espaço de debate na sociedade portuguesa, onde pais, filhos, escolas e Estado não se devem desresponsabilizar das suas funções básicas. Acredito que o futuro será melhor, pois conheço casos de sucesso, onde pais mais incutem os valores da responsabilidade, da verdade e do trabalho. O mérito escolar, e até mesmo extra-curricular (desporto, música, voluntariado...) devem ser valorizados, para que os nossos jovens aprendam esta cultura de rigor, que será importante para o seu futuro. 
Olho para os meus sobrinhos e vejo que o futuro está ali, e bem sei que os meus irmãos dão o máximo no sentido de lhes garantirem a melhor educação e formação. E a minha Mãe, que ao mesmo tempo é Avó babada, continua com os seus instintos afinados, pois corrige, ralha, protesta e chama a atenção, mas o seu amor é inegável, bem como a sua missão: transmitir os valores que referi lá atrás.

Depois destas palavras, acho melhor ir cortar o cabelo ao salão da minha Cunhada. Mas só porque tenho o cabelo grande e não gosto nada de andar despenteado com este vento (se bem que já tenho saudades dos calendários eróticos do meu barbeiro, alguns ainda de 1997).

'Nem todos podem tirar um curso superior. Mas todos podem ter respeito, alta escala de valores e as qualidades de espirito que são a verdadeira riqueza de qualquer pessoa.' {Alfred Montapert}

Boas leituras,
GC



segunda-feira, 26 de março de 2012

A Honestidade tem um Preço


Depois de um breve interregno nas minhas publicações, devido a questões académicas, estou de volta para escrever umas palavras ao sabor do vento e das temperaturas amenas que andam por estas paragens. E nada mais auspicioso do que falar em honestidade e frontalidade para começar a semana em grande. Ou não.

Ultimamente, tenho me deparado com um conjunto de situações que me deixaram incrédulo, estupefacto e ao mesmo tempo, estupidificado. Estão a ver aquele momento das vossas vidas em que vocês são sempre honestos, dão a mão ao amigo, são frontais na hora certa e não têm medo de dizer um 'Não'? Pois bem, parece me que a sociedade condena este tipo de pessoas, renegando-as e olhando-as de lado. Geralmente, uma pessoa honesta acaba sempre por ser prejudicada (para não dizer outra palavra menos bonita), porque quando estende a mão tem tendência a ficar logo sem o braço. E isto tem vindo a acontecer com alguma frequência na minha vida, fazendo me pensar da seguinte forma:

a) serei eu demasiado ingénuo?
b) deverei ser feio, porco, mau e sujo como a globalidade das pessoas, de maneira a não ser prejudicado?
c) as pessoas serão felizes vivendo na mentira, na falsidade e transparecendo uma imagem distorcida?
d) quais as perspectivas futuras?

Pois bem, estas perguntas surgiram na minha cabeça, sendo uma extensão do que se tem passado na minha vida. 
a) Admito que possa ter errado em algumas situações, e nesses casos, dou sempre o braço a torcer, assumindo as minhas responsabilidades. Ninguém nasce ensinado e as pessoas têm direito ao erro, porque esta é uma das formas estruturantes da personalidade de um indivíduo. Admito que não gosto de errar, e faço sempre as coisas de forma a evitar percalços, mas não fujo na hora de dar a cara. E é com grandes tombos que abrimos os olhos para a realidade, pois acredito de forma veemente que os erros são sinais que devem ser interpretados de forma séria. Sinais esses que nos podem levar a um novo rumo, a novas ideias ou simplesmente subir a um novo patamar, porque errar faz parte do processo evolutivo das pessoas e faz com que estas tenham momentos de introspecção, que originam as tomadas de decisão (tema este já abordado aqui no Sweet Dreams).

b) No que diz respeito à parte do feio, porco, mau e sujo, recuso me a enveredar por esse caminho, porque felizmente tive uma educação que me permite saber distinguir os dois lados da barricada, se bem que por vezes as fronteiras são bastante ténues. Prefiro continuar a ser honesto, verdadeiro, transparente e objectivo, porque isto me faz andar de consciência tranquila. Haverá algo melhor do que nos deitarmos à noite, mergulhar a cabeça na almofada e saber que temos a consciência tranquila?
Muitas vezes, as pessoas condenaram me por certas atitudes e decisões que tomei ao longo da minha vida, e admito que nem sempre foi fácil lidar com este tipo de situações.
Tenho tendência a tornar me numa pessoa arrogante e fria para quem não compreende ou respeita as minhas decisões, mas prefiro ser assim. Mesmo que venha a ser prejudicado. Só eu e a minha almofada é que sabem o que vai na minha mente.
Há que saber distinguir o bom do mau, o certo do errado, o justo do injusto, o verdadeiro ou falso, mas esta Ética da vida é subjectiva e está particularmente ligada à educação e à formação pessoal de cada um.
Neste capítulo, tenho sabido diferenciar as coisas, mas nem sempre foi fácil, nem nunca será. Não existem linhas de valor acrescentado (aqueles números de telefone tipo 707 200 300) que nos possam auxiliar nestes pormenores, só a experiência de vida nos pode elucidar sobre estes factos.

c) Relativamente a este ponto, penso que as pessoas são mesmo felizes vivendo na mentira e na falsidade. O conceito de 'felicidade' é subjectivo, mas tenho assistido a casos que me tiram do sério. Convenço me cada vez mais que as pessoas são estúpidas, parvas, ignorantes e presunçosas, falando de coisas que não sabem, condenando as pessoas sem conhecerem os factos e saindo de forma triunfal de cada argumentação. Se há coisa que valorizo na minha personalidade é a capacidade de ser melhor ouvinte do que orador. Gosto de ouvir as pessoas falar, porque é desta forma que traço o seu perfil psicológico. A maneira como articulam as frases, os pensamentos, os gestos e a postura corporal são tudo sinais que me auxiliam neste processo. E tenho encontrado várias formas de diarreia verbal, de falta de sentido de presença e de presunção.
As pessoas são falsas e desonestas, mas são felizes dessa forma. Já me convenci deste facto. Talvez porque a realidade seja nua e crua, dolorosa e impiedosa, mas prefiro aprender com os momentos difíceis e com os meus erros do que seguir por um caminho plano, enfeitado de pétalas e de rosas, mas que ao fim ao cabo, vai dar a um beco sem saída. Às vezes penso que a minha vida é uma corrida e que tenho de subir Cheleiros, a Serra de Sintra, a Sra da Graça ou a Torre, para provar a mim mesmo que consigo superar um obstáculo.
As pessoas são falsas, mentirosas, desonestas e sobretudo estúpidas porque não saem da sua zona de conforto e têm medo de arriscar, de serem fundamentalmente felizes. Porque a felicidade é um caminho cheio de silvas e de espinhos, mas que no final vale por todo o esforço, sangue, suor e lágrimas derramados. É um cliché. Talvez seja, mas eu estou me nas tintas para isso. Eu quero é que tu, caro leitor, desse lado, sejas feliz. A mentir ou a ser honesto, porque no futuro haverá sempre consequências para quem adopta posturas diferentes, consoante a sua Ética pessoal.

d) O meu último ponto prende se com o futuro. O futuro é como uma caixa de chocolates, nunca sabemos o que vamos encontrar lá dentro, fazendo uso das palavras do Forrest Gump (um dos filmes da minha vida). Da minha parte, poderão contar com o mesmo rapaz de sempre. Frontal, honesto e verdadeiro, disposto a ajudar quem realmente precisa de ajuda. Prefiro ouvir os meus amigos, as suas dores e as suas frustrações, pois é desta forma que ficamos a conhecer verdadeiramente quem temos do outro lado. Não compactuo com pessoas falsas, mentirosas e medíocres, porque o meu tempo é precioso e só o gasto com quem me parecer justo.
Irei ser pisado muitas vezes, devido a esta postura de honestidade. A honestidade tem um preço a pagar, e às vezes ficamos em dívida para connosco mesmos. Mas dar o corpo às balas é algo que fui aprendendo com o tempo, e talvez seja este facto que me tenha tornado na pessoa que sou hoje em dia. 
Saber dizer 'Não' é a palavra dos fortes, porque dizer 'Sim' apenas por conveniência e para agradar a terceiros será sempre a palavra dos fracos e dos inertes.

No fundo, são estas as minhas linhas gerais de pensamento, sem quaisquer rodeios. Cheguei à conclusão que nunca irei dar para político ou gestor, porque sou honesto demais e por recusar a adoptar certas posturas divergentes à minha personalidade. Também penso que muitas pessoas sabem quem eu sou, mas apenas poucas me conhecem verdadeiramente. E é a essas pessoas a quem dedico estas palavras, porque são elas que me confrontam com a realidade, que me ouvem e que acreditam naquilo que eu tenho para dar ao Mundo. A minha honestidade.

'Só as pessoas superficiais sabem do que são feitas'. {Oscar Wilde}

Boas leituras,
GC

quarta-feira, 21 de março de 2012

#6 - Ler, Pensar e Agir

 {Ben Harper}

"É uma falta de responsabilidade esperarmos que alguém faça as coisas por nós." {John Lennon}

segunda-feira, 19 de março de 2012

Dia do Pai

Voltando ao sabor das palavras, consegui arranjar um tempo no meio dos meus estudos Estatísticos para escrever esta crónica, que se debruça completamente ao acaso sobre o Dia do Pai, já que foi retirada de uma amostra aleatória independente, com distribuição aproximadamente Normal. E depois deste momento de insanidade estatística, dedico uns minutos ao meu Pai. 

Hoje, 19 de Março, celebra se o Dia do Pai, esse magnífico dia em que as marcas de relógios, perfumes, camisas e gravatas, livros e vinhos se aproveitam do capital dos filhos/filhas para facturar um pouco mais, nestes tempos cinzentos. Pessoalmente, não comprei nenhuma prenda ao meu Pai, pois ele já recebeu 6 ao longo da sua vida, mais propriamente os seus filhos, que por consequência, são meus irmãos. Mas falando mais a sério, nunca fui adepto destes dias e o máximo que fiz foi um postal desenhado à mão, na escola primária. Mesmo assim, este dia tem a sua importância no calendário, porque permite repensar a relação que possuímos com o nosso pai em vez de comprarmos uma garrafa de Palha Canas ou uma caneta Parker. 

No plano pessoal, o meu Pai é a pessoa que me tira mais do sério. Não sei se é da idade, se é pelo Belenenses estar na Segunda Divisão ou se foi o Sócrates. O meu Pai acorda me às 8h da manhã para eu fazer um Recibo Verde no Portal das Finanças, porque ele não sabe mexer no computador. O meu Pai obriga me a ver o e.mail dele 14 vezes ao dia. O meu Pai faz me perder a cabeça na altura das declarações de IRS, porque sou eu quem as submete junto das Finanças. O meu Pai é aquela pessoa que me obriga a plantar cebolas, alfaces, couves e milho a um Sábado de manhã, com aquele esplendoroso vento gélido das pradarias saloias. O meu Pai faz me espumar da boca quando me chama às 9h da manhã para cortar lenha ou simplesmente para montar uma vedação para que as suas galinhas não fujam para a Síria ou para o Seixal. Ou Montelavar. O meu Pai não come fritos nem laranjas, porque lhe faz mal à vesícula, mas antes de se deitar vai ao armário da cozinha à procura de bolachas. 
O meu Pai tem um sétimo filho, que é o comando da televisão, e não o deixa respirar. O som está sempre alto e a televisão sintonizada no Hollywood, Canal História, SporttV ou TCM (canal de filmes americanos sem legendas, mas mesmo sem saber falar inglês, o meu Pai vê todos os Westerns, só porque o John Wayne é um grande actor).

O meu Pai é o fã nº1 da Amália e repudia todos os novos estilos de música que surjam. Odeia os novos fadistas e defende que todas as bandas filarmónicas deviam tocar peças do Wagner, Bizet ou Rossini. O meu Pai, antes de ser daquele clube de Belém, é anti-benfiquista, para que possa ter tema de conversa com os seus amigos sportinguistas. O meu Pai não passa a placa que diz “Montelavar” por nada deste mundo. O meu Pai é Salazarista mas democrata e monárquico ao mesmo tempo. O meu Pai está farto que os espanhóis ganhem tudo no desporto, não gosta do Barcelona nem do Messi. 
O meu Pai nunca gostou que eu andasse no futebol, e pior ainda, que me tornasse treinador adjunto duma equipa que não é da minha terra. O meu Pai anda de carro em ponto morto e faz arranques em segunda. E nos cruzamentos mete se no meio da estrada para que lhe possam ceder passagem. O meu Pai é teimoso, casmurro e cabeça no ar. 
Etecetera, etecetera, etecetera... 

Depois destes pequenos defeitos, que ao fim ao cabo, qualquer Pai tem (sabiam que a ironia é a minha figura de estilo favorita?), prefiro mencionar duas ou três qualidades que o meu Pai tem, pois suplantam tudo o que enumerei anteriormente. O meu Pai é defensor convicto das suas causas, quer elas sejam políticas, musicais, desportivas ou simplesmente pessoais. O meu Pai trabalhou muito na vida para sustentar os oito membros da família, (fora os animais de estimação), enquanto a minha mãe ficava em casa a criar e a educar os filhos. E por fim, o que me deixa mais orgulhoso, é saber que esta terra onde vivo tem muito a dever ao meu Pai. 
Muitas pessoas não gostam do meu Pai, mas lamento, ele é convicto das suas ideias e quando veste uma camisola, defende-a até ao último segundo. E acima de tudo, é ele mesmo.

O meu Pai pode ter todos os defeitos do mundo, mas quando preciso do seu apoio, sei que o posso encontrar. Para os leitores, sei que alguns se vão rever nestas palavras. Outros nem tanto, por diversos motivos. Mas uma coisa é certa, Pai é Pai, e o seu traço ficará sempre vincado nas nossas vidas. 

Já escrevi que chegue, vou voltar às minhas distribuições estatísticas, estimadores e intervalos de confiança. Confiança essa que deveremos ter sempre nos momentos mais difíceis. 

Ao meu Pai, que nunca chegará a ler estas palavras porque não sabe utilizar um computador.

O respeito pelos pais só resiste enquanto os pais respeitem o interesse dos filhos.’ {Raúl Brandão} 

Boas leituras, 
GC

sexta-feira, 16 de março de 2012

#5 - Ler, Pensar e Agir

{Sean Connery}

"Os homens são todos iguais. É este o seu segredo. Apesar das mulheres serem todas diferentes. Se os homens fossem todos diferentes, as mulheres seriam felizes. E os homens odiar-se-iam, como as mulheres se odeiam. E seriam ainda mais infelizes que as mulheres, porque são menos espertos." {Miguel Esteves Cardoso}

segunda-feira, 12 de março de 2012

As Virtudes do Erro

Caros leitores, por imperativos de agenda, não poderei publicar as minhas habituais crónicas nestas duas próximas semanas. Continuarei a colocar as frases mais profundas da rubrica "Ler, Pensar e Agir", pois não requerem muita elaboração e introspecção. Assim, para matar alguma fome, deixo vos um excelente texto sobre as virtudes do erro, que não foi escrito por mim, mas que merece uma atenção profunda a cada palavra que é lida.
Em breve, voltarei ao fervor das minhas palavras, com a mesma frontalidade de sempre. Obrigado pela vossa compreensão e não deixem de visitar o Sweet Dreams, porque vocês são a razão desta aventura burlesca.

Boas leituras,
GC


"Nascia-se. Estudava-se. Entrava-se na universidade. Eles queriam ser engenheiros, advogados ou doutores, elas professoras, secretárias ou enfermeiras. Casava-se com alguém do sexo oposto. Os filhos jogavam à bola na rua. Comprava-se um carro com quatro rodas e adquiria-se um cão. Aguentava-se a família.

Havia a roupa da semana e do fim-de-semana. As compras eram feitas na mercearia do bairro. Os jornais liam-se apenas no papel. Havia só dois canais de TV. Ouvia-se Stones ou Beatles. Via-se Coppola ou Martin Scorcese. E era-se feliz para sempre. 
Estou a exagerar. Mas não há muitos anos o ideal de vida era esse. O mundo era mais ordenado. Havia menos escolhas. As decisões eram mais fáceis. Agora as fantasias de felicidade pulverizaram-se e passamos o tempo a imaginar que podemos ser o que quisermos, o que em vez de ser libertador pode causar ansiedade.

Casar. Não casar. Juntos. Separados. Coabitando. Ou convivendo maritalmente. Homem com mulher. Homem com homem. Mulher com mulher. Homem com mulheres. Com filhos biológicos. Adoptados. Através de inseminação artificial. Barriga de aluguer. 
Ou simplesmente não ter. Entrar para a faculdade, escolher entre centenas de cursos, Bioengenharia, Ecologia Aplicada, Podologia? Abrir um negócio, optar por partir ou por ficar, estudar ou trabalhar, aqui ou lá fora, enquanto os filhos se abandonam ao surf, ao chat, ao tweet, ao zapping, ao download ou ao streaming.

No hipermercado cada prateleira é um labirinto. Escolher um azeite é uma viagem, virgem, refinado ou puro, bom para o cérebro ou para a pele, enquanto os preservativos são de látex, plástico, de tripa de ovelha, às cores, bolinhas, temáticos, de todos os formatos e tamanhos, transparentes ou até extratransparentes.
A vida padronizada era menos frenética, mas mais segura. Era fácil acertar. Agora ficamos indecisos, ansiosos ou paralisados com tantas opções. Vivemos imersos no paradoxo da escolha, onde o excesso enfraquece a própria escolha. Temos medo de errar. As expectativas são tão inflacionadas, por causa das muitas possibilidades, que imaginamos que a escolha perfeita existe. 

Toda a gente quer ter a certeza que escolhe bem, somos educados para não errar, mas nesse movimento temos dificuldade em lidar com a inevitável frustração, porque não vamos conseguir tudo a que aspiramos. A solução não é pedir ao tempo que volte atrás. 
É perder o medo de errar. É tomar decisões. É perceber que as certezas absolutas não existem e saber conviver pacificamente com a dúvida. Nesse sentido o erro devia ser valorizado e não tratado de forma paternalista. Errar não é só humano, pode ser bacano. 

O que seria de nós sem ele? As utopias, por exemplo, só são possíveis sem esse receio de errar. Acreditamos nelas. Pomo-nos a caminho. Tentamos erguê-las. Sempre que o fazemos desiludimo-nos inevitavelmente, porque nunca vamos conseguir tudo o que idealizámos. Mas se não o ousássemos o mundo seria um lugar mais estéril."

Vitor Belanciano
Público 5-10-2011

sexta-feira, 9 de março de 2012

#4 - Ler, Pensar e Agir

 {Marlon Brando}

"O meu mundo não é como o dos outros, quero demais, exijo demais, há em mim uma sede de infinito, uma angústia constante que eu nem mesmo compreendo, pois estou longe de ser um pessimista; sou antes um exaltado, com uma alma intensa, violenta, atormentada, uma alma que se não sente bem onde está, que tem saudades... sei lá de quê!" {Florbela Espanca}

quinta-feira, 8 de março de 2012

As Mulheres da Minha Vida

 
Hoje, 8 de Março, celebra se o Dia Internacional da Mulher. Poderia ser mais um simples dia nas nossas vidas, mas a celebração desta data é bastante justa e honrada. 

No passado dia 10 de Fevereiro, escrevi uma crónica acerca da Mulher, intitulada ‘A Mulher Portuguesa no Século XXI’ (aconselho ler ou reler), e nesse espaço desenfreado de linhas expus os meus pontos de vista relacionados com o sexo oposto, pelo que esta publicação terá apenas um significado simbólico, face às comemorações em causa. 
Ontem, enquanto navegava pelas notícias, li que o chefe de uma mesquita em Barcelona aproveitava a oração de Sexta Feira para ensinar aos fiéis muçulmanos a melhor forma de corrigir os ‘comportamentos desviantes’ das mulheres. Em primeiro lugar, subiu me à cabeça a tremenda pobreza moral, ética, intelectual e humana que esta religião padece. Mas o tema de uma das próximas crónicas será relacionado com a Igreja, portanto, não me vou estender em demasia. E em segundo lugar, como me disse alguém próximo, não me venham pedir para ser compreensivo e tolerante com essa gente que reza de rabo para o ar, que tanto flagela e subverte os direitos das mulheres. 

Este é mais um pequeno exemplo que as mulheres podem encontrar sobre a discriminação contínua e sem precedentes a que assistimos em pleno Século XXI. Felizmente, e como já tinha escrito anteriormente, confio nas capacidades das mulheres para superarem todos os momentos difíceis que se apresentam na estrada da vida. 
Uma maior formação académica, conjugada com a emancipação total feminina, veio possibilitar à mulher alargar os seus horizontes e as suas perspectivas de vida. Ela é dona e senhora do seu destino. 

Devemos ter sempre em mente a luta feminina, que passa pela igualdade de direitos, por mais posições em cargos de decisão e por uma melhor remuneração ao final do mês, pois o profissionalismo e o desempenho da Mulher é tanto igual ou melhor do que o dos homens. Há que manter uma postura de coragem, irreverência, organização e de optimismo, que vem valorizar o papel da mulher na sociedade contemporânea, sobretudo no Ocidente. 

Não me vou prolongar muito mais, pois como referi, as minhas ideias essenciais sobre este tema já se encontram escritas, basta apenas navegar um pouco pelo Sweet Dreams. Quero apenas desejar um excelente Dia da Mulher para todas as seguidoras atentas das minhas palavras, esperando contar com a vossa atenção para mais publicações futuras. Muita confiança e auto – estima são os ingredientes necessários para o sucesso pessoal e laboral. 

Às mães dos meus sobrinhos, cunhada DR e irmã RC; à minha namorada JC, pela paciência e dedicação que tem por mim, porque nem sempre é fácil lidar com este mau feitio; à mulher mais corajosa que conheço, a minha Mãe. 

Boas leituras, 
GC

quarta-feira, 7 de março de 2012

Há Vida para Além do Vício

 {Whitney Houston, 1963 - 2012}

Continuando dentro da senda dos temas sensíveis, hoje no Sweet Dreams venho vos falar de um flagelo que é transversal a toda a sociedade e que nos é bastante familiar, de alguma forma: a Droga. Não sendo um especialista formado nesta área, irei basear as minhas opiniões e os meus pontos de vista nas experiências e nas vivências daqueles que já estiveram nas suas malhas. Vamos a isso, sem medos. 

Hoje em dia, vivemos num mundo altamente tecnológico, onde podemos encurtar distâncias entre países e pessoas, facilitando se todo o processo de comunicação. As pessoas baseiam a sua filosofia de vida no Hedonismo, que consiste na busca do máximo prazer e da satisfação pessoal, numa tentativa de elevar os índices de confiança e auto – estima. Estes factores que acabei de referir vieram contribuir de sobremaneira para a difusão do negócio da droga, mas não só. Os altos interesses, o dinheiro envolvido, a facilidade de produção e de compra e uma legislação fraca também são factores que não devem ser colocados de lado. Há dias, estava nas minhas actividades de zapping pela TvCabo, e apanhei no Discovery Channel um documentário sobre os efeitos das várias drogas no corpo humano. Os testes incidiam sobre a capacidade física, de reacção e raciocínio. E fiquei deveras impressionado com tudo aquilo, interrogando me como seria possível as pessoas entrarem naquela vida, dando me forças para construir esta crónica. 

A definição da palavra ‘Droga’ é bastante ampla, e por vezes difícil de interpretar, mas segundo as minhas pesquisas, droga é toda e qualquer substância, natural ou sintética, que introduzida no organismo modifica as suas funções, levando a pessoa em casos extremos a uma dependência química. Cocaína, heroína, LSD, marijuana, ecstasy, cogumelos e muitas mais. Sinceramente, não vejo grandes diferenças entre as drogas leves e as drogas pesadas, pois ambas causam dependência, que pode ser nefasta para o consumidor. Quando me perguntam se sou a favor da despenalização das ditas drogas leves, eu respondo: ‘mas tenho cara de Bloco de Esquerda? Claro que não!’. Algo vai mal neste país, ao existirem pessoas que pensam que as drogas devem ser despenalizadas. Os encargos sociais são elevadíssimos, sobretudo para o SNS e para as famílias que tanto sofrem com este flagelo. 
Sou contra a despenalização das drogas por vários motivos. Já referi os encargos sociais, mas também posso apontar os efeitos subvertidos que essa despenalização poderia ter para a população mais jovem, sempre vulnerável quando se fala de droga. 
O consumo de droga é tendencialmente prejudicial à saúde mas também ao desenvolvimento psicomotor e social dos mais jovens. Podemos todos entrar numa espiral sem fim, com o aumento dos comportamentos de risco, sobretudo ao nível sexual, mas sobretudo com a distorção dos objectivos de vida e de metas para o futuro, que vão ficando pelo caminho em detrimento do vício. 

A melhor forma de alertar os mais jovens para os perigos do consumo de droga passa por uma política de proximidade, junto das escolas, com palestras de esclarecimento ou com a introdução do tema nalguma disciplina. As campanhas de choque na comunicação social também são uma ferramenta ao dispor das entidades responsáveis (Instituto da Droga e da Toxicodependência), que infelizmente não tem sido utilizada tantas vezes como desejável. 
A educação que os jovens têm em casa é uma condição sine qua non para o futuro, que serve de base para se abordar este tema com a maior das naturalidades. Como devem saber, todos nós passamos uma certa fase nas nossas vidas em que nos entregamos aos prazeres da boémia, com álcool, tabaco, drogas e sexo sem fim. Tive a felicidade (sim, a felicidade) de passar por esta fase, aos 17 anos, que me fez abrir os olhos de uma maneira sem precedentes. Consegui parar para pensar e obviamente vi que o caminho que estava a tomar não era o mais correcto. O álcool em excesso, combinado com ‘substâncias mais leves’ tiveram os seus dias de glória, mas a racionalidade em prol do meu bem estar falou mais alto. Referi lá atrás a palavra ‘felicidade’ porque esta experiência que passei veio enriquecer a minha vida e servirá de exemplo para os meus amigos e para os meus filhos, que um dia espero vir a ter (não tantos como a minha Mãe teve, verdade seja dita!). 
É verdade, já andei metido neste mundo sombrio, mas não foi nada de grave, porque sempre soube distinguir a barreira do razoavelmente aceitável e do excesso, que me foi incutida em casa, como não poderia deixar de ser. 

Tal como na situação do aborto, reconheço que possam existir excepções ao uso das drogas. Se estas forem utilizadas no âmbito da Medicina, com o intuito de reduzir a dor ou de prolongar a qualidade de vida do doente, sou a favor do seu uso. Existe também a perspectiva que muitos medicamentos são drogas em si, devido ao grau de dependência que criam nas pessoas, mas esses fundamentos ultrapassam me, sendo que não me vou pronunciar acerca deles. 

Conheço casos de pessoas que tiveram uma relação próxima, muito próxima com a droga, sendo quase impossível estabelecer uma comparação com o meu caso, pois essas pessoas viveram situações N vezes piores do que a minha. Um desses casos é-me bastante próximo, pois foi vivido por um dos meus melhores amigos, que entrou nas drogas muito cedo, sendo que a família dele foi dizimada por este mal. Felizmente, caiu, bateu com a cabeça, levantou se e viu que havia todo um mundo lá fora para explorar. Hoje, é uma das minhas referências pessoais, mostrando ser um poço de determinação, irreverência e de coragem para enfrentar as barreiras da vida, tanto no nível pessoal como no nível laboral. 
Penso que todos nós conhecemos casos de pessoas que viveram experiências com as drogas, e espero que estejamos elucidados com os exemplos que os outros nos dão. 

Neste momento, sinto me bastante à vontade para falar sobre o tema da crónica, pois o passado e as experiências próprias e de terceiros vieram trazer mais conhecimento aos meus pontos de vista. Como já leram, sou contra a despenalização das drogas, quer elas sejam leves ou pesadas, e não acho justo existirem tratamentos com metadona subsidiados pelo Estado quando temos doentes com diabetes a comprar a insulina e os respectivos instrumentos de medição sem qualquer comparticipação. Por consequência, também sou contra a criação das salas de chuto. 
Como já disse, a formação sobre a temática da droga, conjugada com campanhas de sensibilização, são peças – chave para conter esta hemorragia que afecta a nossa sociedade. Obviamente que eu gostaria de ver a polícia e a Justiça a agirem de mãos dadas, mas meus caros, vivemos em Portugal, e ainda há muito caminho a desbravar nesse sentido. Acredito que poderia existir mais fiscalização por parte das polícias, mas os recursos são limitados. 
A responsabilidade de consumir drogas parte de cada um, e todas as consequências das decisões tomadas devem ser imputadas ao consumidor, mas a sociedade não deve negligenciar a situação, pois no dia de amanhã pode ser um vizinho, um amigo ou um familiar nosso a cair nas teias do vício.

As minhas palavras também são limitadas e estão a caminhar para o seu término. Resta me acrescentar que também possuo vícios, e eles passam pela sede de viver e pela vontade de construir o futuro. 
Mas agora mais a sério, a minha família, amigos, o futebol, os jantares intermináveis regados com bom vinho ou cerveja, a música de qualidade, o sexo e a vontade de aprender são os meus vícios, aqueles que realmente vale a pena perder a cabeça. Felizmente, há vida para além do vício.

O CD do Ben Harper está no fim e eu vou estudar, porque a minha vida não é isto. 

"O mal não está em ser tentado, está em ser vencido." {Padre António Vieira} 

Boas leituras, 
GC

segunda-feira, 5 de março de 2012

#3 - Ler, Pensar e Agir

{Sofia Lisboa e David Fonseca, Silence 4}

'Dê a todas as pessoas os seus ouvidos, mas a poucas a sua voz.' {William Shakespeare}

sábado, 3 de março de 2012

Aborto: sinal de uma Sociedade Liberal?

{Brad Pitt, The Tree of Life, 2011}

E aqui estou eu novamente, a abordar um tema bastante sensível que assombrou a sociedade portuguesa nos últimos anos. Venho falar da despenalização da interrupção voluntária da gravidez, vulgarmente denominada de ‘aborto’. Para elaborar esta crónica, tive que me pôr a ouvir um CD dos Radiohead, para que as ideias fluíssem com maior naturalidade. E aqui vou eu.

A abordagem ao tema do aborto tinha ficado decidida na semana passada, aquando da inauguração do ciclo de temas ‘quentes’ que me propus a dissecar. Mas ontem, li um artigo que veio dar mais força aos meus dedos e às minhas ideias. Dois investigadores defenderam no Journal of Medical Ethics a ideia do aborto pós – parto, argumentando que um feto e um recém – nascido são dois seres ‘moralmente equivalentes’, visto não possuírem consciência e apenas apresentarem potencial para se tornarem pessoas. Isto deixou me intrigado e logo um turbilhão de ideias começou a ecoar na minha mente. Como é sabido, houve dois referendos em Portugal sobre este tema. Em 1998 ganhou o Não, mas em 2007 a situação foi bem diferente, com o Sim a vencer com 59,25% dos votos, batendo os 40,75% do Não. Como é óbvio, por motivos de idade, não pude expressar o meu sentido de voto, mas se o referendo fosse efectuado este Domingo, eu saberia em qual das opções colocaria a cruz. Colocaria no ‘Não’. Convictamente, sem medos.

A lei actual permite que as mulheres realizem o aborto dentro das dez primeiras semanas de gravidez, em estabelecimento de saúde legalmente autorizado. Tudo bem, respeito a vitória do Sim, que tanto veio agradar aos Esquerdistas Liberais e desapontar a Direita e a Igreja. Mas o meu Não decorre dos princípios morais que defendo, e não de escolhas políticas. Penso que o ser humano está no Planeta Terra com uma missão bem definida. Viver e deixar algo ao Mundo, que passa em grande parte por gerar descendência. Não defendo o aborto por uma série de razões, que tenho vindo a explorar de uma forma racional. Se a mulher tem a responsabilidade e a liberdade de abortar, então também deveria ter a responsabilidade moral de tomar as devidas precauções aquando da relação sexual, nomeadamente do uso de contraceptivos. Se somos crescidos para umas coisas, então também o deveremos ser nestas situações.
Acredito que o maior número de abortos seja efectuado por uma franja populacional com menos qualificações literárias e com um menor volume de rendimentos. Dou novamente o peito às balas, pois não tenho os dados em concreto, e quem os tiver, agradecia que mos mostrassem. Esta situação pode ser facilmente revertida, com mais formação junto dos jovens, nas escolas básicas e secundárias. Esclarecer o que é a sexualidade, o que são os contraceptivos, quais as DST e que consequências acarreta uma gravidez indesejada. Penso que uma das formas de combater o aborto passa por aqui.

Outro ponto interessante e polémico. Porque haverei de pagar impostos que subsidiem o aborto legal enquanto há milhares de casais que tentam ter um filho e que recorrem a tratamentos de fertilidade, sem serem comparticipados pelo Estado? Já para não falar nos diabéticos, que têm de pagar valores astronómicos pelos seus medicamentos e respectiva insulina.
Como já devem ter percepcionado, sou a favor da vida e de todos os fundamentos que a apoiam. A aquela retórica libertina que se baseia no argumento ‘a barriga é minha e eu faço o que quiser com ela’ está ultrapassada e desgastada. Penso que ninguém tem a legitimidade de tirar uma vida humana, e esta, na minha opinião, é gerada a partir do momento em que o espermatozoide fecunda o óvulo. O estado de percepção e de consciência são fundamentais para a vida, claro que são, mas gostava de saber a opinião de Kant e de Descartes acerca deste tema. Infelizmente, eles não me poderão ajudar nesta crónica, pelo que irei avançar.

Sou a favor do aborto em condições excepcionais, tais como em situações de violação, perigo para a saúde física e mental da mãe ou malformação congénita do feto. Fora disto, tudo o resto me parece imprudente. Volto a repetir, se conseguimos tomar uma decisão que passa por abortar, então também conseguimos discernir e pensar que existem formas de evitar esta situação, que passam pela tomada das devidas precauções. Será o aborto um sinal de uma sociedade com valores liberais? Acredito que sim. Acaba por ser um dos expoentes máximos de uma sociedade de desresponsabilização, onde poucos querem assumir os actos e as atitudes que tomam.
A Ética entra no meio disto tudo de uma forma subtil, acabando por ser atropelada por todos, pois a noção de bem e de mal, certo ou errado, justo ou injusto, será sempre subjectiva e intrinsecamente ligada aos níveis de formação que as pessoas possuem.

Acredito ter despertado o vosso interesse por este tema, que será sempre uma farpa na nossa sociedade. Não sou um expert nesta área e nem virei a ser, e até posso ter cometido alguma gaffe, mas todas as minhas palavras aqui escritas foram ao encontro dos meus ideais e convicções, dos quais não tenho medo de demonstrar. Num Portugal massacrado demograficamente, com 24% da população acima dos 60 anos, acho contra procedente estarmos a falar de técnicas de interrupção da gravidez. Necessitamos de ter mais filhos. Não os temos porque andamos numa roda viva no dia a dia, e quando os temos, são um ou dois. O massivo investimento que é feito em cada filho é a principal razão de não querermos expandir as nossas famílias. O défice demográfico foi durante muitos anos equilibrado pelas vagas de imigração e pelos filhos que estes foram tendo em território nacional. Mas isto não vai durar para sempre e a situação está a conhecer um retrocesso.

A solução passa por mais e melhor formação dos nossos jovens ao nível da sexualidade. Pode parecer um cliché, mas não custa nada tentar. Defendo o direito à vida, pois se estamos aqui no Terceiro Calhau a Contar do Sol, será por alguma razão. Plantar uma árvore, escrever um livro e... ter um filho. Parece me bem. O CD dos Radiohead terminou, não deixando muito mais margem de manobra. Everything in its right place!

 “Se a vida não tem preço, nós comportamo-nos sempre como se alguma coisa ultrapassasse, em valor, a vida humana... Mas o quê?” {Antoine de Saint Exupéry}

Boas leituras,
GC

quinta-feira, 1 de março de 2012

#2 - Ler, Pensar e Agir


'A razão pela qual algumas pessoas acham tão difícil serem felizes é porque estão sempre a julgar o passado melhor do que foi, o presente pior do que é e o futuro melhor do que será' {Marcel Pagnol}