sexta-feira, 4 de maio de 2012

O que o Povo quer, sei eu...


Muito se tem falado esta semana sobre o desconto de 50% proporcionado pelo Pingo Doce em compras superiores a 100€, no 1º de Maio. Manobra publicitária? Falta de ética e de respeito pela situação económica dos portugueses? Dumping? Pois bem, tenho lido as mais variadas opiniões, desde os jornais aos artigos online, passando ainda pela televisão. Chegou a hora de manifestar o meu ponto de vista face a esta situação. Apenas esperei que alguma poeira assentasse e que os ventos ciclónicos fossem abrandando.

Achei genial a manobra de marketing levada a cabo pela Jerónimo Martins, e mais propriamente dita, pelo Pingo Doce. Num dia carregado de alto simbolismo, por ser feriado comemorativo do Dia do Trabalhador, a JM decide desafiar a nação com 50% de desconto em compras superiores a 100€. Os super e hipermercados do PD foram basicamente 'invadidos' por uma massa humana poucas vezes vista. Somente quando a selecção chega às meias finais de uma grande competição ou quando o meu Benfica é campeão nacional é que se vê tal amontoado de gente. No meu caso, só saí de casa nesse dia para ir dar treino, enquanto acompanhava o desenvolvimento da campanha pela internet e televisão.
Os telejornais abriram com a campanha do PD e estiveram 25 (!!) minutos seguidos a relatar os acontecimentos, os distúrbios, a balburdia e a felicidade de muitos consumidores com os carrinhos de compras cheios. E cada um podia encher o seu carrinho de compras com o que quisesse. É esta a beleza da coisa.

O que também foi belo de se ver foi a cara de enterro dos sindicalistas e dos partidos de esquerda, que tradicionalmente fazem deste feriado um dia de luta contra o grande capital. Foram abalroados por um caterpillar, por um comboio, por um tanque chamado PD. Foi um 15 a 0 sem espinhas. Muitos defendem que não se devia trabalhar no 1º de Maio. Certo, então fechávamos os hospitais, os aeroportos, os cinemas, as empresas de transportes, os cafés, entre tantas outras coisas. Eu cá mandava fechar a boca de muitos libertinos de cravo e foice na mão...
E ainda há o desplante de discutir este tema na Assembleia da República? Meus senhores, há entidades próprias para julgar esta campanha do PD, nomeadamente a Autoridade da Concorrência e a ASAE. Já não basta pagar-vos os exorbitantes salários de deputado, agora tenho que vos ouvir a discutir sobre uma campanha publicitária? Portugal não tem problemas mais graves para discutir sem ser os 50% de desconto?

Se ouve prática de 'dumping' (vender abaixo do preço de custo, ou seja, compro ao meu fornecedor por 10 e vendo ao meu cliente por 5), existem as ditas autoridades já referidas para averiguar a situação.
E mais: se a Galp, BP, Cepsa, Repsol, Shell, etc, avançassem com uma campanha deste género, nem que fosse só durante 12 horas, acham que ia ficar com o meu rabo pregado ao sofá da sala? Agora pensem.
A tipologia do consumidor que se deslocou ao PD no 1º de Maio não deve fugir muito destes traços: rendimento mensal entre os 485€ e os 1000€, ou desempregados, ou imigrantes ou reformados. E foi uma festa para todos. Encheram os carrinhos de compras como não faziam há muito, bem como as despensas. 

Tudo o resto é ruído.

As pessoas têm que perceber: Portugal está em crise, sempre esteve e há-de continuar a estar. E o que o Povo quer, sei eu... Descontos.

Uns choram... outros vendem lenços.

Boas leituras,
GC

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