segunda-feira, 19 de março de 2012

Dia do Pai

Voltando ao sabor das palavras, consegui arranjar um tempo no meio dos meus estudos Estatísticos para escrever esta crónica, que se debruça completamente ao acaso sobre o Dia do Pai, já que foi retirada de uma amostra aleatória independente, com distribuição aproximadamente Normal. E depois deste momento de insanidade estatística, dedico uns minutos ao meu Pai. 

Hoje, 19 de Março, celebra se o Dia do Pai, esse magnífico dia em que as marcas de relógios, perfumes, camisas e gravatas, livros e vinhos se aproveitam do capital dos filhos/filhas para facturar um pouco mais, nestes tempos cinzentos. Pessoalmente, não comprei nenhuma prenda ao meu Pai, pois ele já recebeu 6 ao longo da sua vida, mais propriamente os seus filhos, que por consequência, são meus irmãos. Mas falando mais a sério, nunca fui adepto destes dias e o máximo que fiz foi um postal desenhado à mão, na escola primária. Mesmo assim, este dia tem a sua importância no calendário, porque permite repensar a relação que possuímos com o nosso pai em vez de comprarmos uma garrafa de Palha Canas ou uma caneta Parker. 

No plano pessoal, o meu Pai é a pessoa que me tira mais do sério. Não sei se é da idade, se é pelo Belenenses estar na Segunda Divisão ou se foi o Sócrates. O meu Pai acorda me às 8h da manhã para eu fazer um Recibo Verde no Portal das Finanças, porque ele não sabe mexer no computador. O meu Pai obriga me a ver o e.mail dele 14 vezes ao dia. O meu Pai faz me perder a cabeça na altura das declarações de IRS, porque sou eu quem as submete junto das Finanças. O meu Pai é aquela pessoa que me obriga a plantar cebolas, alfaces, couves e milho a um Sábado de manhã, com aquele esplendoroso vento gélido das pradarias saloias. O meu Pai faz me espumar da boca quando me chama às 9h da manhã para cortar lenha ou simplesmente para montar uma vedação para que as suas galinhas não fujam para a Síria ou para o Seixal. Ou Montelavar. O meu Pai não come fritos nem laranjas, porque lhe faz mal à vesícula, mas antes de se deitar vai ao armário da cozinha à procura de bolachas. 
O meu Pai tem um sétimo filho, que é o comando da televisão, e não o deixa respirar. O som está sempre alto e a televisão sintonizada no Hollywood, Canal História, SporttV ou TCM (canal de filmes americanos sem legendas, mas mesmo sem saber falar inglês, o meu Pai vê todos os Westerns, só porque o John Wayne é um grande actor).

O meu Pai é o fã nº1 da Amália e repudia todos os novos estilos de música que surjam. Odeia os novos fadistas e defende que todas as bandas filarmónicas deviam tocar peças do Wagner, Bizet ou Rossini. O meu Pai, antes de ser daquele clube de Belém, é anti-benfiquista, para que possa ter tema de conversa com os seus amigos sportinguistas. O meu Pai não passa a placa que diz “Montelavar” por nada deste mundo. O meu Pai é Salazarista mas democrata e monárquico ao mesmo tempo. O meu Pai está farto que os espanhóis ganhem tudo no desporto, não gosta do Barcelona nem do Messi. 
O meu Pai nunca gostou que eu andasse no futebol, e pior ainda, que me tornasse treinador adjunto duma equipa que não é da minha terra. O meu Pai anda de carro em ponto morto e faz arranques em segunda. E nos cruzamentos mete se no meio da estrada para que lhe possam ceder passagem. O meu Pai é teimoso, casmurro e cabeça no ar. 
Etecetera, etecetera, etecetera... 

Depois destes pequenos defeitos, que ao fim ao cabo, qualquer Pai tem (sabiam que a ironia é a minha figura de estilo favorita?), prefiro mencionar duas ou três qualidades que o meu Pai tem, pois suplantam tudo o que enumerei anteriormente. O meu Pai é defensor convicto das suas causas, quer elas sejam políticas, musicais, desportivas ou simplesmente pessoais. O meu Pai trabalhou muito na vida para sustentar os oito membros da família, (fora os animais de estimação), enquanto a minha mãe ficava em casa a criar e a educar os filhos. E por fim, o que me deixa mais orgulhoso, é saber que esta terra onde vivo tem muito a dever ao meu Pai. 
Muitas pessoas não gostam do meu Pai, mas lamento, ele é convicto das suas ideias e quando veste uma camisola, defende-a até ao último segundo. E acima de tudo, é ele mesmo.

O meu Pai pode ter todos os defeitos do mundo, mas quando preciso do seu apoio, sei que o posso encontrar. Para os leitores, sei que alguns se vão rever nestas palavras. Outros nem tanto, por diversos motivos. Mas uma coisa é certa, Pai é Pai, e o seu traço ficará sempre vincado nas nossas vidas. 

Já escrevi que chegue, vou voltar às minhas distribuições estatísticas, estimadores e intervalos de confiança. Confiança essa que deveremos ter sempre nos momentos mais difíceis. 

Ao meu Pai, que nunca chegará a ler estas palavras porque não sabe utilizar um computador.

O respeito pelos pais só resiste enquanto os pais respeitem o interesse dos filhos.’ {Raúl Brandão} 

Boas leituras, 
GC

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