segunda-feira, 23 de abril de 2012

Ainda sou do Tempo...

 {Calvin and Hobbes}

Na semana passada, acordei às 06h da manhã com uma ideia para esta crónica. E depois de ouvir vezes sem conta o mais recente álbum do José Cid, 'Quem tem Medo de Baladas', bateu-me uma lufada de nostalgia na cara. Não sei se foram os óculos deste cantor, se foram as letras das canções ou as melodias desenfreadas. Hoje decidi partilhar convosco uma crónica que nos remete para o passado, sobretudo para os tempos da infância. Vamos então explorar um pouco desses tempos áureos, onde não se ouvia falar do FMI, da crise e da Cristina Ferreira.

Há uns anos atrás, circulava um anúncio na televisão relativo a uma cadeia de supermercados, onde aparecia uma avozinha a dizer que no tempo dela é que era e que ainda era do tempo em que os ovos custavam 0,69€ a dúzia. Lembram-se? O preço não seria este, mas isso não interessa.
Eu ainda sou do tempo em que se brincava na rua até às tantas da tarde, para desespero da minha mãe, onde os joelhos, a cabeça e as pernas é que pagavam as facturas da nossa ousadia pueril. Ainda sou do tempo em que se fazia o Carnaval nas ruas, com balões de água, ovos, bombas de mau cheiro nas salas de aula e sprays com cores bastante sugestivas.
Ainda sou do tempo em que agarrava nos meus amigos e íamos explorar os trilhos de bicicleta nas redondezas. Sou do tempo das duas horas de almoço no básico, onde saíamos da escola para fazer longas caminhadas pela zona. Sou do tempo em que os pais davam chapadas nos filhos e os colocavam de castigo. Sou do tempo das fisgas e dos berlindes, que faziam as delícias dos mais novos. 

Sou do tempo em que se andava de sandálias na escola, o que me valeu um dos meus vários alcunhas, Moisés. Ainda hoje tento separar as águas, mas não consigo.
Sou do tempo em que a escola parava para ver o Dragon Ball. Sou do tempo do GameBoy e da Dreamcast. Sou do tempo em que o Benfica não ganhava nada e era patrocinado pela Telecel. Sou do tempo em que a minha Mãe me fazia gemadas para o lanche. Ainda sou do tempo do Tulicreme e dos Bollycaos a 100 escudos. Sou do tempo em que tinha 14 gatos, 5 cães, galinhas, coelhos, pombos e borregos. E dois papagaios.

Sou do tempo em que andava de skate deitado e raspava com a cara no alcatrão. Sou do tempo em que andava de bicicleta aos S's e depois batia com o queixo no chão. Sou do tempo em que ir a um centro comercial era a loucura total. Sou do tempo do Manuel Luís Goucha de bigode. Sou do tempo do Herman Enciclopédia. Sou do tempo em que o João Pinto marcava golos que se fartava. Sou do tempo em que se jogava à bola na estrada e as balizas eram feitas com duas pedras. Sou do tempo dos Tazos e das colecções de cromos. Sou do tempo das cartas Pokemon (se bem o que não falta para aí são pokemons...!), Magic e Uno. Sou do tempo dos Tamagotchi e dos relógios Flic-Flac.
Sou do tempo em que não havia brasileiros na Ericeira. Sou do tempo em que fazia teatros na escola. Sou do tempo em que os Silence4 ainda existiam. E os Ornatos Violeta. Sou do tempo em que o Kitt me vinha buscar no seu carro falante. Sou do tempo em que os nossos pais nos vestiam com roupas de circo.

Sou do tempo em que se pedia licença ao Pai para se levantar da mesa, depois da refeição. Sou do tempo em que os meus irmãos me torturavam. Sou do tempo em que havia 4 estações por ano. Sou do tempo das idas para a praia de Magoito numa Nissan Patrol, com 9 pessoas lá dentro. Sou do tempo em que o Mantorras tinha dois joelhos, bem como o Ronaldo. Sou do tempo dos Excesso, Sétimo Céu e dos Delfins. Sou do tempo do João Baião e do Macaco Adriano. Sou do tempo do Big Brother1 e do Marco. Sou do tempo em que tinha medo de trovoadas. Sou do tempo em que a família ia toda para o Algarve passar férias. Sou do tempo em que a Sónia Brazão era mesmo bombástica. Sou do tempo em que as novelas tinham qualidade. Sou do tempo em que o José Hermano Saraiva fazia programas de História na RTP2. Bolas, ele ainda faz. Sou do tempo em que sonhava ser arqueólogo, mas a contabilidade também não foge muito do conceito.
Sou deste tempo, daquele tempo que passou e do tempo que virá.

Esqueci-me, também sou do tempo em que a gasolina custava menos de 1€.
O José Cid já acabou de cantar, está na hora de ir embora!

'Ser senhor do seu tempo é ser senhor de si próprio.' {Voltaire}

Boas leituras,
GC


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