sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

O Valor Intangível da Amizade

Com o passar dos anos, vamos reformulando a nossa carteira de amizades, tal como as perspectivas acerca da vida. Talvez por um imperativo moral, temporal ou meramente pessoal. Mas há coisas na amizade que são intangíveis, que não se podem materializar ou quantificar. E hoje é dia de fazer um elogio à amizade.

Tenho a sorte e o privilégio de conhecer os meus melhores amigos há mais de 15 anos. E sim, eu só tenho 21 anos. O facto de residir num meio mais pequeno e pacato possibilitou consolidar laços de confiança e momentos que a outra malta jovem da cidade tem problemas em atingir.
Desde os tempos áureos da escola primária até aos dias de hoje, onde somos bombardeados pela crescente responsabilidade que ganhamos com a idade, soube preservar o que há de mais importante numa amizade: a confiança.
Muitas vezes, somos assolados por perfeitas desilusões, quando nos tiram o tapete do chão, renunciando aos princípios básicos do respeito e da confiança que se deve ter por um amigo. A mentira e a traição preconizam as duas facadas mais dolorosas que se pode sofrer numa amizade. Infelizmente, por vezes cometemos estes erros de forma involuntária, mas a confiança é como uma garrafa à deriva num mar revoltoso, corre o risco de nunca mais regressar.
O tempo acaba por ser o melhor dos remédios, pois deixa amadurecer a personalidade e as ideias das pessoas. Um verdadeiro amigo é capaz de compreender isto e muito mais. Ele está lá para nos apoiar nas horas mais amargas, para nos dizer a verdade na cara, ser realista e um ouvinte disponível para os nossos desabafos.

Os amigos, na minha óptica, são aqueles que se sacrificam na sua nobre causa individual para dedicar um pouco do tempo disponível a ajudar quem realmente precisa. Mais do que pagar copos, dar boleias, ir a festas ou convidar para um jantar, um amigo deve ser sempre frontal e genuíno na forma como encara a amizade, emitindo a sua opinião transformada em conselho quando acha o momento pertinente. Prefiro que os meus verdadeiros amigos sejam realistas, pois assim já sei com o que posso contar.
Ao longo dos anos, fui me apercebendo que o valor da amizade está em pequenos gestos. Passa por telefonar a meio da noite, num estado perfeitamente embriagado, por um convite para comer caracóis, por uma ida ao futebol, por uma visita quando estamos doentes e ninguém se lembra de nós, entre tantas outras coisas. O verdadeiro valor da amizade está na confiança e no respeito que temos pelo nosso amigo, sabendo que nem sempre ele está disponível para nós, mas que certamente irá largar o que está a fazer para nos ir acudir, ou simplesmente, ouvir.

Com o passar dos anos, fui fazendo muitos e bons amigos, mas está para chegar o dia em que vou descobrir os verdadeiros. Posso ter sido fatalista nesta observação, mas realista. E nesse dia, vou perceber que a amizade é como uma flor ou como uma árvore, ao jeito de Antoine de Saint Exupéry. Regamos, podamos os ramos e mais tarde, recolhemos os devidos frutos. Uns mais amargos do que outros, mas os verdadeiros nunca perderão o seu sabor.
Num mundo recheado de mentiras, perdições e de mensagens icónicas ilusórias, a tendência para se verificar a veracidade do provérbio ‘diz me com quem andas e dir-te-ei quem és’ é cada vez maior. E o que me dá força é verificar que os meus amigos não precisam de falar comigo todos os dias para perceberem quando devem estar ao meu lado. E isso não se consegue de um dia para o outro... é resultado de todo um trabalho baseado em experiências de vida.
Já falhei com alguns amigos, mas o erro faz parte da faceta humana. Também já falharam comigo. E o dia em que metemos o passado às costas, será sempre o primeiro dia do resto das nossas vidas. Perdoar é a palavra dos fortes.

Não tendo muito mais para dizer, e indo de encontro ao título desta crónica, resta me acrescentar que a amizade é como um Activo Intangível, ao jeito da linguagem contabilística. Por vezes tem vida finita e gasta se com o tempo, acabando por perder o seu valor intrínseco. Mas a verdadeira amizade tem duração infinita, e deve ser sempre valorizada com o passar dos dias, meses e anos.

A amizade é inalienável. Um palavrão ao qual eu não me vou dar ao trabalho de explicar, mas que depois de o leitor perceber o seu significado, tenderá para me dar uma certa razão. Há quem desrespeite esta faceta da amizade, mas felizmente tenho conseguido manter os meus princípios. Que a amizade seja sempre a nossa flor, a nossa árvore, e que nunca deixe de dar frutos. Sem pieguices. A todos os meus verdadeiros amigos.

Boas leituras,
GC

Sem comentários:

Enviar um comentário