segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

A Insustentável Leveza de uma Relação

Em plena euforia proporcionada pelo Dia dos Namorados, surge este texto crítico por um mero acaso, tal como aqueles cometas que caem no deserto do Mojave. Ou não. Porque ultimamente me tenho deparado com situações megalómanas, anormais, bizarras, mas também de casos únicos e de louvar, neste mundo frenético das relações amorosas.

Contextualizando o leitor, muita coisa mudou na forma como as pessoas vivem as suas relações. Por relação, entenda se namoro, união de facto ou casamento. Há 40 anos atrás, no tempo dos meus pais, o namoro era inicialmente feito às escondidas, com troca de cartas e de olhares. Depois, o pobre rapaz tinha que ir pedir autorização ao pai da sua amada para lhe cortejar a mão. E se o pai aceitasse, lá namoravam os dois, um em cada ponta do sofá ou à janela. Havia o cinema, o teatro e os passeios como forma de lazer. A Simone, a Amália, o Festival da Canção e o Eusébio. Eventualmente, casavam jovens, tinham filhos e era assim o panorama familiar português, tal e qual vimos no Conta me como Foi, que passou recentemente na RTP. Divórcios nem pensar, eram olhados de lado por toda a sociedade, trucidada pelo Estado Novo e pela guerra além fronteiras.
Os meus pais vão fazer 40 anos de casados em breve e pertencem a esta geração que viveu um paradigma bastante específico da história de Portugal, pré-25 de Abril.

Os tempos evoluíram, e bastante. Hoje em dia, assistimos a uma liberalização das relações, que foi acelerada pela explosão das novas tecnologias. A internet, os telemóveis e até mesmo os transportes reduzem distâncias e aproximam pessoas, bens e capitais. Mas o grande capital de que vos quero falar chama se ‘relação’, da forma nua e crua como eu a vejo nos nossos dias.
Mencionando sobretudo a minha geração, tenho vindo a assistir a uma transformação acutilante na forma como os mais jovens se relacionam. Começam a namorar mais cedo e descobrem que afinal o sexo não é assim um bicho de sete cabeças, salvo seja. E a coisa que mais me surpreende, é a monogamia e a duração das relações. Jovens com 19, 20, 21 anos a namorarem há 2, 3, 4 anos. Isto demonstra que os jovens procuram estabilidade emocional nas suas vidas, o que é um aspecto bastante positivo, contradizendo as más línguas que tanto gostam de bater nestas gerações, fomentando imagens depreciativas de abuso de álcool, drogas e sexo. Generalização, outro defeito mirabolante do nosso pequeno Portugal.
Há também aqueles casos em que os jovens preferem curtir o cenário, sem compromissos, aproveitando a onda da Morangada. Um biscate aqui, um biscate ali. Desde que se sintam realizados, por mim, tudo bem.

No meu caso específico, embarquei numa relação consolidada, e vai fazer para 4 anos que namoro. E parece que foi ontem. Mas é uma relação diferente daquelas que observo. Não sei se é por fazer anos no mesmo dia que a minha namorada, se é por eu ser do Benfica ou se é algo paranormal.
Custa me ver relações onde uma das peças é manipulada e monopolizada pela outra, onde existe desconfiança, controlo, asfixia emocional, possíveis traições e absorção por inteiro da vida pessoal de uma das partes. Andar com o/a polícia atrás é feio. E isso assusta me. Isso e dar passos maiores do que a perna, embarcados na ânsia e na ilusão que o mar de rosas será para todo o sempre. Esquecem se que nesse mar, as rosas também têm picos e fazem sangrar.
Felizmente, não ando com o polícia atrás e já me piquei nas rosas, ao jeito da expressão ‘toma lá que já aprendeste’.

Vejo que realmente sou um rapaz de sorte, porque se há coisa que prezo na minha vida, é a liberdade. E ainda hoje sou dono e senhor da minha liberdade. De poder ir sair com os meus amigos, de estar no futebol, de estudar tranquilamente, e acima de tudo, de poder ser eu mesmo, sem constrangimentos. Quando uma parte anula a outra, a relação deixa de ser um trabalho de equipa para passar a ser um monólogo, dirigido por uma pessoa autocrática.
Uma relação deve se basear, a meu ver, no trabalho de equipa entre o casal, na comunicação entre ambos e, acima de qualquer outra coisa, no respeito pela vontade individual das pessoas.
A confiança entre as partes e o respeito mútuo pelos objectivos de cada um deve ser relevado para primeiro plano. E a liberdade é a consequência natural dos factores que mencionei há três segundos atrás. A liberdade vem de mão dada com responsabilidade, pois se somos capacitados de ter o nosso espaço, também temos a capacidade de assumir os nossos actos e palavras.
Por muito diferentes que as pessoas sejam, a vontade e o coração falam mais alto. E é nas diferenças que as pessoas se completam.

Fundamentalmente, sou apologista da confiança mútua, do espaço que cada indivíduo deve ter para se concretizar pessoalmente e da vontade de partilhar todos os momentos desta vida passageira cá no planeta Terra. Também defendo que a aposta no factor ‘espaço/tempo’ é essencial para o bem estar de uma relação, onde cada pessoa se possa sentir bem consigo mesma, sem algemas, trelas, pulseiras electrónicas e outros dispositivos móveis.
Conheço casos diametralmente opostos, mas os casos positivos ultrapassam os negativos, e tenho aprendido bastante com as pessoas mais velhas e que aplicam a minha filosofia em relação às relações, face a redundância.

Terminando daqui a breves instantes, digo vos que o dia 14 de Fevereiro, para mim, é um dia como qualquer outro que consta no nosso calendário Gregoriano, que por acaso este ano se apresenta com 366 dias. Não é somente neste dia que se deve demonstrar o verdadeiro amor (esse palavrão inolvidável), com um jantar fora, com um relógio da Swatch ou uma ida para o Classic Motel ou para aquele Motel para os lados de Rio de Mouro. É dia após dia, com pequenos gestos, que vamos criando a base de uma relação sólida.

Miguel Esteves Cardoso disse uma vez que o Amor era Fodido... mas eu sou mais daqueles que diz: ‘amo a liberdade, e dou liberdade às coisas que eu amo... se um dia voltarem, é porque são minhas. Se não voltarem, é porque nunca as tive’.
Despeço me com amizade, na esperança de que não gastem o stock nacional de preservativos na noite de 14 de Fevereiro (para os solteiros/solteiras, este texto pode parecer cliché, mas um dia mais tarde irão compreendê-lo na sua mais profunda essência).

Boas leituras,
GC

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