sexta-feira, 27 de abril de 2012

#10 - Ler, Pensar e Agir


 "A história ensina-nos que o homem não teria alcançado o possível se, muitas vezes, não tivesse tentado o impossível."

{Max Weber}

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Ainda sou do Tempo...

 {Calvin and Hobbes}

Na semana passada, acordei às 06h da manhã com uma ideia para esta crónica. E depois de ouvir vezes sem conta o mais recente álbum do José Cid, 'Quem tem Medo de Baladas', bateu-me uma lufada de nostalgia na cara. Não sei se foram os óculos deste cantor, se foram as letras das canções ou as melodias desenfreadas. Hoje decidi partilhar convosco uma crónica que nos remete para o passado, sobretudo para os tempos da infância. Vamos então explorar um pouco desses tempos áureos, onde não se ouvia falar do FMI, da crise e da Cristina Ferreira.

Há uns anos atrás, circulava um anúncio na televisão relativo a uma cadeia de supermercados, onde aparecia uma avozinha a dizer que no tempo dela é que era e que ainda era do tempo em que os ovos custavam 0,69€ a dúzia. Lembram-se? O preço não seria este, mas isso não interessa.
Eu ainda sou do tempo em que se brincava na rua até às tantas da tarde, para desespero da minha mãe, onde os joelhos, a cabeça e as pernas é que pagavam as facturas da nossa ousadia pueril. Ainda sou do tempo em que se fazia o Carnaval nas ruas, com balões de água, ovos, bombas de mau cheiro nas salas de aula e sprays com cores bastante sugestivas.
Ainda sou do tempo em que agarrava nos meus amigos e íamos explorar os trilhos de bicicleta nas redondezas. Sou do tempo das duas horas de almoço no básico, onde saíamos da escola para fazer longas caminhadas pela zona. Sou do tempo em que os pais davam chapadas nos filhos e os colocavam de castigo. Sou do tempo das fisgas e dos berlindes, que faziam as delícias dos mais novos. 

Sou do tempo em que se andava de sandálias na escola, o que me valeu um dos meus vários alcunhas, Moisés. Ainda hoje tento separar as águas, mas não consigo.
Sou do tempo em que a escola parava para ver o Dragon Ball. Sou do tempo do GameBoy e da Dreamcast. Sou do tempo em que o Benfica não ganhava nada e era patrocinado pela Telecel. Sou do tempo em que a minha Mãe me fazia gemadas para o lanche. Ainda sou do tempo do Tulicreme e dos Bollycaos a 100 escudos. Sou do tempo em que tinha 14 gatos, 5 cães, galinhas, coelhos, pombos e borregos. E dois papagaios.

Sou do tempo em que andava de skate deitado e raspava com a cara no alcatrão. Sou do tempo em que andava de bicicleta aos S's e depois batia com o queixo no chão. Sou do tempo em que ir a um centro comercial era a loucura total. Sou do tempo do Manuel Luís Goucha de bigode. Sou do tempo do Herman Enciclopédia. Sou do tempo em que o João Pinto marcava golos que se fartava. Sou do tempo em que se jogava à bola na estrada e as balizas eram feitas com duas pedras. Sou do tempo dos Tazos e das colecções de cromos. Sou do tempo das cartas Pokemon (se bem o que não falta para aí são pokemons...!), Magic e Uno. Sou do tempo dos Tamagotchi e dos relógios Flic-Flac.
Sou do tempo em que não havia brasileiros na Ericeira. Sou do tempo em que fazia teatros na escola. Sou do tempo em que os Silence4 ainda existiam. E os Ornatos Violeta. Sou do tempo em que o Kitt me vinha buscar no seu carro falante. Sou do tempo em que os nossos pais nos vestiam com roupas de circo.

Sou do tempo em que se pedia licença ao Pai para se levantar da mesa, depois da refeição. Sou do tempo em que os meus irmãos me torturavam. Sou do tempo em que havia 4 estações por ano. Sou do tempo das idas para a praia de Magoito numa Nissan Patrol, com 9 pessoas lá dentro. Sou do tempo em que o Mantorras tinha dois joelhos, bem como o Ronaldo. Sou do tempo dos Excesso, Sétimo Céu e dos Delfins. Sou do tempo do João Baião e do Macaco Adriano. Sou do tempo do Big Brother1 e do Marco. Sou do tempo em que tinha medo de trovoadas. Sou do tempo em que a família ia toda para o Algarve passar férias. Sou do tempo em que a Sónia Brazão era mesmo bombástica. Sou do tempo em que as novelas tinham qualidade. Sou do tempo em que o José Hermano Saraiva fazia programas de História na RTP2. Bolas, ele ainda faz. Sou do tempo em que sonhava ser arqueólogo, mas a contabilidade também não foge muito do conceito.
Sou deste tempo, daquele tempo que passou e do tempo que virá.

Esqueci-me, também sou do tempo em que a gasolina custava menos de 1€.
O José Cid já acabou de cantar, está na hora de ir embora!

'Ser senhor do seu tempo é ser senhor de si próprio.' {Voltaire}

Boas leituras,
GC


sexta-feira, 20 de abril de 2012

#9 - Ler, Pensar e Agir


"Necessitamos sempre de ambicionar alguma coisa que, alcançada, não nos torna sem ambição." 
 
{Carlos D. Andrade}

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Ensino Superior... ou Inferior?


Depois de alguma ponderação, decidi escolher o estado do ensino em Portugal, na sua generalidade, como tema desta crónica. Por norma, costuma ser um tema bastante parecido com o Cozido à Portuguesa, algo indigesto e pesado, com a tendência para a libertação de gases. Para tornar a coisa mais ligeira, vou ser o mais breve possível na minha exposição. Vamos a isso!

Há uns tempos atrás, estava a almoçar com a televisão sintonizada naquele programa matinal da TVI que é apresentado por duas pessoas estridentes, e o convidado da última parte (geralmente, nesta parte do programa fala-se de homicídios, violações, roubos, tudo aquilo que podemos encontrar no Correio da Manhã) era o bastonário da Ordem dos Advogados, Marinho Pinto. E o tema versava sobre a taxa de reprovação de alunos de Direito ao exame da Ordem (59% de chumbos), argumentando que as universidades estavam mais preocupadas com a 'mercantilização' do ensino do que propriamente com a qualidade do mesmo. E por mais estranho que pareça, concordei com o que o bastonário tinha acabado de dizer.
O ensino em Portugal não está bem... e não se recomenda. Salvo raras excepções, e ainda bem que elas existem. A começar no ensino primário e acabando no ensino superior, precisamos de uma profunda reforma que traga mais qualidade e competitividade às nossas escolas. Mas também precisamos que a mentalidade de muitos pais seja capaz de evoluir, no sentido de imprimir exigência e responsabilidade nos resultados escolares dos filhos. 

Vivemos numa era de facilitismos, onde as crianças começam a mexer no computador aos 7/8 anos, mas são incapazes de fazer uma conta de somar mais complexa ou de articular diversas palavras. As crianças e jovens passam o tempo livre agarrados ao computador e à televisão em vez de andarem na rua a rasparem com os joelhos no chão, de abrir o queixo a andar de bicicleta, de raspar a cara no alcatrão depois de cair do skate ou cair de cara estampada no estrume, coisa que me marcou para toda a vida. Adiante.
Será que os testes, as provas intercalares e os exames têm o grau de exigência necessário para avaliar as competências dos alunos? Ou será que o facilitismo existe para embelezar as estatísticas da OCDE? Na minha opinião, penso que o ensino em Portugal está mal estruturado, pois os professores deveriam ter mais autonomia e autoridade sobre os alunos, e os alunos também deveriam corresponder com mais trabalho e melhores resultados. As pessoas têm que perceber que a escola e a formação são essenciais para o desenvolvimento sustentável do futuro de cada um de nós, pois um país será tanto melhor quanto maior for a sua taxa de licenciados. Podem-me chamar de 'populista' depois destes argumentos, e bem sei que 35% dos jovens licenciados estão no desemprego. Mas um desempregado licenciado tem mais probabilidade de arranjar trabalho do que uma pessoa só com o ensino secundário. Já para não falar do nível de remunerações, que se acentua consoante o nível de formação.

Não podemos ter 30 cursos de Direito em Portugal, não podemos fazer advogados em 3 anos, não podemos formar arquitectos só porque é giro, não podemos tornar o ensino numa debandada sangrenta do capitalismo (agora parecia o Jerónimo de Sousa a falar, mas tirem o cavalinho da chuva). Há excesso de advogados, de arquitectos, de psicólogos, de sociólogos, de historiadores, de antropólogos, de economistas... e os nossos jovens na hora de escolherem o curso superior, vão completamente às cegas, passando a si mesmos um atestado antecipado para o desemprego. A escolha da área de especialização do 9º para o 10º ano e do 12º para o ensino superior é fundamental na vida dos jovens. É preciso perceber quais são os sectores da economia que absorvem mais trabalhadores qualificados, quais são as taxas de desemprego entre os mais jovens e que cursos são mais penalizados e tentar delinear as perspectivas futuras. Cada um tira o curso que quer, onde se sinta mais à vontade, e se é realmente aquilo que a pessoa gosta de fazer, não a posso condenar. Mas geralmente, o futuro fica como as pensões dos nossos contribuintes, congelado. Áreas mais técnicas, como as engenharias, contabilidade, gestão, biologia, medicina, etc, são por norma favoráveis aos recém-licenciados. Mas com a venda indiscriminada de cursos por tudo o que é lugar, o nome da universidade pode ter um peso decisivo na hora das empresas recrutarem.

No ISCTE-IUL, por exemplo, tem sido feito um esforço hercúleo para articular as empresas com a universidade, nos mais variados cursos. A realização de feiras de emprego e de palestras é importante para os jovens percepcionarem o mercado laboral, podendo sentir de uma forma mais pessoal o contacto realizado com os possíveis empregadores. São iniciativas como estas que podem contribuir para um novo olhar sobre o futuro, numa hora em que este nevoeiro milenar teima em não sair de Portugal.
Não vou mencionar pessoas ou gerações à rasca, porque o meu objectivo é chamar a atenção das pessoas para uma formação adequada ao longo do percurso escolar, onde devemos primar pelo rigor, exigência e responsabilidade de todos os intervenientes. Tive a felicidade de ter tido excelentes professores, alguns dos quais são actualmente meus amigos, porque sempre respeitei a profissão deles, que admiro bastante, e também pelo facto de terem aturado o meu mau feitio matinal. E ainda recebo mensagens de Natal e de aniversário de professores meus. É esta a relação que todos deveríamos ter com a escola, receber formação, mas acima de tudo, receber a amizade e o respeito de colegas e professores.

Não me vou estender muito mais, pois este tema é indigesto, como tinha dito lá em cima. Remato, dizendo que nunca devemos descurar a formação e que os nossos jovens devem ser melhor aconselhados na hora de escolher um curso superior. Ah, e que não nos devemos eximir de responsabilidades, pois só um ensino de exigência, de qualidade e que promova a meritocracia poderá tornar Portugal num país mais próspero e menos fatalista, como aqueles programas matinais da televisão.
Está na hora de sair do nevoeiro!

'Se deres um peixe a um homem faminto, vais alimentá-lo por um dia. Se o ensinares a pescar, vais alimentá-lo toda a vida.' {Lao-Tsé}

Boas leituras,
GC

sexta-feira, 13 de abril de 2012

O Lado Positivo da Vida


 {Manuel João Vieira, in Mundo Catita}

Depois de ter esmiuçado os meus 40 pequenos ódios de estimação na crónica anterior, chegou a hora de falar das 40 coisas que me fazem ver o lado positivo da vida. Nem tudo pode ser mau neste planeta, e se encontrarem novamente alguma semelhança com as vossas vidas, será uma mera e simples coincidência.

1 - Gosto da minha longa família
2 - Gosto dos meus sobrinhos e das suas traquinices
3 - Gosto dos meu amigos de longa data
4 - Gosto das noites quentes de Verão
5 - Gosto de cumprimentar pessoas que já não via há anos

6 - Gosto de cerveja (caso ainda não tenham reparado)
7 - Gosto de vinho
8 - Gosto dos jantares intermináveis com os amigos
9 - Gosto dos pratos da minha Mãe, a melhor cozinheira da Europa Ocidental
10 - Gosto de chocolate, nas suas diversas variedades

11 - Gosto da minha serra de Sintra
12 - Gosto de Mafra e das praias da Ericeira
13 - Gosto da luz e da dinâmica de Lisboa
14 - Gosto da energia e das pessoas da cidade do Porto
15 - Gosto de Portugal

16 - Gosto do Clint Eastwood
17 - Gosto de filmes épicos
18 - Gosto de U2
19 - Gosto de David Fonseca
20 - Gosto de música clássica (Wagner, Bizet, Beethoven, Tchaikovsky, Gershwin...)

21 - Gosto de pessoas inteligentes
22 - Gosto de pessoas bem humoradas
23 - Gosto de falar e conviver com pessoas mais velhas
24 - Gosto de observar as pessoas
25 - Gosto que os amigos me procurem para desabafar

26 - Gosto de BTT
27 - Gosto de ser Saloio (não no sentido pejorativo)
28 - Gosto de dormir
29 - Gosto de sair à noite com os melhores amigos
30 - Gosto de ter paz de espírito

31 - Gosto de correr
32 - Gosto de assumir responsabilidades e de alcançar objectivos
33 - Gosto de vitórias suadas
34 - Gosto de futebol e da sua componente psicológica
35 - Gosto do Alcainça Atlético Clube

36 - Gosto do Clube Atlético de Pêro Pinheiro
37 - Gosto do Sport Lisboa e Benfica
38 - Gosto de sexo
39 - Gosto de Pêro Pinheiro
40 - Gosto da minha namorada

Como podem ver, consegui pensar em 40 pequenos prazeres, que são indispensáveis para o meu bem estar diário. E para o vosso, espero eu. Admito que ainda faltam muitas coisas que poderia aqui colocar, mas isso deixo à vossa imaginação.
Felizmente, o meu lado positivo da vida supera o lado lunar que é invisível, e com o tempo vou procurando conhecer mais pequenos prazeres. Espero que se tenham revisto nalgum nestes pontos, nem que seja no nº6, 27, 37 e 38, que foram escolhidos de forma completamente aleatória.

Todo o prazer é um vício, porque buscar o prazer é o que todos fazem na vida, e o único vício negro é fazer o que toda a gente faz.’ {Fernando Pessoa}

Boas leituras,
GC

terça-feira, 10 de abril de 2012

Ódios de Estimação

 {Clint Eastwood}

Existem coisas que definitivamente me tiram do sério. Das mais simples às mais complexas, decidi elaborar uma lista com 40 pequenos ódios pessoais, que aterrorizam o meu dia a dia. Qualquer semelhança com a vossa realidade, caros leitores, será uma pura coincidência.

1 - Odeio acordar cedo
2 - Odeio melgas
3 - Odeio que o meu Pai me acorde para ir plantar vegetais ou fazer um Recibo Verde
4 - Odeio nódoas na roupa
5 - Odeio os programas sensacionalistas da TVI

6 - Odeio a falta de organização
7 - Odeio pessoas presunçosas
8 - Odeio pessoas que falem alto
9 - Odeio pessoas que não sabem dar um aperto de mão com convicção
10 - Odeio pessoas que utilizam camisas desapertadas até ao umbigo (bastante comum em bares e discos)

11 - Odeio que mexam nas minhas coisas sem pedir autorização
12 - Odeio vento
13 - Odeio a Catarina Furtado
14 - Odeio a Bárbara Guimarães
15 - Odeio pessoas que não têm sentido de Estado (não votam mas criticam tudo e todos)

16 - Odeio a falta de honestidade
17 - Odeio falar com pessoas das 08h às 10h da manhã
18 - Odeio que as pessoas fumem ao meu lado sem pedir licença
19 - Odeio quando estou a tomar banho e falta a água quente
20 - Odeio pessoas que se fazem de vítimas

21 - Odeio a ignorância
22 - Odeio que me chamem 'Samuel'
23 - Odeio ir atrás de 'mata - velhos' na estrada
24 - Odeio a falta de civismo na estrada
25 - Odeio o Barcelona e o principal clube da cidade do Porto

26 - Odeio 'chico - espertices'
27 - Odeio que me peçam esmola ('Não vê que eu tenho cara de estudante? Só tenho os passes comigo!')
28 - Odeio todo o tipo de filas e de bichas 
29 - Odeio praias com muitas pessoas
30 - Odeio a falta de respeito pelas pessoas mais velhas

31 - Odeio pessoas que não sabem onde fica Pêro Pinheiro
32 - Odeio pessoas bisbilhoteiras
33 - Odeio tunnings, mitras e gunas
34 - Odeio que as pessoas me toquem quando estão a falar comigo
35 - Odeio ressacas

36 - Odeio quando seguro a porta para uma pessoa passar e nem um 'obrigado' recebo
37 - Odeio pessoas pessimistas
38 - Odeio a falta de justiça
39 - Odeio usar camisas com gravata
40 - Odeio quando o Benfica perde

São estes os meus 40 ódios de estimação.
Não fiquem preocupados, pois as 40 qualidades/virtudes que enalteço estão a sair do forno e serão publicadas na Sexta Feira, 13 de Abril.

'O que pensas de ti próprio é muito mais importante do que o que os outros pensam de ti...' {Séneca}
 
Boas leituras,
GC


domingo, 8 de abril de 2012

#8 - Ler, Pensar e Agir



Se te quiserem convencer de que é impossível, diz-lhes que impossível é ficares calado, impossível é não teres voz. Temos direito a viver. Acreditamos nessa certeza com todas as forças do nosso corpo e, mais ainda, com todas as forças da nossa vontade. Viver é um verbo enorme, longo. Acreditamos em todo o seu tamanho, não prescindimos de um único passo do seu caminho.

Sabemos bem que é inútil resmungar contra o ecrã do telejornal. O vidro não responde. Por isso, temos outros planos. Temos voz, tantas vozes... temos rosto, tantos rostos. As ruas hão-de receber-nos, serão pequenas para nós. Sabemos formar marés, correntes. Sabemos também que nunca nos foi oferecido nada. Cada conquista foi ganha milímetro a milímetro. Antes de estar à vista de toda a gente, prática e concreta, era sempre impossível, mas viver é acreditar. Temos direito à esperança. Esta vida pertence-nos.

Havemos de repetir as vezes que forem necessárias: temos direito a viver. Nunca duvidámos de que somos muito maiores do que o nosso currículo, o nosso tempo não é um contrato a prazo, não há recibos verdes capazes de contabilizar aquilo que valemos.

{José Luís Peixoto, in Impossível é não Viver}

quinta-feira, 5 de abril de 2012

Uma Família (Quase) Moderna


Portugal atravessa um período de seca severa ou extrema, tal como lhe queiram chamar. E as minhas ideias para escrever algumas palavras estão como o país, algo secas, mirradas e frouxas. Mas depois de algum esforço, lá me consegui focalizar num tema. Com a aproximação da Páscoa, é normal que as famílias se juntem para pequenos convívios, regados com imenso vinho, mexilhão, marisco, doces e outros manjares. E isto impulsionou me a escrever algumas palavras sobre o sentido da família. Escrever sobre a família, olha que porreiro.

No meu caso particular, como já se devem ter apercebido através da leitura de algumas crónicas, a minha família não é propriamente pequena. Com uma irmã (que curiosamente completa hoje 39 anos) e cinco irmãos, tudo mais velho, podem ver que tive muito por onde sofrer ao longo dos anos. O facto de ser o filho mais novo acresce uma grande carga de responsabilidade e de pressão, porque se os irmãos mais velhos conseguiram terminar as suas licenciaturas, sair de casa e arranjar trabalho, então pressupõem se que eu terei de seguir o mesmo caminho. Não me estou a queixar de nada, porque ser o filho mais novo também tem benefícios. Pude sempre aprender com os exemplos de vida dos meus irmãos, com as suas vivências e com a troca de impressões com os seus amigos. Na altura das férias, por exemplo, lá ia eu para o Porto, porque tinha um irmão a estudar e a viver naquela zona. E foi benéfico nesse aspecto, porque me permitiu adquirir a minha primeira autonomia, a ter que me desenrascar e a conviver com pessoas novas e realidades diferentes.

Neste momento, os meus irmãos já têm a sua vida consolidada, ou pelo menos, para lá caminham. Os dois sobrinhos  que tenho (de irmãos diferentes) são fruto disso mesmo, da estabilidade que foi sendo construída ao longo destes anos. Uns ainda lutam por melhores condições de vida, conjugando três empregos, com contas da casa, do carro e do banco para pagar. Outros projectam ter filhos para breve ou simplesmente continuar como estão.
A diferença de idades que possuo para os meus irmãos (29, 34, 34, 36 e 39) é suficiente para perceber algumas coisas e aprender sobre a dureza da vida.
Já tive um irmão do outro lado do Mundo, numa missão de paz e outro que foi para as Américas. Já tive um irmão às portas da morte, mas que conseguiu superar a maior barreira da sua vida. Tenho um irmão que escreve livros como ninguém, mas não os editam porque não é famoso, nunca participou num reality show e não faz parte das futilidades do jet7 lusitano.
Os meus irmãos são licenciados, são bons naquilo que fazem e têm potencial para muito mais, basta quererem. No fundo, tenho razões que bastem para ter orgulho neles.

Mas sendo o último dos seis filhos a morar em casa, sinto que existe um 'Gap' entre mim e os demais. Acabaram o curso, tiveram logo carro nas mãos. Eu vou ter que terminar a licenciatura, arranjar um trabalho e comprar um carro com o meu próprio dinheiro. Tiveram ajuda para comprar casa. Eu vou ter que terminar a licenciatura, arranjar um trabalho, e se der para arrendar uma casa, arrendo. Estão a perceber a lógica da coisa? 
A conjectura económica actual veio alterar muita coisa no quotidiano de todos nós, e eu não posso ser excepção à regra. Os meus irmãos viveram no tempo das vacas gordas. Eu vivo no tempo das vacas anorécticas e das expectativas de futuro magras. A minha solução passa por trabalhar e lutar incessantemente pelos meus objectivos de vida, nem que para isso tenha de virar costas a muitas pessoas.

O que vem a seguir, entristece me profundamente. Apontam me o dedo por ser imaturo, inconsciente e menino da mamã. Posso até cometer alguns erros, mas de certeza que aprendo com eles. Só que essas pessoas esquecem se que estou à beira de fazer 22 anos, e não é por acaso que os meus melhores amigos saibam mais da minha vida do que os meus próprios pais e irmãos. Porque as atitudes e as posturas que cada um adopta ao longo dos tempos contam bastante para mim. E eu sou bastante duro e frio na hora de cortar com as minhas emoções ou palavras.
Isto vem reforçar a minha ideia de que muitos sabem quem eu sou, mas poucos me conhecem. Porque eu dou me a conhecer a quem me demonstre respeito e honestidade, coisa que não anda lá muito famosa.
Às vezes, a presunção e a arrogância pagam se caro...

Tenho as ferramentas na mão para construir o meu futuro e traçar o caminho que achar necessário seguir, e só terei que prestar contas a quem realmente entender. A altura de grandes decisões está a chegar e talvez muitos fiquem surpreendidos com o que aí vem. 
Um dia mais tarde, darão valor ao que eu construí. E quando esse dia chegar, talvez possamos comer mexilhão, marisco e beber vinho com a maior estupidez e descontracção natural possível.

Depois destas simples palavras, desejo a todos os leitores do Sweet Dreams uma excelente Páscoa, com muito calor humano. De referir ainda que ultrapassámos as 1000 visitas ao blogue. E ele só existe porque vocês merecem.

'Sempre considerei as acções dos homens como as melhores intérpretes dos seus pensamentos.' {John Locke}

Boas leituras,
GC

segunda-feira, 2 de abril de 2012

#7 - Ler, Pensar e Agir


'O que é pena é que neste areal da vida, onde cada um segue o seu caminho, não haja nem tolerância nem humildade para respeitar o norte que o vizinho escolheu.'

{Miguel Torga}