terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

O Sabor da Derrota

Ao longo da minha juventude, fui confrontado com várias situações menos felizes, que culminaram em derrotas. Derrotas morais, derrotas desportivas e derrotas pessoais. Mas será a derrota uma coisa inteiramente cinzenta?

A derrota faz parte da vida e tem uma ligação bastante forte com a personalidade das pessoas. Mas cá para mim, a grande maioria dos portugueses não sabe perder. A derrota transforma se num monstro abominável, que se traduz em violência física e psicológica, em depressão ou em abandono da causa que defendemos. Saber perder é um grande passo para a formação da personalidade, sobretudo dos mais jovens. Lidar com a derrota desde cedo é uma das maneiras fiáveis para tornar as nossas crianças e jovens mais aptos para a tremenda luta do dia a dia. Ultrapassar o sentimento de frustração, de incapacidade e até de revolta é um choque duro para qualquer pessoa, mas transmite uma base de conhecimento para o futuro. Desta forma, os mais novos poderão encarar a sua vida num outro prisma, com mais ponderação e vontade de fazer bem. Mais e melhor.

Com as derrotas, podemos conhecer nos melhor. Quando somos confrontados com um desfecho negativo, a nossa verdadeira personalidade vem ao de cima, e a maneira como encaramos as particularidades da derrota são um traço intrínseco da nossa faceta humana. No meu caso, graças à prática desportiva e ao facto de estar ligado ao desporto, lido com a derrota desde cedo na minha vida. Perder no último minuto, ser derrotado injustamente à vista de todos ou saber reconhecer que o adversário foi melhor faz parte deste processo complexo. E estes pormenores são transpostos para a vida mundana das pessoas, ou pelo menos, deveriam ser. Muitas vezes, somos derrotados no dia a dia, no nosso emprego, com a saúde de alguém próximo, num acidente, na escola ou noutros momentos menos felizes.

Mas a capacidade de encaixe sai reforçada após cada desaire, pois a derrota é a forma mais pura de revelar as debilidades e as falhas dos nossos projectos. E com a vontade redobrada, pois só assim faz sentido, deveremos rectificar e aperfeiçoar todos os detalhes relevantes que possam contribuir para o sucesso na vida das pessoas.
Infelizmente, os Portugueses não querem ou não sabem como enfrentar estas situações. Preferem esconder se na sombra, baixar os braços e enterrar a cabeça na areia. Depois vem o discurso da vitimização, da depressão e do ódio. E o que sobra é um par de pulsos cortados e uma vida sem linhas orientadoras.
Ninguém gosta de derrotas. E espero que ninguém venha a gostar. Mas se as vitórias são saborosas, é porque devem muito aos momentos menos felizes, de aprendizagem, que as derrotas proporcionam a cada um de nós.

E quanto ao sabor em si mesmo, a derrota não sabe a bacalhau, nem a limão ou a xarope para a tosse. O seu verdadeiro sabor está naquilo que fazemos perante si. E quanto maior for a inércia, pior será o sabor desta palavra que está tão presente nas nossas vidas.
Porque a angústia e a frustração de hoje são a força de fazer mais e melhor amanhã.

Boas leituras, 
GC

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