quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Tourada... tradição ou aberração?


E aqui estou eu de volta às lides do meu blogue, depois de um período de afastamento muito bem justificado. Andei por fora, a aproveitar o melhor que este país tem para oferecer (Sol, praia, as noites) e deixei o computador descansar por uns dias. Férias são férias e há que saber desfrutar todos os momentos! Nada mais explosivo do que o tema desta crónica, para regressar aos velhos tempos de discussão. CORRIDAS DE TOUROS. Tradição, violação dos direitos dos animais, festa ou aberração? Tudo isto e muito mais, já de seguida.

Compreendo perfeitamente a complexidade deste tema, que desperta ódios e paixões um pouco pelo nosso Portugal. Devido a esse facto, tentarei ser o mais realista possível nas minhas palavras. 
Sou a favor das corridas de touros. Desde criança que gosto assistir aos espectáculos e sempre me impressionou a destreza dos cavaleiros e dos forcados. Penso que o gostar ou não gostar de tourada depende muito da nossa educação e do contexto familiar/social em que estamos inseridos. Os meus pais e alguns irmãos gostam de touros, e desde cedo fui habituado a ver touradas na televisão. Também fui habituado a ver a minha mãe a matar galinhas e coelhos da nossa criação sem dó e piedade, o que talvez tenha contribuído para uma certa imunidade em relação ao sangue dos animais e a todas aquelas cenas rocambolescas (galinhas a caminhar sem cabeça, por exemplo).
A tourada é efectivamente uma tradição lusitana, que está presente na nossa cultura desde o século XVIII. Gosto do nosso Portugal de uma maneira bastante particular, como só os meus amigos mais chegados conhecem, e talvez por isso alinhe nesta tradição, respeitando as pessoas desse meio.
Foi assim a minha educação, aprender a gostar de Portugal, das suas tradições, dos seus lugares e das suas gentes. Mas uma pessoa que tenha nascido num contexto completamente diferente do meu, pode ter uma opinião divergente. As ideologias políticas, as convivências, a formação, aspectos familiares, entre outros, moldam a visão de cada um de nós. Felizmente, conheço pessoas com uma opinião contrária à minha, e que têm a capacidade de me confrontar com os seus argumentos. Digo 'felizmente' porque vivemos numa Democracia, onde devemos respeitar a visão de cada um.

Se as touradas não existissem, o touro bravo há muito que não estaria entre nós, porque a sua finalidade é essa mesma: ser toureado. É devido à dedicação dos ganadeiros e de todos os envolvidos na causa taurina que podemos apreciar a beleza e a destreza deste magnífico animal. O touro, na sua essência, vive feliz, porque desde que nasce até ao momento em que vai para a arena anda ao ar livre, em contacto com o campo e é tratado por pessoal qualificado e experiente (veterinários, campinos, tratadores...). O touro depois de ser lidado, é na maior parte dos casos, tratado para depois voltar aos campos. Sempre melhor do que as pobres galinhas, vacas e porcos, que estão confinados num espaço ínfimo para depois entrarem na cadeia de consumo. Também posso mencionar o impacto económico das touradas, que geram milhões de euros de retorno para todos os agentes económicos envolvidos. Basta ver o crescente número de espectadores que vai aos recintos, com um aumento significativo de jovens e de público feminino interessados pela tauromaquia.
Em Portugal, não existem touros de morte (legalmente), ao contrário de Espanha.
Por exemplo, sabiam que nas Filipinas, por altura da Páscoa, se realizam crucificações para recrear a caminhada de Cristo? E que em Espanha há pessoas que chicoteiam as costas em procissões? Eu também não acho muita piada, mas faz parte da Cultura do país, tal como a tourada em Portugal.

No que diz respeito aos grupos anti-tourada e dos direitos dos animais, respeito os seus pontos de vista e penso que desempenham um papel importante na nossa sociedade. Trabalham em prol de uma causa e é importante salientar esse facto. Conheço pessoas que o fazem e que admiro pela tenacidade e destreza que demonstram.
Admito que o touro possa sofrer no momento em que está a ser lidado, basta inclusivamente olhar profundamente nos seus olhos, ninguém o pode negar, nem mesmo os aficionados.
Compreendo perfeitamente que me queiram espetar uma faca no meu coração rude, mas para os mais distraídos: desde que me lembro, tenho animais. Cães, gatos, galinhas, coelhos, papagaios, patos periquitos, borregos... e sempre fui habituado a respeitá-los. Alguns animais ficaram na memória, pois deixaram uma marca inegável na minha vida. E repudio completamente aqueles que maltratam e abandonam os animais sob os mais estupidificantes argumentos. 
Deveria existir uma legislação mais consistente, que abordasse esta questão das corridas de touros, tal como o mau trato e abandono de animais, para que todos pudessem chegar a um consenso. Estas palavras podem parecer utópicas, mas representam a minha opinião.
Relativamente à transmissão de touradas na televisão, também sou a favor. Partindo do princípio que a tourada é uma tradição portuguesa, deve-se lhe dar a devida atenção, tal como se dá ao Fado, Canto Alentejano, Festas regionais, património edificado e imaterial, etc. Se não gostamos de tourada, pegamos no comando e mudamos para outro canal, que é o que eu faço quando está a dar novela na SIC e TVI.

Penso que este será sempre um tema nebuloso e capaz de gerar uma eterna controvérsia na sociedade portuguesa. Tentei expor os meus pontos de vista acerca das corridas de touros da forma mais correcta e simplista, para que ninguém me possa apontar o dedo por fanatismo e facciosismo.
Para mim, a tourada, a par do Fado, é o património cultural mais vincado das nossas raízes lusitanas. Patriota e defensor da nossa cultura, defendo o papel do touro e das gentes ligadas ao meio. Já o velho Eça descrevia as touradas e as vicissitudes inerentes, n'Os Maias.
Para tantos outros, a tourada não será mais do que uma mera atrocidade e afronta aos direitos dos animais, em pleno século XXI.

No fundo, tal como referi anteriormente, a opinião acerca da tourada é bastante influenciada pela educação, vivências e ideologias sociais/políticas que cada um de nós adopta ao longa da vida. Acima de tudo, há que saber respeitar os pontos de vista e discutir o tema dentro dos parâmetros normais. Há quem seja vegetariano, há quem seja a favor das drogas leves, do aborto e do casamento de homossexuais... e eu prefiro touradas, talvez por ser do signo Touro. Para escolher um lado, há que conhecer os dois.
Assim me despeço deste tema delicado, na expectativa que compreendam a minha posição, da mesma maneira que eu irei compreender a opinião de cada um.

Respeita-te e outros te respeitarão. {Confúcio}

Boas leituras,
GC

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