Dois anos antes de eu nascer, a
freguesia de Pêro Pinheiro já tinha sido constituída, fruto de uma grande
ambição coletiva, que se traduziu numa luta suada, penosa, mas que no final
teve o seu reconhecimento merecido.
Cresci nesta terra, onde fiz amigos para a vida, onde
vivi grandes emoções e desilusões, onde sobretudo aprendi a respeitar os outros
e a mim mesmo. No fundo, cresci com Pêro Pinheiro a meu lado e o meu sangue a
esta terra pertence.
Naturalmente, a nossa freguesia sofreu
grandes alterações nos 25 anos que se passaram entretanto desde a sua criação. Houve
um grande investimento em infraestruturas básicas para a população, no sentido
de garantir a utilidade pública e o apoio necessário às atividades económicas,
sociais e culturais. Mas a nossa História não se resume a estes factos.
Pêro Pinheiro é a Capital do Mármore, sendo esta a sua
principal marca de referência. A nossa identidade está espalhada pelas ruas de
Lisboa, nos conventos e palácios de séculos passados, em lugares tão distantes
como os Estados Unidos ou a Alemanha. Em cada bloco de pedra há uma história
para contar, mas são as nossas pessoas que têm o dom de criar algo tão diferente
e valorizado pelo país e mundo fora. O grande património da nossa freguesia não
são esses blocos retirados das entranhas da terra nem as infraestruturas
construídas: são as pessoas.
Como todos sabemos, Portugal atravessa
uma grave situação económico-financeira, que gerou um impacto profundo na
indústria da transformação dos mármores e granitos. Cada empresa que fecha
representa uma farpa no coração de todos nós. O flagelo do desemprego e da
discriminação social cresceu de forma galopante no nosso país, e a freguesia de
Pêro Pinheiro não é exceção. Mas temos que ver para além dos problemas. A
verdadeira solução para reverter as carências originadas pela crise está na
união entre as pessoas e as coletividades da freguesia. Quer seja através do
desporto, da música, da igreja, da solidariedade social, basta dar o primeiro
passo para que muitos possam impulsionar as suas vidas.
O grande problema dos nossos fregueses
ainda reside na inércia e na incapacidade de saírem da sua zona de conforto.
Temos que pensar ‘out of the box’ (fora
da caixinha), sair da nossa bolha e fazer algo de útil pela comunidade. Não
devemos perguntar ‘o que Pêro Pinheiro pode fazer por nós’, mas sim, ‘o que nós
podemos fazer por Pêro Pinheiro’. Nos meus 22 anos de vida, já representei duas
coletividades da freguesia e participei noutras iniciativas locais. E ainda
espero fazer mais e melhor. Posso dizer que acrescentei um grande valor à minha
vida, pois conheci novas realidades dentro da minha própria freguesia, mas o
mais importante foi ouvir as pessoas e as suas histórias. Aprendi sobretudo a
respeitar os mais velhos e a valorizar o esforço individual de cada um.
Os jovens como eu devem perceber que
há todo um mundo cá fora para ser descoberto, a começar pela nossa freguesia. A
iniciativa não deve ser exclusivamente tomada pelos mais novos, mas também
pelos pais ou encarregados de educação. As coletividades podem e devem captar
este capital humano, para que a nossa Freguesia e vila se possa revitalizar. Só
desta forma é que podemos criar relações sólidas e benéficas entre todos os
intervenientes.
Ser jovem em Pêro Pinheiro é uma
pequena batalha diária. As incertezas em relação ao futuro são muitas,
sobretudo se estivermos a falar em perspetivas de emprego. Face à instabilidade
sentida, a nossa Junta de Freguesia deve assumir um papel proactivo e tentar
ajudar os mais novos a encontrarem um caminho certo, aproximando-os um pouco mais
das suas expectativas e ambições. A chave para garantirmos a sustentabilidade
económica e social da nossa freguesia está na formação (escolar, entenda-se) e
na vontade de investir no nosso tecido empresarial. Aliando o capital humano à
vontade e à irreverência, penso que os jovens de Pêro Pinheiro poderão fazer
algo de significativo pela nossa Vila. Mas os jovens também não se podem
esquecer que são parte integrante da solução, pelo que devem exercer de forma
plena o seu direito de voto quando são chamados às urnas. O apelo à mudança
deve ser feito com uma caneta e um boletim de voto e não com uma pedra de
calçada na mão.
Hoje em dia, sinto um enorme orgulho por ser parte
integrante da nossa Freguesia, pois levo comigo todas as pessoas e todos os
lugares de Pêro Pinheiro. Quando me perguntam ‘de onde és?’, nunca respondo
‘Lisboa’ ou ‘Sintra’. Digo simplesmente ‘Pêro Pinheiro’. Não devemos sentir
vergonha de o dizer, pois há 25 anos atrás houve um conjunto de pessoas que
lutaram incessantemente para que a sua localidade aparecesse no Bilhete de
Identidade, na carta de condução, nas certidões de nascimento dos seus filhos e
netos, simplesmente como ‘Pêro Pinheiro’. A essas pessoas, devemos todo o
legado que existe na nossa Freguesia. E como jovem, sinto o dever de respeitar
esse legado e tenho a ambição de fazê-lo crescer.
Se valeu a pena termos chegado aqui? 'Tudo vale a pena quando a alma não é pequena'... e é nesta alma das
pessoas de Pêro Pinheiro que está o segredo para a preservação do património edificado
e imaterial. A nossa alma é também a força motriz para a construção de um
futuro sustentável para todos os jovens e fregueses. Ainda há um longo caminho
a percorrer, mas juntos seremos mais fortes. Que venham mais 25!
GC