quinta-feira, 5 de abril de 2012

Uma Família (Quase) Moderna


Portugal atravessa um período de seca severa ou extrema, tal como lhe queiram chamar. E as minhas ideias para escrever algumas palavras estão como o país, algo secas, mirradas e frouxas. Mas depois de algum esforço, lá me consegui focalizar num tema. Com a aproximação da Páscoa, é normal que as famílias se juntem para pequenos convívios, regados com imenso vinho, mexilhão, marisco, doces e outros manjares. E isto impulsionou me a escrever algumas palavras sobre o sentido da família. Escrever sobre a família, olha que porreiro.

No meu caso particular, como já se devem ter apercebido através da leitura de algumas crónicas, a minha família não é propriamente pequena. Com uma irmã (que curiosamente completa hoje 39 anos) e cinco irmãos, tudo mais velho, podem ver que tive muito por onde sofrer ao longo dos anos. O facto de ser o filho mais novo acresce uma grande carga de responsabilidade e de pressão, porque se os irmãos mais velhos conseguiram terminar as suas licenciaturas, sair de casa e arranjar trabalho, então pressupõem se que eu terei de seguir o mesmo caminho. Não me estou a queixar de nada, porque ser o filho mais novo também tem benefícios. Pude sempre aprender com os exemplos de vida dos meus irmãos, com as suas vivências e com a troca de impressões com os seus amigos. Na altura das férias, por exemplo, lá ia eu para o Porto, porque tinha um irmão a estudar e a viver naquela zona. E foi benéfico nesse aspecto, porque me permitiu adquirir a minha primeira autonomia, a ter que me desenrascar e a conviver com pessoas novas e realidades diferentes.

Neste momento, os meus irmãos já têm a sua vida consolidada, ou pelo menos, para lá caminham. Os dois sobrinhos  que tenho (de irmãos diferentes) são fruto disso mesmo, da estabilidade que foi sendo construída ao longo destes anos. Uns ainda lutam por melhores condições de vida, conjugando três empregos, com contas da casa, do carro e do banco para pagar. Outros projectam ter filhos para breve ou simplesmente continuar como estão.
A diferença de idades que possuo para os meus irmãos (29, 34, 34, 36 e 39) é suficiente para perceber algumas coisas e aprender sobre a dureza da vida.
Já tive um irmão do outro lado do Mundo, numa missão de paz e outro que foi para as Américas. Já tive um irmão às portas da morte, mas que conseguiu superar a maior barreira da sua vida. Tenho um irmão que escreve livros como ninguém, mas não os editam porque não é famoso, nunca participou num reality show e não faz parte das futilidades do jet7 lusitano.
Os meus irmãos são licenciados, são bons naquilo que fazem e têm potencial para muito mais, basta quererem. No fundo, tenho razões que bastem para ter orgulho neles.

Mas sendo o último dos seis filhos a morar em casa, sinto que existe um 'Gap' entre mim e os demais. Acabaram o curso, tiveram logo carro nas mãos. Eu vou ter que terminar a licenciatura, arranjar um trabalho e comprar um carro com o meu próprio dinheiro. Tiveram ajuda para comprar casa. Eu vou ter que terminar a licenciatura, arranjar um trabalho, e se der para arrendar uma casa, arrendo. Estão a perceber a lógica da coisa? 
A conjectura económica actual veio alterar muita coisa no quotidiano de todos nós, e eu não posso ser excepção à regra. Os meus irmãos viveram no tempo das vacas gordas. Eu vivo no tempo das vacas anorécticas e das expectativas de futuro magras. A minha solução passa por trabalhar e lutar incessantemente pelos meus objectivos de vida, nem que para isso tenha de virar costas a muitas pessoas.

O que vem a seguir, entristece me profundamente. Apontam me o dedo por ser imaturo, inconsciente e menino da mamã. Posso até cometer alguns erros, mas de certeza que aprendo com eles. Só que essas pessoas esquecem se que estou à beira de fazer 22 anos, e não é por acaso que os meus melhores amigos saibam mais da minha vida do que os meus próprios pais e irmãos. Porque as atitudes e as posturas que cada um adopta ao longo dos tempos contam bastante para mim. E eu sou bastante duro e frio na hora de cortar com as minhas emoções ou palavras.
Isto vem reforçar a minha ideia de que muitos sabem quem eu sou, mas poucos me conhecem. Porque eu dou me a conhecer a quem me demonstre respeito e honestidade, coisa que não anda lá muito famosa.
Às vezes, a presunção e a arrogância pagam se caro...

Tenho as ferramentas na mão para construir o meu futuro e traçar o caminho que achar necessário seguir, e só terei que prestar contas a quem realmente entender. A altura de grandes decisões está a chegar e talvez muitos fiquem surpreendidos com o que aí vem. 
Um dia mais tarde, darão valor ao que eu construí. E quando esse dia chegar, talvez possamos comer mexilhão, marisco e beber vinho com a maior estupidez e descontracção natural possível.

Depois destas simples palavras, desejo a todos os leitores do Sweet Dreams uma excelente Páscoa, com muito calor humano. De referir ainda que ultrapassámos as 1000 visitas ao blogue. E ele só existe porque vocês merecem.

'Sempre considerei as acções dos homens como as melhores intérpretes dos seus pensamentos.' {John Locke}

Boas leituras,
GC

3 comentários:

  1. Boa Páscoa para ti também Gustav :)
    Tenho sido leitora assidua e acho que tens aqui um "trabalho" muito bom.
    Por vezes não concordo com algumas coisas que dizes mas respeito, cada um tem as suas opiniões e este é o TEU blog, como tal são para ser respeitadas e não para que sejam atiradas balas!

    Bem, uma santa páscoa para ti e para toda a familia que nunca pensei que fosse tão vasta lol

    Beijinhos
    Ana Luisa

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    1. Ana!
      Muito obrigado pelas palavras. É sempre bom ter feedback por parte das pessoas! Bem sei que nem toda a gente concorda com os meus pontos de vista, mas desde que os refutem de forma saudável, já fico contente!

      Algumas pessoas 'atiram balas', mas já estou precavido com o colete de protecção :)
      Boa Páscoa para ti e espero continuar a contar com as tuas leituras!

      Um beijinho,
      GC

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  2. Gustavo,

    A familia também são os amigos que ganhamos ao longo dos anos.
    E tu fazes parte da minha, e tenho muito orgulho em ti.
    Quanto mais lutares, mais forte serás!

    PV

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